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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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Grupo editorial espanhol lança seus primeiros 14 livros no Brasil mesclando qualidade e best-seller

A aterrissagem da Planeta

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de alguns anos flertando com a órbita editorial brasileira a gigante espanhola Planeta por fim desce seu trem de pouso no país.
Um dos dez maiores grupos editoriais do mundo, o conglomerado criado há pouco mais de 50 anos em Barcelona começa a tornar visível esta semana sua operação no Brasil.
Os propulsores serão acionados amanhã, com a chegada às livrarias dos quatro primeiros títulos nacionais com o selo Planeta. Outros dez livros irão às prateleiras nacionais até a metade de maio.
O pacote inicial da editora, presente em todos os principais países da América Latina, em Portugal e nos EUA (aqui já operava com produtos para bancas), traz exemplos de todos os gêneros nos quais deverá atuar no Brasil.
O tripé essencial se apóia em literatura adulta, não-ficção e literatura juvenil. As duas primeiras categorias, porém, podem ser desdobradas. O selo planetário estará em obras de ficção "de qualidade" ou nos chamados "best-seller". Divisão semelhante marca o catálogo não ficcional.
A equação foi importada da matriz espanhola, que publica tanto títulos massificados, como Paulo Coelho e Tom Clancy, quanto autores difíceis, como o austríaco Robert Musil e o polonês Witold Gombrowicz (estes com o selo editorial Seix Barral).
Se na Espanha o Grupo Planeta (faturamento de US$ 900 milhões/ano) divide o perfil literário desse modo, usando selos editoriais distintos -Ediciones del Bronce, Ediciones Destino, Ariel etc.), no Brasil a empresa só se apresentará com sua marca principal e com a variante Planeta Jovem, para títulos infanto-juvenis.
"Começar com muitos selos diferentes seria muito confuso. Queremos criar uma identidade forte antes disso", conta Ruth Lanna, uma das editoras da Planeta brasileira. Ex-Companhia das Letras, ela divide o comando editorial com Paulo Roberto Pires, jornalista e professor de literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Pascoal Soto, que vem da editora Salamandra.
O trio já tem uma escalação de aproximadamente 45 títulos, que devem sair até o final de 2003. No ano que vem, a Planeta pretende lançar 75 livros, quantidade que deve se repetir daí por diante.
A matriz, que deu carta branca para a atuação dos editores, mas que gerencia por enquanto a parte administrativa da empresa brasileira, não solta detalhes financeiros, mas o orçamento da filial fica em algum lugar entre US$ 200 mil e US$ 1 milhão por ano.
Autores nacionais deverão ficar com uma boa fatia do bolo. "Queremos publicar muitos escritores brasileiros. Desde jovens pouco conhecidos até escritores mal editados do passado", diz Lanna.
Literatura pouco trabalhada por aqui, a ficção da península Ibérica também terá bom cartaz na editora. A safra primeira traz, por exemplo, o primeiro livro brasileiro da elogiada portuguesa Inês Pedrosa, "Fazes-me Falta". Os espanhóis vêm em seguida. Entre os próximos títulos da Planeta estão obras da delicada catalã Mercè Rodoreda (1908-83) e dos jovens Andreu Martín e Jaume Ribera.
Mas é nos verde-amarelos que está o "marco zero" da editora, apelido que ganhou nos bastidores planetários o livro "Memórias Inventadas - A Infância", do veterano poeta mato-grossense Manoel de Barros, 86 anos.
Nesse "diário", editado como se fosse um caderno de anotações (que vem dentro de uma caixa), o autor de "Livro sobre Nada" faz uma rara incursão pelo universo da prosa (uma "quase prosa").
Com um livro de histórias breves, "O Doido da Garrafa", a carioca Adriana Falcão, 40, divide com Barros a primeira brigada nacional da Planeta.
Assim como o volume da autora do romance "A Máquina", os outros dois títulos da fornada inicial, "O Reencontro", de Fred Uhlman, e o livro de Inês Pedrosa são editados em capa dura. A ficção "não best-seller" da Planeta deve sair toda nesse molde.
É assim que deverão chegar às livrarias ainda este ano títulos de autores de grande porte, como o uruguaio Juan Carlos Onetti (1909-94) e o atual Prêmio Nobel, o húngaro Imre Kértesz, de quem a editora publicará dois títulos.
Todos eles chegarão às prateleiras com companhia brasileira. A linha de ficção mais elaborada deverá ter sempre em suas capas trabalhos de artistas nacionais.
O Grupo Planeta, que namorou a compra de casas como a Record e a Objetiva antes de decidir "começar do zero", quer aterrissar no Brasil com jeitinho brasileiro.


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