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O artista americano Gary Hill volta a São Paulo em setembro para o 13º Videobrasil
Nas ondas da videoarte
"Wall Piece" , videoinstalação em cartaz na "Plataforma da Humanidade", na Bienal de Veneza, vem para o festival
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
O videoartista Gary Hill chega
ao Brasil em setembro para participar do 13º Videobrasil. Além do
equipamento técnico, traz na bagagem também uma prancha de
surfe. "Mal posso esperar para
mergulhar nas águas brasileiras",
conta à Folha, numa entrevista
feita pela internet. Aos 50 anos,
Hill diz que "quer cada vez mais
aproveitar a vida".
O artista vem com sua mulher, a
cantora sueca Pauline Wallenberg-Olsson, com quem faz uma
performance durante o festival.
Ela é a sua atual musa.
Reconhecido como um dos artistas mais importantes de sua geração, junto com Bill Viola e Nam
June Paik, Hill é um dos popstars
da videoarte, apesar de não gostar
do termo. Leia a seguir o porquê.
Folha - Quais obras você vai trazer ao Brasil?
Gary Hill - Eu vou mostrar três
instalações: "Remarks on Color",
"Remembering Paralinguay" e
"Wall Piece". Todas, em formas
diversas, estão centradas na voz e
na comunicação. Irei fazer também uma performance em conjunto com Pauline Wallenberg-Olsson intitulada "Black Performance". O trabalho incorpora
voz, vídeos ao vivo e gravado,
efeitos sonoros e uma iluminação
com efeitos especiais. Acho que
nós quase não somos vistos, são
nossas sombras e projeções que
realizam a performance de fato.
Ela é o resultado do balanço entre
presença e ausência.
Folha - Em geral, seus trabalhos
possuem um ritmo desacelerado,
bastante diferente de "Wall Piece",
exposto em Veneza, uma obra bastante violenta...
Hill - Eu tendo a crer que meus
trabalhos são bastante perturbadores, independentemente do ritmo. Claro que "Wall Piece" é
muito mais forte, mas apenas
quando alguém permanece na sala de exibição por um tempo e ouve o texto falado é que terá oportunidade de desfrutá-lo de fato.
Folha - A videoarte se tornou uma
moda entre jovens artistas, não é?
Hill - É incrível quanta "videoarte" (pessoalmente não suporto esse termo) estava na Bienal de Veneza este ano. E, é verdade, a
maioria deles deixa muito a desejar. Parece que existe uma tendência em mostrar trabalhos com a
supremacia da imagem em movimento, como se isso legitimasse
qualquer trabalho. Infelizmente, a
produção é, em geral, muita narrativa sem graça e trabalhos sem
nenhum desafio.
Folha - Sua relação com tecnologia é uma forma de tratar de questões humanas e não de celebrar a
própria tecnologia. Estamos perdendo o contato com os outros?
Hill - Estamos chegando a uma
espécie de estágio, no qual o corpo e o mundo "analógico" estão
sendo desafiados por diversas
áreas, incluindo clonagem, experiências genéticas, realidade virtual, inteligência artificial etc.
Contudo, quando a maior parte
de nós é forçada a se tocar, seja
um leve toque ou um empurrão,
gostamos do contato físico, ele faz
parte da natureza humana. Eu duvido muito que a sinestesia dos
sentidos vai um dia chegar a ser
reproduzida digitalmente.
Folha - Você assiste televisão? Isso contribui em seu trabalho?
Hill - Em geral, vejo à noite algum seriado para relaxar. A TV
não contribui em meu trabalho,
exceção quando faço algo como
reação a ela. Por exemplo, o número de imagens e a velocidade
com que se tornam forma na televisão poderiam ter a ver com minha tentativa de desorganizar as
imagens e mudar a relação das
pessoas com o tempo.
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