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OUTRA FREQUÊNCIA
O tempo em que ouvir rádio dava cadeia
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi em 23 de abril de 1923, há
exatos 80 anos, que Roquette
Pinto fundou a Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro, a primeira
emissora do país. Foi também o
dia em que passou a arrumar uma
bela encrenca com o governo.
Àquela época, as transmissões
radiofônicas eram armas estratégicas do poder público. As ondas
de rádio haviam sido utilizadas na
Primeira Guerra, para a troca de
mensagens entre as tropas, e seria
quase lunático imaginar seu uso
para a comunicação de massa.
No Brasil, a primeira transmissão havia sido um discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa, no dia 7 de setembro
de 1922, em comemoração ao
centenário da Independência.
Até a fundação da emissora de
Roquette Pinto, no entanto, não
havia qualquer lei de radiodifusão
no país. E quem fabricava seu
próprio aparelho para tentar captar as ondas ainda experimentais
era levado à cadeia pela polícia.
Por isso, o fundador da Rádio
Sociedade teve de convencer o governo a regulamentar a atividade
e lhe conceder licença para operar. E foi no dia 7 de setembro novamente, um ano após a primeira transmissão, que sua estação passou a operar regularmente.
Essa e outras histórias dos primórdios do rádio estão na edição
56 da "Revista USP" (R$ 16 pelo
tel. 0/xx/11/3091-4403), lançada
na semana passada.
Os detalhes da fundação da
emissora de Roquette Pinto são
relatados em artigo assinado por
sua neta, Vera Regina, que se formou radialista pela Universidade
de São Paulo e trabalhou por mais
de 20 anos na TV Cultura.
Ela fala sobre a resistência que o
avô enfrentou no governo Getúlio
Vargas na tentativa de transformar em meio de educação o veículo que havia ajudado a criar.
Vera narra também encontro
que teve com Roquette Pinto, já
doente, no fim da vida. O rádio vivia sua era de ouro e a TV acabava
de chegar ao país. Ele, claro, já tinha um televisor em casa e, apontando para o aparelho, disse à neta: "Olha, minha querida, que belo meio para educar nosso povo".
Ao abordar a trajetória do rádio
nos seus 80 anos, a publicação da
USP, obviamente, não poderia
deixar de falar do nascimento do
jabá (execução paga de música).
Texto de Luiz Carlos Saroldi, radialista, dramaturgo e pesquisador musical, relaciona a origem
dessa operação com o início da
hegemonia comercial da TV: "A
dependência da música enlatada
abriu caminho à promoção de sucessos indicados pelas gravadoras, através do "play-list". Resta
aos independentes, na maioria
dos casos, pagar ou correr".
laura@folhasp.com.br
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