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ANÁLISE
Novela mimetiza conservadorismo
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Cerca de 15 anos depois de
"Vale Tudo", o sucesso de
Gilberto Braga que marcou a Nova República, novelas andam sintomaticamente menos provocativas. "Celebridade" termina depois de amanhã como uma versão
moralizante da antecessora, para
usar os termos do próprio autor.
A novela vem longamente terminando ao longo dos últimos capítulos. Reduzida a planos e contraplanos bem fechados, que praticamente excluem cenários, locações e cortes básicos que seguem
as falas, "Celebridade" mimetiza
um certo conservadorismo em
voga.
"Vale Tudo" se apresentava, ao
som de Cazuza, como uma crônica do país. Embalada nas cores
nacionais, situada em paisagens
significativas, as tramóias, os negócios e romances evoluíram em
uma dinâmica que salientava a
ambigüidade dos tempos que se
abriam.
Entre realista e cínica, "Vale Tudo" expandiu o escopo da novela.
"Celebridade" é mais restrita e
"contundente". Funciona como
contraponto à ilusão de que liberou geral. Afinal, a fama não é para qualquer um.
Marlyse Meyer, em seu portentoso volume "Folhetim", sugere
que a raiz da novela está no gênero literário francês do século 19,
que dá nome ao livro. A forma seriada de escrever capítulos de histórias baseadas em notícias apimentadas sobre intrigas da vida
cotidiana preenchia os pés das páginas dos jornais de então.
Romancistas populares retrabalhavam notícias, recebiam cartas
de leitores e sentiam o falatório. O
escritor navegava nessa trama.
Cabia a ele definir rotas em meio a
referências aos acontecimentos
contingentes da época.
Duzentos anos depois, telenovelas seguem essa vocação, que
também já foi do cinema. Elas
"pegam" quando sintonizam climas que estão no ar. Envolvem as
pessoas em uma rede de tramas e
comentários. Escritas e feitas ao
mesmo tempo em que vão ao ar,
se alimentam da sensibilidade do
escritor para captar e dar forma a
sensações alheias.
Assim, entre clipes de cantores
consagrados, homenagens ao cinema e estranho merchandising
da Petrobras, "Celebridade" não
causa frisson. Sinal de um oficialismo morno, que pode dar bons
índices de audiência, mas não polariza.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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