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TEATRO
Em meio a onda de interesse sobre o nazismo, montagem de "Albert Speer" mostra vida do arquiteto oficial do Reich
Adolf Hitler retorna à cena em Londres
RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES
Está em cartaz em Londres uma
peça inquietante para quem gosta
de história e ousada para quem se
interessa por teatro. Pela primeira
vez num palco da cidade, um ator
interpreta a figura do ditador
Adolf Hitler distante do estereótipo do "monstro nazista". O resultado é uma provocação.
A peça se chama "Albert Speer"
e retrata a vida do homem que foi
o arquiteto oficial do Partido Nazista e, talvez, o melhor amigo de
Hitler durante a Segunda Guerra.
Jovem profissional sem boas
perspectivas de carreira, ele entrou para o Partido Nazista e ganhou a confiança de Hitler. Em
pouco tempo, Speer tornou-se o
arquiteto mais importante da Alemanha, responsável pelos cenários das manifestações de massa
nazista e pelo projeto megalomaníaco de reconstrução de Berlim.
Depois da guerra, foi condenado a 20 anos de prisão na penitenciária de Spandau, em Berlim. E
escreveu vários livros sobre sua
convivência com a cúpula de poder nazista. O ponto central da
peça escrita por Edgar David (baseada em biografia feita pela jornalista Gitta Sereny) é o questionamento sobre o quanto Speer sabia sobre as atrocidades nazistas.
"Eu deveria saber, eu poderia saber, mas eu não sabia", tenta se
justificar Speer.
"O que assusta em Speer é que
muitas das emoções que o levaram a se deixar seduzir por Hitler
podem ser reconhecidas em outros intelectuais de classe média
que aderiram ao nazismo na década de 30", diz David.
Speer tinha uma devoção pessoal a Hitler, a quem via como
uma figura paterna. Esse é o ponto mais ousado e polêmico da peça: em vez de retratar Hitler como
encarnação do mal, optou-se por
mostrá-lo como um ser humano.
"Um Hitler humano incomoda
mais", diz David.
Só no final da peça, Hitler aparece como um personagem marcado pelo ódio, ávido por destruição e morte. Speer, ao contrário, é
retratado como um personagem
ambíguo. Foi capaz de atos terríveis, mas não era movido pelo
ódio ou pela crença na ideologia
nazista. A impressão que fica é
que ele passou a vida mentindo
para os outros e para si mesmo
para aliviar sua consciência.
Curiosidade crescente
Quase 60 anos depois da rendição da Alemanha aos aliados, o
nazismo ainda ocupa o centro dos
debates no Reino Unido. A peça
sobre Speer é apenas mais uma
das novidades em cena.
Todos os dias, as emissoras de
televisão transmitem documentários sobre a guerra. As livrarias estão repletas de novos estudos sobre Hitler e os jornais trazem, diariamente, notícias sobre o tema.
No início do mês, o respeitado
London Imperial War Museum
abriu a primeira exposição permanente sobre o Holocausto no
Reino Unido, com mapas, objetos, explicações sobre a ideologia
racial nazista e depoimentos dos
sobreviventes do Holocausto.
"A ascensão de grupos neonazistas na Alemanha e o fortalecimento dos partidos de direita em
países como a Áustria levam a se
preocupar com o tema", diz David. O debate ganhou ainda mais
força no Reino Unido devido à recente condenação do historiador
David Irving.
Em seus livros e entrevistas, o
acadêmico sustentava a tese que
não houve o Holocausto, a campanha sistemática de extermínio
dos judeus.
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