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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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Nova edição do Mês Internacional da Fotografia, em maio, expõe crise do setor

Fora de foco

Tina Modotti/Divulgação
Retrato que estará na mostra de Tina Modotti, durante o Mês Internacional da Fotografia, em SP


EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

O Mês Internacional da Fotografia, que começa oficialmente em maio em São Paulo, chega à sua 6ª edição expondo os reflexos de uma série de crises. Sem patrocínio estatal e com minguados recursos da iniciativa privada e pouco envolvimento por parte dos responsáveis pela produção e difusão da fotografia no país, o evento deste ano deixou de ter uma curadoria e até mesmo um tema que interligue as 29 mostras agendadas em 21 espaços.
Realizado pelo Nafoto (Núcleo dos Amigos da Fotografia), o Mês está sob a coordenação do fotógrafo Fausto Chermont e do pesquisador Rubens Fernandes Júnior. Sem recursos, os realizadores conseguiram manter a edição deste ano basicamente negociando as agendas de exposições anteriormente acertadas pelas instituições para que elas coincidissem com o período do evento. Em raros casos, indicaram trabalhos para serem expostos. "Não estamos na situação de selecionar. Precisamos antes aglutinar pessoas e idéias. Quem quiser e puder participar, o que significa investir recursos próprios, será bem-vindo", diz Chermont.
A fuga dos patrocinadores, que alegaram como principal motivo a falta de verbas decorrente da alta do dólar, não levou em conta o bom histórico do evento. As cinco edições anteriores trouxeram pela primeira vez ao Brasil exposições de grandes nomes da fotografia mundial, como Josef Koudelka, Robert Doisneau, Luis Gonzales Palma, Joel-Peter Witkin e Graziela Iturbide, entre outros, que foram vistas por um público que chegou a 220 mil pessoas.
Se o comprovado interesse do público não foi suficiente para firmar o Mês no calendário cultural da cidade, também o bom momento da produção fotográfica brasileira parece não contribuir.
Vários fotógrafos brasileiros estão em voga no circuito internacional de artes plásticas. Nos últimos anos, foram abertas galerias que ajudaram a impulsionar a discussão e a comercialização de imagens, além de formar novos colecionadores. Surgiu, também, a primeira faculdade de fotografia no país, em iniciativa do Senac.
O desprezo da iniciativa pública e privada que levou ao fim a Bienal de Fotografia de Curitiba e agora coloca em xeque o Mês Internacional da Fotografia em São Paulo está na contramão da história. É a economia pautando a agenda cultural. Um perigo.


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