São Paulo, sábado, 23 de maio de 2009

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Scarpellini redesenha São Paulo

Livro reúne desenhos publicados na Folha por designer e artista italiano, morto em julho de 2006

Encantado com o velho e decadente "centrão" da cidade, Scarpellini gostava de morar na região e a retratou em seus desenhos


MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é raro que São Paulo provoque em seus visitantes uma reação ao mesmo tempo de repulsa e fascínio. A cidade choca e impressiona em sua amplitude, em sua trama urbana confusa, em sua bizarrice arquitetônica e em seu obsceno contraste entre luxo e miséria.
Mas também não é incomum que, passado o susto, o estrangeiro comece a entrever pelas frestas da Pauliceia a beleza inusual deste ou daquele aspecto urbano, a paz insuspeitada de bairros verdes e residenciais, o dinamismo criativo da modernidade selvagem e o cosmopolitismo de um lugar feito de gente de todos os cantos. Para um europeu, mais habituado a cidades médias, em geral ordenadas e pacatas, o choque pode ser mais perturbador.
E a paixão também. Foi o que aconteceu com Vincenzo Scarpellini, italiano nascido em Ascoli Piceno, formado em design e jornalismo em Roma, que tem agora desenhos e textos sobre São Paulo reunidos num simpático volume com capa dura lançado pela Publifolha.
O material de "San Paolo" é a produção do autor para a seção "Urbanidade", que foi publicada entre 2000 e 2006 ao lado da coluna de Gilberto Dimenstein, no caderno Cotidiano. São situações paulistanas filtradas por uma visão peculiar -é como se redesenhasse e repintasse a cidade ao mesmo tempo em que a registrava.
Scarpellini chegou ao Brasil no final da década de 90, convidado a participar de uma reformulação visual e editorial da revista "Manchete".
Não passou em branco pela Cidade Maravilhosa, mas ela não chegou a balançar assim o seu coração. Elegante e cordato, o tipo de homem que pode ser descrito como um príncipe, enamorou-se mesmo foi da feiosa e movimentada capital Bandeirante quando nela se fixou, contratado pela editora Abril. Posteriormente na Folha, foi responsável por uma reformulação gráfica do jornal.
Scarpellini logo se encantou com o velho e decadente "centrão" da cidade e não tardou a alugar um apartamento na praça da República, bem em frente ao edifício Itália. Depois, casado, morou num prédio projetado por Niemeyer, o Eiffel. Adorava passear pelo centro e se tornou quase um especialista em São Paulo.
A vida, infelizmente, foi-lhe demasiadamente breve -morreu em julho de 2006, aos 41 anos. Mas a arte é longa e seu belo e colorido legado, em parte reunido neste "San Paolo", permanece vivo.


SAN PAOLO
Autor: Vincenzo Scarpellini
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 39,90 (176 págs.)



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