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Crítica
"Fundação" é ficção científica "sui generis"
ROBERTO DE SOUSA CAUSO
ESPECIAL PARA A FOLHA
N
o mundo todo, o nome
Isaac Asimov (1920-1992) foi sinônimo de
ficção científica. Escritor prolífico, ele foi também importante
divulgador científico. Achava-se um autor de FC antes de tudo, e a "Trilogia Fundação" é
considerada sua obra mais importante. Escrita como uma série na revista "Astounding Stories", de 1942 a 1953, recebeu
em 1966 um Prêmio Hugo especial e virou leitura obrigatória para se entender a evolução
do gênero no século 20.
A série é uma "space opera"
-de FC aventuresca em escala
galáctica- "sui generis": sua
qualidade cerebral a destaca de
exemplos comuns. Asimov avaliou: "Os três volumes consistiam em pensamentos e conversações. Nenhuma ação nem
suspense físico". Se literatura é
mais que linguagem, ele foi um
gênio da exposição narrativa, e
a leitura da trilogia excita e estimula o intelecto. Um paradoxo.
A trilogia reconta a queda do
Império Romano, imaginando
que o fim do Império Galáctico
foi previsto pelo psico-historiador Hari Seldon, que estabelece
duas fundações nos limites da
galáxia para encurtar um período de trevas de 30 mil anos para
apenas mil. A psico-história é
um conceito fabuloso, e ecos da
ideia de que a matemática poderia prever as ações das massas humanas aparecem nas teorias do caos e da emergência, e
até na economia.
Asimov criou várias séries de
histórias e romances -além de
"Fundação", a série dos robôs e
a do Império Galáctico. Nos
anos 90, resolveu fundir as três
e, no processo, teve de retornar
à trilogia e acertar detalhes para manter a coerência. A edição
brasileira anterior a esta é dos
anos 70, pela Hemus, e não
contemplava essas alterações.
Outro trunfo da atual edição, da
Aleph, são as traduções de Fábio Fernandes e Marcelo Barbão, mais fluentes que a da Hemus, mas carentes de revisão
estilística. A Aleph também publica pela primeira vez a trilogia em três livros separados.
"Fundação" é o ápice do futuro de consenso, tendência
maior da era de ouro da FC
americana (1938-48): o espaço
é o destino manifesto da humanidade, onde sua expansão recebe pouca resistência e o espírito científico triunfa. A trama
salta séculos, conforme o Império Galáctico se desfaz e os
agentes da Fundação recebem
orientações gravadas de Seldon
em momento-chaves previstos
pela psico-história. Não há só
um herói (agentes da Fundação
variam com as gerações), mas
sim um único vilão, o Mulo, que
surge no terceiro volume.
O Mulo é um mutante que lê
e domina as mentes -uma singularidade humana que está
além do Plano Seldon, e metáfora asimoviana para o führer
do nazifascismo. Embora Seldon tivesse um ás na manga,
derrotá-lo está fora de qualquer determinismo histórico.
Como continua sendo.
ROBERTO DE SOUSA CAUSO é escritor, autor
de "Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil: 1875 a 1950" (ed. UFMG).
FUNDAÇÃO, FUNDAÇÃO E IMPÉRIO e SEGUNDA FUNDAÇÃO
Autor: Isaac Asimov
Tradução: Fábio Fernandes (vol. 1 e 2)
e Marcelo Barbão (vol. 3)
Editora: Aleph
Quanto: R$ 39 (cerca de 240 págs.) cada
Avaliação: ótimo
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