São Paulo, sábado, 23 de junho de 2001

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O artista americano Gary Hill volta a São Paulo em setembro para o 13º Videobrasil

Nas ondas da videoarte

"Wall Piece" , videoinstalação em cartaz na "Plataforma da Humanidade", na Bienal de Veneza, vem para o festival

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O videoartista Gary Hill chega ao Brasil em setembro para participar do 13º Videobrasil. Além do equipamento técnico, traz na bagagem também uma prancha de surfe. "Mal posso esperar para mergulhar nas águas brasileiras", conta à Folha, numa entrevista feita pela internet. Aos 50 anos, Hill diz que "quer cada vez mais aproveitar a vida".
O artista vem com sua mulher, a cantora sueca Pauline Wallenberg-Olsson, com quem faz uma performance durante o festival. Ela é a sua atual musa.
Reconhecido como um dos artistas mais importantes de sua geração, junto com Bill Viola e Nam June Paik, Hill é um dos popstars da videoarte, apesar de não gostar do termo. Leia a seguir o porquê.

Folha - Quais obras você vai trazer ao Brasil?
Gary Hill -
Eu vou mostrar três instalações: "Remarks on Color", "Remembering Paralinguay" e "Wall Piece". Todas, em formas diversas, estão centradas na voz e na comunicação. Irei fazer também uma performance em conjunto com Pauline Wallenberg-Olsson intitulada "Black Performance". O trabalho incorpora voz, vídeos ao vivo e gravado, efeitos sonoros e uma iluminação com efeitos especiais. Acho que nós quase não somos vistos, são nossas sombras e projeções que realizam a performance de fato. Ela é o resultado do balanço entre presença e ausência.

Folha - Em geral, seus trabalhos possuem um ritmo desacelerado, bastante diferente de "Wall Piece", exposto em Veneza, uma obra bastante violenta...
Hill -
Eu tendo a crer que meus trabalhos são bastante perturbadores, independentemente do ritmo. Claro que "Wall Piece" é muito mais forte, mas apenas quando alguém permanece na sala de exibição por um tempo e ouve o texto falado é que terá oportunidade de desfrutá-lo de fato.

Folha - A videoarte se tornou uma moda entre jovens artistas, não é?
Hill -
É incrível quanta "videoarte" (pessoalmente não suporto esse termo) estava na Bienal de Veneza este ano. E, é verdade, a maioria deles deixa muito a desejar. Parece que existe uma tendência em mostrar trabalhos com a supremacia da imagem em movimento, como se isso legitimasse qualquer trabalho. Infelizmente, a produção é, em geral, muita narrativa sem graça e trabalhos sem nenhum desafio.

Folha - Sua relação com tecnologia é uma forma de tratar de questões humanas e não de celebrar a própria tecnologia. Estamos perdendo o contato com os outros?
Hill -
Estamos chegando a uma espécie de estágio, no qual o corpo e o mundo "analógico" estão sendo desafiados por diversas áreas, incluindo clonagem, experiências genéticas, realidade virtual, inteligência artificial etc.
Contudo, quando a maior parte de nós é forçada a se tocar, seja um leve toque ou um empurrão, gostamos do contato físico, ele faz parte da natureza humana. Eu duvido muito que a sinestesia dos sentidos vai um dia chegar a ser reproduzida digitalmente.

Folha - Você assiste televisão? Isso contribui em seu trabalho?
Hill -
Em geral, vejo à noite algum seriado para relaxar. A TV não contribui em meu trabalho, exceção quando faço algo como reação a ela. Por exemplo, o número de imagens e a velocidade com que se tornam forma na televisão poderiam ter a ver com minha tentativa de desorganizar as imagens e mudar a relação das pessoas com o tempo.

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