São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2000


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TEATRO
"Um Credor da Fazenda Nacional" estréia hoje no Centro Cultural São Paulo e faz crítica atemporal à burocracia
Qorpo Santo enxerga absurdo nacional

DA REDAÇÃO

Produzida num manicômio, em 1866, a obra teatral do porto-alegrense José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo Santo (1829-1883), ficou esquecida durante um século.
Uma pequena amostra de seu teatro é lembrada, porém, a partir de hoje, no Centro Cultural São Paulo, na montagem de "Um Credor da Fazenda Nacional" pela Cia. São Jorge de Variedades.
A companhia, dirigida por Georgette Fadel, uma das fundadoras da Cia. do Latão, surgiu em 98, com "Pedro, o Cru", e chega de apresentações de "Credor" no Festival de Teatro de Curitiba deste ano.
O autor foi escarnecido durante toda sua vida -e morte. Lembrado na Semana de Arte Moderna (1922) pela oposição conservadora para desprestigiar Oswald de Andrade, que teria um estilo muito próximo do dele, Qorpo Santo é mais comentado como o mito esquizofrênico que escrevia peças numa noite (nesse ritmo, produziu 17 textos em menos de um ano) do que efetivamente lido.
Seu teatro, para alguns, adianta o "nonsense" e o "humour" que estão presentes nas peças de dramaturgos como Samuel Beckett e Eugène Ionesco, conhecidos como autores do teatro do absurdo.
O texto que dá nome ao espetáculo é a base para a colagem de cenas de outras obras do autor, como "Dous Irmãos" e "O Marido Extremoso ou o Pai Cuidadoso".
A peça conta as desventuras de um personagem que tenta, em vão, receber dinheiro do governo numa repartição pública. Sem receber e sem ter uma justificativa para isso, sofre uma transformação pessoal e rompe o silêncio, passando a lutar por seus direitos. A trajetória do personagem preso num labirinto burocrático faz pensar em "O Processo", de Franz Kafka.
A montagem compõe-se de textos curtos, de uma oralidade que destoa da escrita romântica do oitocentos, como a de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). O sentimentalismo desses românticos serve apenas, em Qorpo Santo, como recheio de um delírio idealizador e idealizante.
O escritor fez dessa linguagem uma forma de retratar a sociedade da época por meio de personagens e situações autobiográficas. "Ele abre brechas para completarmos", diz a atriz Paula Klein. "Enxergamos a crítica à sociedade atual em seus textos."
(ROGÉRIO EDUARDO ALVES)


Peça: Um Credor da Fazenda Nacional Com: Cia. São Jorge de Variedades Quando: sex. e sáb., às 19h30 e às 21h30; dom., às 18h30 e 20h30 Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611) Quanto: R$ 10

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