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CAMBOJA
Diretor ouve vítimas e torturadores
DOS ENVIADOS A CANNES
Rithy Panh passou parte da
adolescência nos campos de trabalho mantidos pelo partido comunista do Camboja, durante o regime do Khmer Vermelho. Em
1979, escapou para a Tailândia e
depois para a França, onde foi
aceito no Institute des Hautes
Études Cinematographiques
(Idhec). Como cineasta, vem se
dedicando a retratar o Camboja.
Panh, 38, apresentou em Cannes "S 21, la Machine de Mort
Khmère Rouge". "S21" é o nome
de um dos centros de detenção de
Phnom Penh (capital do Camboja) onde cerca de 17 mil prisioneiros foram torturados e executados entre 1975 e 1979, anos de força do regime comunista. Aparentemente, apenas três prisioneiros
do S21 sobreviveram.
A originalidade do documentário vem de uma opção arriscada.
Ele não ouve apenas vítimas, mas
torturadores. "Por que não nos
interessamos pela memória do
outro lado também?", questionou. Panh mantém uma respeitosa distância nos momentos mais delicados, a maior parte deles ligados à memória das vítimas. O
que causa impressão mais forte,
porém, são as conversas com os
torturadores. Na verdade, eles
não conseguem explicar o que
acontecia ali, preferindo reproduzir o seu dia-a-dia no "local do crime". E reconstituem seus atos
com precisão diante da câmera.
Nessa confrontação histórica,
fica claro que o processo de desumanização atingiu os dois lados
-tanto as vítimas, tomadas como animais a serem abatidos,
quanto os carrascos, visivelmente
encarcerados numa prisão ideológica que lhes impôs a cegueira.
Quando torturam e executam,
eles realmente acreditam estar
participando de uma guerra.
"Eles tinham convicção de que estavam agindo dentro da legalidade", diz Panh. Mais chocante, porém, é o aspecto de "máquina da
morte" que dá título ao filme.
Torturar e matar, como fica claro,
são gestos que fazem parte de
uma rotina administrativa.
Rithy Panh não julga os torturadores, mas deixa claro seu ponto
de vista. O Camboja não pode evitar o que vem sendo driblado há
anos: um julgamento dos homens
que impuseram e levaram adiante
o regime do terror e o genocídio
em que morreram mais de 2 milhões de cambojanos.
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