São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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"Paisagem e Silêncio" reúne três peças curtas de Harold Pinter

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos anos 60, o inglês Harold Pinter, então na casa dos 30, fixava-se em "medir as distâncias que isolam os seres humanos". Hoje, aos 74, sua dramaturgia certamente ainda é permeada por aquele viés, ora revisitado na montagem de "Paisagem e Silêncio", que estréia hoje no auditório da Cultura Inglesa, no bairro de Higienópolis, em São Paulo.
Trata-se da reunião de três textos curtos que retratam aquela fase de Pinter e lançam outro eixo importante em sua escrita teatral: a memória.
"Paisagem" e "Silêncio", que se passam mais num ambiente mental dos personagens, estrearam juntas numa produção londrina de 1969. Um esquete daquele mesmo ano, "Noite", fincada no mundo real, intercala as duas peças na versão brasileira.
Os textos foram traduzidos por Alexandre Tenório, um pintermaníaco, que assina a direção com a atriz Denise Weinberg, ex-integrante e fundadora do grupo Tapa ("Vestido de Noiva").
A eleição desse tríptico quer dar conta daquele que seria o verdadeiro protagonista do espetáculo: o relacionamento entre os seres.
À época, o autor de "O Amante" já era bastante prestigiado: afastava-se do realismo formal da comédia ou do suspense e enveredava por uma linguagem de cunho impressionista.
"Queremos seguir a trajetória de uma relação que se inicia verde, jovem, selvagem em "Silêncio", uma relação que ainda se encanta e se descobre, mas que já traz em si a semente da inevitável solidão", afirma Tenório.
"O caminho segue por "Noite': alguns minutos numa noite de uma relação já conhecida, vivida, amarga e ainda "amável". No final, o que resta é "Paisagem", uma tela esfacelada, a pintura de uma relação desbotada, numa casa habitada pelo abandono, onde cores sem contorno às vezes iluminam o coloridíssimo espectro da única coisa que ainda resta: a memória", completa.

Simplificação
A direção vê no espetáculo a possibilidade de uma realização formal altamente plástica e simples, mas acima de tudo teatral. Um caminho inclusive sensorial, como se depreende da cenografia do próprio Tenório e na iluminação de Nelson Ferreira.
"O passaporte para a viagem até Pinter está no som, na sombra, no silêncio, na ausência. É preciso fazer aflorar níveis adormecidos de percepção para que a emoção resulte mais do que se sinta ou intua do que se compreenda, mais de como as palavras soam e menos do que elas significam", afirma Tenório.
Os atores Charles Geraldi, Rennata Airoldi e Sergio Carrera se desdobram nas três peças curtas.
A música foi composta por Eduardo Agni. Os figurinos são de Carol Badra.
"Paisagem e Silêncio" foi uma das três peças selecionadas para a última edição do Cultura Inglesa Festival, em maio, ao lado de "Um Lugar Perfeito", de Phillip Ridley, com direção de Marco Antônio Braz, e "Solidão", de Steven Berkoff, com a Cia. Arte Tangível.


Paisagem e Silêncio
Quando:
estréia hoje, às 21h; qua. e qui., às 21h
Onde: auditório da Cultura Inglesa - Higienópolis (r. Higienópolis, 449, SP, tel. 0/xx/11/3826-4322)
Quanto: R$ 15


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