São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

As mil faces de Ana

Cecilia Acioli/Folha Imagem
Ana Paula Arósio nas gravações do seriado "Na Forma da Lei"

De volta às telas, Ana Paula Arósio viverá uma promotora na série "Na Forma da Lei", da Globo, e uma lésbica no longa "Como esquecer", com cenas de masturbação e carinho entre mulheres. Longe dos holofotes, é empresária rural e faz orações "tipo valeu, tá tudo legal"

 


"Ela é uma mulher muito honesta, correta. Tem uma determinação que vem um pouco de um vazio na vida. É muito solitária, muito frágil em alguns momentos, apesar de aparentar toda essa fortaleza." Ana Paula Arósio segue discorrendo sobre a tal mulher. "Ela perde o grande amor da vida. E não é marcada pelo trauma. Ela é marcada por ela mesma. É uma pessoa densa, centrada."

 


Ela é Ana? Quase. A atriz tem características e história bastante parecidas com as da personagem que vai interpretar em "Na Forma da Lei", série policial que estreia no dia 15 de junho, na TV Globo. Aos 34 anos, Ana Paula Arósio é centrada, aparenta ser uma fortaleza e também perdeu um grande amor (o empresário Luiz Tjurs, de quem estava noiva, suicidou-se na frente dela, em 1996).

 


Para viver a promotora de Justiça da minissérie da Globo, Ana precisou aprender a manusear um revólver. Num batalhão da Polícia Militar, fez aulas de tiro, mas diz que o fato não reacendeu seu trauma. "É uma coisa que eu já trabalhei bastante e que agora ta tranquilo", resume.

 


Ela está de volta à TV depois de dois anos de pausa. Neste ano, também retorna ao cinema. Em outubro, com o longa "Como Esquecer", será vista nas telas como a professora Júlia - lésbica, ela sofre depois de perder a namorada e se envolve com outra mulher. Ana surgirá em cenas de masturbação e de carinhos com a personagem vivida por Arieta Corrêa.

 


Ana costuma escolher os papéis. Sua carreira, que começou cedo - aos 12, modelo, já estampava 250 capas de revistas pelo mundo -, não é mesmo tão recheada de trabalhos na TV e no cinema: são cinco novelas da Globo, três do SBT, quatro séries como protagonista e menos de dez filmes. "Não é que eu dispense papéis... [gargalhada] Talvez eu tenha feito a pessoa entender que não era eu a pessoa para fazer aquilo, não era para mim."

 


E o que não serve para Ana? "Uai...Uma coisa muito específica ou que exija que eu abandone completamente meus outros trabalhos." Por outros trabalhos, entenda-se as carreiras como criadora de cavalos, nova empresária rural e paisagista - esta última fica "para o caso de todas as outras darem errado". E solta uma gargalhada.

 


Dona de uma fazenda de 40 alqueires no interior de SP, ela é também produtora de feno. "Tudo começou quando eu passei a ter cavalos [tem 15 animais]. Na época da seca, as pessoas ficam desesperadas procurando feno de qualidade. E quem tem cobra o olho da cara. É minha coisa meio Scarlett O'Hara: 'Meus cavalos nunca mais passarão fome!'."

 


Bolsa cara, roupa de grife? "Ah, minha filha, você acha que eu sou maluca?! Aí é que tá: eu acho uma coisa cara [uma bolsa]. E tem tratores de R$ 200 mil, R$ 300 mil, e, se você for ver, é barato", diz. "Meu sonho de consumo é ter um trator desses."

 


Os bons amigos de Ana são os funcionários da fazenda: Carlão, Zétão, seu Milton e Reis. "Tenho uma relação de posse e de ciúme com eles! É muito difícil montar uma boa equipe rural", diz. Já demitiu muitos funcionários? "Os necessários." Já com o namorado, o arquiteto Henrique Pinheiro, "se fizer tudo direitinho, não sou exigente, não!". Tem uma troca, diz. "É complicado, né? Eu trabalho pra caramba, e isso às vezes me leva para lugares afastados. A pessoa tem que ter um joguinho de cintura."

 


"O amorrrr [força o sotaque paulista]? É difícil de definir. É quase um estado de espírito, uma coisa que transforma. Mas é difícil definir, porque você pode amar hoje e não amar amanhã. É muito complicado. E cada um ama de um jeito", afirma. "Como é que eu amo? Amando! Não sei [gargalhadas]." "Mulher sem crise é utopia. Eu tenho as de todo mundo: insegurança, carência. Sabe quando você chega em casa e não tem um recadinho? Dá um pouquinho de 'Ai, meu Deus do céu!'."

 


Eles, os filhos, não cabem nas muitas carreiras de Ana. "Olha, eu já pensei, já 'despensei'. Filho, para mulher moderna, é quase encaixe de agenda. 'Ai, deixa eu ver quando é que eu não vou trabalhar.' E depois tem que cuidar da criança! Minha impressão é a de que não vou enfrentar muito bem deixar meu filho com uma babá."

 


No fim de semana, depois de gravar na Globo, é ainda à fazenda que a atriz deve voltar. "Tenho que plantar umas mudas de pinheiro que chegaram, sabe?", diz. "E vai ter uma capela que a gente vai levantar. Não sou católica fervorosa, não.Mas faço as minhas orações e tudo. Antes de dormir, na hora em que acordo, só em agradecimento. Não é 'Ave Maria', 'Pai Nosso'. É tipo 'Valeu, ta tudo legal'."

Reportagem AUDREY FURLANETO



Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Lost e o fim da TV
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.