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Grupo editorial espanhol lança seus primeiros 14 livros no Brasil mesclando qualidade e best-seller
A aterrissagem da Planeta
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de alguns anos flertando
com a órbita editorial brasileira a
gigante espanhola Planeta por fim
desce seu trem de pouso no país.
Um dos dez maiores grupos
editoriais do mundo, o conglomerado criado há pouco mais de
50 anos em Barcelona começa a tornar visível esta semana sua
operação no Brasil.
Os propulsores serão acionados amanhã, com a chegada às livrarias dos quatro primeiros títulos nacionais com o selo Planeta. Outros dez livros irão às prateleiras nacionais até a metade de maio.
O pacote inicial da editora, presente em todos os principais países da América Latina, em Portugal e nos EUA (aqui já operava
com produtos para bancas), traz exemplos de todos os gêneros nos
quais deverá atuar no Brasil.
O tripé essencial se apóia em literatura adulta, não-ficção e literatura juvenil. As duas primeiras categorias, porém, podem ser
desdobradas. O selo planetário estará em obras de ficção "de qualidade" ou nos chamados "best-seller". Divisão semelhante marca
o catálogo não ficcional.
A equação foi importada da matriz espanhola, que publica tanto
títulos massificados, como Paulo Coelho e Tom Clancy, quanto autores difíceis, como o austríaco Robert Musil e o polonês Witold Gombrowicz (estes com o selo
editorial Seix Barral).
Se na Espanha o Grupo Planeta
(faturamento de US$ 900 milhões/ano) divide o perfil literário
desse modo, usando selos editoriais distintos -Ediciones del
Bronce, Ediciones Destino, Ariel
etc.), no Brasil a empresa só se apresentará com sua marca principal e com a variante Planeta Jovem, para títulos infanto-juvenis.
"Começar com muitos selos diferentes seria muito confuso.
Queremos criar uma identidade forte antes disso", conta Ruth
Lanna, uma das editoras da Planeta brasileira. Ex-Companhia
das Letras, ela divide o comando
editorial com Paulo Roberto Pires, jornalista e professor de literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Pascoal Soto,
que vem da editora Salamandra.
O trio já tem uma escalação de
aproximadamente 45 títulos, que
devem sair até o final de 2003. No
ano que vem, a Planeta pretende
lançar 75 livros, quantidade que
deve se repetir daí por diante.
A matriz, que deu carta branca
para a atuação dos editores, mas
que gerencia por enquanto a parte
administrativa da empresa brasileira, não solta detalhes financeiros, mas o orçamento da filial fica em algum lugar entre US$ 200 mil
e US$ 1 milhão por ano.
Autores nacionais deverão ficar
com uma boa fatia do bolo. "Queremos publicar muitos escritores
brasileiros. Desde jovens pouco
conhecidos até escritores mal editados do passado", diz Lanna.
Literatura pouco trabalhada por
aqui, a ficção da península Ibérica
também terá bom cartaz na editora. A safra primeira traz, por
exemplo, o primeiro livro brasileiro da elogiada portuguesa Inês
Pedrosa, "Fazes-me Falta". Os espanhóis vêm em seguida. Entre os
próximos títulos da Planeta estão
obras da delicada catalã Mercè
Rodoreda (1908-83) e dos jovens
Andreu Martín e Jaume Ribera.
Mas é nos verde-amarelos que
está o "marco zero" da editora,
apelido que ganhou nos bastidores planetários o livro "Memórias
Inventadas - A Infância", do veterano poeta mato-grossense Manoel de Barros, 86 anos.
Nesse "diário", editado como se
fosse um caderno de anotações
(que vem dentro de uma caixa), o
autor de "Livro sobre Nada" faz
uma rara incursão pelo universo
da prosa (uma "quase prosa").
Com um livro de histórias breves, "O Doido da Garrafa", a carioca Adriana Falcão, 40, divide
com Barros a primeira brigada
nacional da Planeta.
Assim como o volume da autora do romance "A Máquina", os
outros dois títulos da fornada inicial, "O Reencontro", de Fred
Uhlman, e o livro de Inês Pedrosa
são editados em capa dura. A ficção "não best-seller" da Planeta
deve sair toda nesse molde.
É assim que deverão chegar às
livrarias ainda este ano títulos de
autores de grande porte, como o
uruguaio Juan Carlos Onetti
(1909-94) e o atual Prêmio Nobel,
o húngaro Imre Kértesz, de quem
a editora publicará dois títulos.
Todos eles chegarão às prateleiras com companhia brasileira. A
linha de ficção mais elaborada deverá ter sempre em suas capas trabalhos de artistas nacionais.
O Grupo Planeta, que namorou
a compra de casas como a Record
e a Objetiva antes de decidir "começar do zero", quer aterrissar no
Brasil com jeitinho brasileiro.
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