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TEATRO
"Um Credor da Fazenda Nacional" estréia hoje no Centro Cultural São Paulo e faz crítica atemporal à burocracia
Qorpo Santo enxerga absurdo nacional
DA REDAÇÃO
Produzida num manicômio,
em 1866, a obra teatral do porto-alegrense José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo Santo (1829-1883), ficou esquecida durante
um século.
Uma pequena amostra de seu
teatro é lembrada, porém, a partir
de hoje, no Centro Cultural São
Paulo, na montagem de "Um Credor da Fazenda Nacional" pela
Cia. São Jorge de Variedades.
A companhia, dirigida por
Georgette Fadel, uma das fundadoras da Cia. do Latão, surgiu em
98, com "Pedro, o Cru", e chega
de apresentações de "Credor" no
Festival de Teatro de Curitiba deste ano.
O autor foi escarnecido durante
toda sua vida -e morte. Lembrado na Semana de Arte Moderna
(1922) pela oposição conservadora para desprestigiar Oswald de
Andrade, que teria um estilo muito próximo do dele, Qorpo Santo
é mais comentado como o mito
esquizofrênico que escrevia peças
numa noite (nesse ritmo, produziu 17 textos em menos de um
ano) do que efetivamente lido.
Seu teatro, para alguns, adianta
o "nonsense" e o "humour" que
estão presentes nas peças de dramaturgos como Samuel Beckett e
Eugène Ionesco, conhecidos como autores do teatro do absurdo.
O texto que dá nome ao espetáculo é a base para a colagem de cenas de outras obras do autor, como "Dous Irmãos" e "O Marido
Extremoso ou o Pai Cuidadoso".
A peça conta as desventuras de
um personagem que tenta, em
vão, receber dinheiro do governo
numa repartição pública. Sem receber e sem ter uma justificativa
para isso, sofre uma transformação pessoal e rompe o silêncio,
passando a lutar por seus direitos.
A trajetória do personagem preso
num labirinto burocrático faz
pensar em "O Processo", de Franz
Kafka.
A montagem compõe-se de textos curtos, de uma oralidade que
destoa da escrita romântica do oitocentos, como a de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). O
sentimentalismo desses românticos serve apenas, em Qorpo Santo, como recheio de um delírio
idealizador e idealizante.
O escritor fez dessa linguagem
uma forma de retratar a sociedade da época por meio de personagens e situações autobiográficas.
"Ele abre brechas para completarmos", diz a atriz Paula Klein. "Enxergamos a crítica à sociedade
atual em seus textos."
(ROGÉRIO EDUARDO ALVES)
Peça: Um Credor da Fazenda Nacional
Com: Cia. São Jorge de Variedades
Quando: sex. e sáb., às 19h30 e às
21h30; dom., às 18h30 e 20h30
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611)
Quanto: R$ 10
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