São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

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Lygia quadro a quadro

Mostra de cinema homenageia escritora cuja biografia é intimamente ligada com a sétima arte

Eduardo Knapp/Folhapress
Retrato da escritora Lygia Fagundes Telles

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Vai se dar no cinema, refúgio predileto de seus dois leitores mais importantes, a comemoração dos 88 anos de Lygia Fagundes Telles.
Viúva de Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), criador das bases críticas do cinema brasileiro, e mãe do cineasta e videoartista Goffredo Telles Neto, morto em 2006, aos 52 anos, a escritora sempre teve, pelos filmes, um delicado afeto.
"Meu marido e meu filho eram apaixonados pelo cinema. Ver filmes e discuti-los era uma forma de estar junto deles", diz, voltando-se para as fotos que forram a estante da sala de seu apartamento, nos Jardins, em São Paulo.
"Ali é o Paulo, com o Pongatti no colo, e aquele é meu filho, em Paris", descreve. Pongatti era o gato do casal. Dividia a casa com Pongatta.
"O gato é um ser amoroso, mas distante. Ele não gosta de intimidade. É um animal aristocrático", diz, como se lesse um de seus textos.
Às vésperas de completar 88 anos, a autora de livros como "Ciranda de Pedra" e "As Meninas" apega-se às memórias com saudade, claro, mas também com humor. Durante esta entrevista, não foram poucos os momentos em que gargalhou.
Ao ter a beleza elogiada pelo fotógrafo da Folha, provocou: "Ah, nesta idade a gente tem que se arrumar direitinho, se concentrar na pose porque, caso contrário, assusta as criancinhas". Antes de ir embora, o fotógrafo recebeu um cálice de vinho do Porto, que a escritora faz questão de oferecer a todas as visitas, e um exemplar de "A Disciplina do Amor": "É pra ler, hein, Eduardo [Knapp]? Não é pra dar pro vizinho".
A despeito da aparência impecável, Telles, há um ano, quebrou o fêmur e tem dificuldades de locomoção.

VOCAÇÃO PARA A VIDA
Essa é uma das razões que a faz ir pouco ao cinema. "As cadeiras são muito baixas; eu fico mal sentada. E não posso levar esta cadeira anatômica para o cinema, né?".
O afastamento da sala escura é compensado com os filmes na TV e os DVDs. Agora, por exemplo, está encantada com uma retrospectiva de filmes mudos que está passando na TV Cultura.
"Aparece o Charles Chaplin compondo seu personagem definitivo", conta. "Morri de rir neste sábado com ele, faxineiro de um banco, indo abrir o cofre, como se fosse fazer um assalto, e saindo de lá com vassoura e balde."
E assim será a homenagem que receberá da Cinemateca. A mostra traz filmes inspirados em sua obra, além de títulos que escolheu.
Nessa segunda lista, há clássicos como "O Atalante", de Jean Vigo, "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, "O Último Tango em Paris", de Bernardo Bertolucci, "Morte em Veneza", de Luchino Visconti, e "A Doce Vida", de Federico Fellini.
Dentre os filmes saídos de sua escrita, serão projetados "As Meninas", de Emiliano Ribeiro, e "As Três Mortes de Solano", de Roberto Santos.
Perguntada sobre as adaptações prediletas, ela revira os olhos verdes como se dissesse "ai, ai, ai". "É difícil dizer, é difícil... Não gosto de chatear os outros", diz Telles, que deixou impresso, em um de seus contos, que "na vocação para a vida está incluído o amor"

LYGIA FAGUNDES TELLES

ONDE Cinemateca Brasileira (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, 0/xx/ 11/3512-6111)
QUANDO de 26 de abril (terça) a 15 de maio
QUANTO R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia-entrada)
PROGRAMAÇÃO COMPLETA www.cinemateca.gov.br


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