São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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Fotógrafo da Magnum abre mostra em São Paulo

Steve McCurry, nome central do fotojornalismo, terá individual

Galeria exibe 35 fotos, entre elas as imagens de Sharbat Gula, refugiada de olhos verdes que foi para capa de revista


SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Ninguém esquece os olhos verdes arregalados na capa da "National Geographic", aqueles que viraram símbolo da violência no Afeganistão durante o domínio soviético. Steve McCurry fotografou essa garota, Sharbat Gula, na segunda viagem que fez ao país. Era 1984 e ele tinha a missão de registrar para o Ocidente todo o horror de uma terra impenetrável. De fato, na primeira vez que McCurry pisou no Afeganistão, cinco anos antes de retratar a refugiada dos olhos brilhantes, estava ilegal.
Cruzou a fronteira com o Paquistão sem visto nem passaporte. Fingiu que era mudo para não ser pego pelo sotaque americano e costurou os negativos dentro das roupas para depois escancarar tudo em capas das maiores revistas do mundo. Nos últimos 30 anos, ele já cobriu guerras no Oriente Médio, a fúria das monções na Índia, o ataque às Torres Gêmeas em Nova York.
Não parece o mesmo homem que come frutas frescas no café da manhã.
Num hotel em São Paulo, onde abre uma exposição nesta terça, ele corta pedaços de melancia e cuida para não deixar cair muito sal no ovo cozido. "No Afeganistão, os campos de batalha são muito fluidos, você nunca sabe em que lado está", lembra McCurry. "Quando a situação fica perigosa, é preciso recuar."
E ele recuou. Talvez cansado de ser sempre o homem por trás dos olhos verdes de Sharbat Gula, mas culpado uma segunda vez por ter voltado ao país para fazer outro retrato dela mais velha, ele parece querer certa distância de seus feitos heroicos.
Viagens ao Afeganistão, a Guerra do Golfo e conflitos armados se transformaram em anedotas coloridas, de tons explosivos. Tanto que sua mostra na galeria de Babel, que destaca as versões de Sharbat Gula, levou o nome" Desassossego da Cor". "Ela era uma garota muito bonita e talvez por isso tenha virado um ícone", diz McCurry. "Mas não sei explicar porque isso aconteceu."

DIGITAL
O fotógrafo está no time da Magnum, fundada por Cartier-Bresson, Robert Capa e outros desbravadores de fronteiras, num momento em que o preto e branco e depois as páginas coloridas da "Life" formavam opiniões e sustentavam uma nova visão global. Mesmo com as cores gritantes, esses fiapos de exotismo hoje parecem um tanto desbotados. Não ofuscam a trajetória de McCurry, nome central do fotojornalismo no século 20, mas fazem pensar que poder tem a imagem num mundo saturado delas, de cores mais escandalosas. E talvez por isso, McCurry deixa o passado onde está.
Ele esqueceu o analógico e exalta o digital. Gosta de ver o que faz na hora em que aperta o botão. "Não é certo esse apego a tecnologias passadas", diz o fotógrafo. "É como querer cavalos no lugar de carros, máquinas de escrever em vez de computadores."


STEVE MCCURRY

ONDE galeria de Babel, r. Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426, tel. 0/xx/11/3825-2507
QUANDO abertura ter., às 18h, seg. a sáb., das 10h às 17h
QUANTO entrada franca




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