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FOTOGRAFIA
Imagens recuperadas registram viagens da corte pelo mundo
D. Pedro 2º mostra-se, inédito, no século 21
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
A invenção da fotografia, na
metade do século 19, fascinou o
imperador d. Pedro 2º de tal forma que ele se tornou uma das pessoas mais fotografadas naquele
período e um dos primeiros grandes colecionadores de fotografias
no mundo. Essa paixão conseguiu manter segredos que são revelados apenas nesta semana, 112
anos após ele doar parte de sua
coleção para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Em 1891, entre 20 mil imagens
deixadas pelo monarca, estavam
cinco caixas de flandres com 590
fotografias adquiridas durante
viagens ao redor do mundo. Com
o passar do tempo, a reação entre
a emulsão à base de albumina
(clara de ovo) e o papel fotográfico fez com que as fotografias ficassem enroladas. Porém, como
as caixas se mantiveram fechadas,
ao abrigo da luz e da umidade, a
qualidade das imagens se manteve intacta.
Graças ao empenho de Joaquim
Marçal, chefe da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional, e
sua equipe, que há anos vêm se
dedicando à recuperação desse
importante acervo, e ao patrocínio do Instituto Cultural Banco
Santos, as "enroladinhas", apelido dado às imagens, foram de-
senroladas e recuperadas dentro
de câmeras de umidificação com
vapor, importadas dos EUA.
Dessa forma, ao menos 126 imagens do século 19, que permaneceram inéditas no século 20, serão
apresentadas a partir desta quarta-feira ao público.
As fotografias que agora estão
"De Volta à Luz" funcionam como anotações do diário de viagem do imperador e sua comitiva
pela Espanha, Itália, Síria, Líbano,
Jerusalém e Egito. Naquela época
a fotografia era feita em negativos
de vidro em grandes formatos
que resultavam em uma impressionante qualidade, como agora
pode ser atestado.
A mostra tem curadoria do pesquisador Rubens Fernandes Junior e do próprio Marçal. Disposta em três módulos, a mostra inicia com um retrato a óleo do monarca, todo paramentado, que
serve de contraponto a um auto-retrato fotográfico no qual ele surge mais informal.
No primeiro módulo, foram
dispostas imagens do imperador
e seus parentes num móvel que
sugere uma grande mesa familiar.
Eles aparecem sempre posando,
deixando visível que a invenção
da fotografia seduziu totalmente a
corte.
No segundo módulo, no mezanino, várias imagens são projetadas sobre placas de vidro ao lado
de textos que narram a saga das
viagens e a forma como as "enroladinhas" foram recuperadas. É o
terceiro módulo, porém, que deverá ficar para a história das mostras de fotografia na cidade.
Espiral
Concebido por Marcello Dantas, o espaço reservado às "enroladinhas" consegue harmonizar
de forma contundente a criatividade do projeto expositivo com a
necessidade de preservação e respeito às fotografias recuperadas.
Utilizando uma nova tecnologia
à base de fitas de papel dotadas de
eletroluminescência, que produzem uma luz muito suave e difusa, Dantas dispôs as fotografias
numa espiral, que remonta à forma como elas estavam guardadas
nas caixas.
Quando o visitante chega à sala,
onde no escuro se vê apenas a forma da espiral suspensa, a luz de
cada bloco de fotografias é lentamente acionada pelo peso do corpo do observador sobre o carpete.
Ao passar, as imagens vistas vão
se apagando e as seguintes se
acendem, assim sucessivamente
até o visitante desenrolar essa fascinante história até o final.
DE VOLTA À LUZ - FOTOGRAFIAS DA
COLEÇÃO DO IMPERADOR D. PEDRO
2º. Onde: Instituto Cultural Banco Santos
(r. Hungria, 1.100, Jardim Europa, SP; tel.
0/xx/11/3818-9591). Quando: abertura,
hoje e amanhã, para convidados; a partir
do dia 25, para o público; até 31 de
outubro; de ter. a sex., das 10h às 18h;
sáb., dom. e feriados, das 10h às 17h.
Quanto: entrada gratuita. Patrocinador:
banco Santos.
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