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ANÁLISE
Epidemia de sarcasmo e riso
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Mauro Rasi foi um dos pais
do besteirol, gênero inventado nos anos 80 que se espalhou
pelo Brasil como uma epidemia
de sarcasmo e riso. Tudo muito
simples: a classe média queria
voz, depois de ser considerada
subclasse em décadas de teatro
engajado.
Era o fim das discussões sobre a
miséria brasileira. Em cena, o caráter da família, o ridículo de cada
um, o ser comum com dúvidas
existenciais aparentemente banais. Um renascimento.
Comédias como "Pérola", de
Mauro Rasi, levaram milhões aos
teatros. Comédias tataranetas de
um teatro de revista em que os
acontecimentos do dia-a-dia
eram satirizados pela turma sem
papas na língua.
O regime militar empastelou a
classe teatral, um pequeno foco
revolucionário que exigia a politização das artes e de seu alvo.
O teatro teve de se virar para
achar um modo de não ferir a
doutrina de segurança nacional:
produções baratas, essencialmente cômicas, que não julgassem o
público, mas jogassem com ele.
Duplas como as de Miguel Falabella e Guilherme Karam, Pedro
Cardoso e Felipe Pinheiro personificavam a quem os assistia. O
besteirol foi longe.
Brotam novos autores, como
Vicente Pereira, Maria Adelaide
Amaral, Flávio de Souza, Alcides
Nogueira, Naum Alves de Souza e
Marcos Caruso. Mas o maior de
todos sempre foi Mauro Rasi
Não tocava em temas polêmicos
nem convocava grandes tabus.
Seus ídolos: Arthur Miller, Billy
Wilder e os musicais. Seu ponto
de partida: a cidade paulista de
Bauru, as conversas com as tias.
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