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UMA RESENHA A CADA DIA
Fãs sonharam com o Oscar da "nanica notável"
PATRICIO BISSO
especial para a Folha
Muito antes de
Fernanda Montenegro ter nascido, em 1939,
fãs chegaram a
escrever para "A
Cena Muda"
querendo saber
se Carmen Miranda seria indicada
para um Oscar.
Eles nem sequer haviam assistido a "Serenata Tropical", em que a
participação da cantora era mínima e alheia ao enredo. Com essa
espécie de protoclipe caprichado,
Carmen saiu-se muito bem no seu
lançamento internacional, e ninguém pode negar seu impacto global nas mídias daquele tempo.
Inspirado em tese de mestrado,
"Carmen Miranda Foi a Washington" (Record), de Ana Rita Mendonça, é um lançamento feliz para
esses dias de ressaca pós-"Central
Station". O fantasma de Carmen
estará sempre rondando todos
aqueles que sonham com abafar
nos States. Afinal, o que é triunfar
em Hollywood? Todo mundo quer
ser estrela? Você é alguém?
Carmen foi
uma artista
original e completa. Muito
além do samba, a nanica
notável já estilizava um
"Brazil for export" em apresentações na
Argentina, onde ensaiou performance de
comediante
exótica que definitivamente
não era a garota que mora ao
lado.
"Uma estranha flor tropical",
disse o "New York Herald Tribune", por ocasião da sua estréia na
Broadway. Brasileira, portuguesa,
mexicana ou espanhola, a nacionalidade de Carmen era sempre a
mesma: estrangeira.
A autora consegue captar a atmosfera febril que acompanhava a
artista nas suas idas e vindas. Símbolo pré-Pelé da primeira chance
do Brasil ao verdadeiro estrelato,
Carmen nos ensina o básico: para
agradar, temos
que criar um
tipo. Criar um
tipo é muito diferente de fazê-lo. E Carmen
estilizou tanto
o seu, que acabou virando
arquétipo.
Embora o
episódio que
dá título ao livro não alcance dez linhas,
podemos imaginar o que
Carmen deve
ter aprontado
como Primeira-Dama da Boa Vizinhança, com
seu limitado repertório em inglês.
"I say yes, no, and money. And I
say men, men, men!"
Embora o tom de tese acabe se
infiltrando aqui e acolá, a saborosa
pesquisa tem ponto alto nas citações da época. Ontem como hoje,
os leitores de "Correio da Manhã",
"Diário da Noite", "Cinearte" e "A
Cena Muda" já se dividiam em carmistas e anti-carmistas.
"As invejosas e fracassadas devem deixar crescer as unhas para
roê-las mais à vontade e com
maior ferocidade quando chegar
aqui a notícia dos novos triunfos
de Carmen", dizia uma. "Imitadora de Lupe Vélez", "gorda", "palhaça", atacavam de outros lados.
Enquanto Ruy Castro fica a dever
a biografia definitiva da artista, vamos nos entretendo com esse livro, apesar das costumeiras falhas
na grafia de nomes e letras, que
deixarão o leitor mais experiente
incomodado. Só dou esse puxão de
orelhas à jovem autora porque
imagine que ela esnoba a gente
dando o nome de TRÊS diretores
de "...E O Vento Levou", para logo
errar feio com "O Mágico de Oz".
Achar que Vincente Minelli dirigiu
aquele filme só Freud explica.
Avaliação:
Livro: Carmen Miranda Foi a Washington
Autora: Ana Rita Mendonça
Lançamento: Record
Quanto: R$ 25 (210 págs.)
Onde encontrar: estande da Record
(Bienal do Rio) e livrarias Saraiva e Siciliano
(Salão de São Paulo)
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