São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2008

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Barenboim rege a Staatskapelle de Berlim em SP

Com ingressos esgotados, concertos vão de domingo a terça, com Bruckner, Wagner e Schönberg no repertório

Em entrevista à Folha, maestro comenta saída do intendente da Staatskapelle e desmente boatos de que poderia assumir a Osesp

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de superada uma crise que rondava a instituição até a semana passada, uma das melhores orquestras de ópera do planeta, a Staatskapelle de Berlim, toca de domingo a terça em São Paulo, na série da Sociedade de Cultura Artística, sob a batuta de seu diretor artístico, o israelense de origem argentina Daniel Barenboim, 65.
Na semana passada, na capital alemã, ficou acertada a saída do intendente da Staatsoper (a mais importante das três casas de Berlim e sede da Staatskapelle), Peter Mussbach, que vinha tendo divergências orçamentárias com o maestro.
Enquanto consumia pães de queijo e cafés no aeroporto de Guarulhos, na última segunda-feira, Barenboim disse à Folha que "lamentava" a saída de Mussbach, salientando: "Os problemas nunca foram artísticos, eram administrativos".

Bruckner
Em cada uma de suas apresentações paulistanas, todas com ingressos esgotados, o regente executa uma das três derradeiras sinfonias do austríaco Anton Bruckner (1824-1896): a nº 7 no domingo, a nº 8 no dia seguinte e a n º 9 na terça.
Bruckner foi um dos compositores favoritos do maestro-fetiche de Barenboim, o alemão Wilhelm Furtwängler (1886-1954), cujo exemplo ele procura seguir, mas não imitar. "Quanto maior é a personalidade que influencia, menos temos que imitá-lo -há que se entender por que ele fazia as coisas daquele jeito, e esse foi todo meu trabalho com Furtwängler", explica. "O pensamento de Furtwängler, para mim, significa tudo o que há de bom no pensar sobre a música, na música e com a música. Mas não se deve imitá-lo, porque, então, perde-se o valor".
Se, no domingo, o programa é complementado por obras de Wagner ("Prelúdio e Morte de Isolda" e "Abertura Mestres Cantores"), na segunda-feira ("Cinco Peças para Orquestra") e na terça ("Variações Op. 31", que ele está para lançar em CD), a noite traz peças de Arnold Schönberg (1874-1951), o criador do dodecafonismo, cujo nome pode afugentar parte mais conservadora do público.
"O problema com Schönberg é a idéia preconcebida que as pessoas têm, sem saber o que é", diz o maestro. "É um compositor muito difícil de tocar, e, quando se toca mal, e não está limpa, sua música é só ruído. Mas, em nossa orquestra, chegamos a um grau de transparência muito alto nessas obras, o que faz delas bem acessíveis".
As freqüentes visitas de Barenboim a São Paulo alimentaram boatos de que ele poderia ser o futuro diretor musical da Osesp. Ele desmente as especulações: "É sempre muito agradável ouvir que se pensa na gente, mas não existe nada nesse sentido". Paralelamente às amplas atividades na regência (ele passa três meses do ano no Scala, de Milão), o músico desenvolve ainda uma importante carreira como pianista. O segredo para conseguir tempo para, além de óperas e sinfonias, decorar as mais cabeludas partituras? "Dar muito poucas entrevistas", diz, entre risos.


DANIEL BARENBOIM
Quando:
dom., às 19h; seg. e ter., às 21h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, tel. 0/xx/11/3258-3344; classificação: livre)
Quanto: R$ 90 a R$ 260 (ingressos esgotados)


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