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"Paisagem e Silêncio" reúne três peças curtas de Harold Pinter
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos anos 60, o inglês Harold
Pinter, então na casa dos 30, fixava-se em "medir as distâncias que
isolam os seres humanos". Hoje,
aos 74, sua dramaturgia certamente ainda é permeada por
aquele viés, ora revisitado na
montagem de "Paisagem e Silêncio", que estréia hoje no auditório
da Cultura Inglesa, no bairro de
Higienópolis, em São Paulo.
Trata-se da reunião de três textos curtos que retratam aquela fase de Pinter e lançam outro eixo
importante em sua escrita teatral:
a memória.
"Paisagem" e "Silêncio", que se
passam mais num ambiente mental dos personagens, estrearam
juntas numa produção londrina
de 1969. Um esquete daquele
mesmo ano, "Noite", fincada no
mundo real, intercala as duas peças na versão brasileira.
Os textos foram traduzidos por
Alexandre Tenório, um pintermaníaco, que assina a direção
com a atriz Denise Weinberg, ex-integrante e fundadora do grupo
Tapa ("Vestido de Noiva").
A eleição desse tríptico quer dar
conta daquele que seria o verdadeiro protagonista do espetáculo:
o relacionamento entre os seres.
À época, o autor de "O Amante"
já era bastante prestigiado: afastava-se do realismo formal da comédia ou do suspense e enveredava por uma linguagem de cunho
impressionista.
"Queremos seguir a trajetória
de uma relação que se inicia verde, jovem, selvagem em "Silêncio",
uma relação que ainda se encanta
e se descobre, mas que já traz em
si a semente da inevitável solidão", afirma Tenório.
"O caminho segue por "Noite':
alguns minutos numa noite de
uma relação já conhecida, vivida,
amarga e ainda "amável". No final,
o que resta é "Paisagem", uma tela
esfacelada, a pintura de uma relação desbotada, numa casa habitada pelo abandono, onde cores
sem contorno às vezes iluminam
o coloridíssimo espectro da única
coisa que ainda resta: a memória", completa.
Simplificação
A direção vê no espetáculo a
possibilidade de uma realização
formal altamente plástica e simples, mas acima de tudo teatral.
Um caminho inclusive sensorial,
como se depreende da cenografia
do próprio Tenório e na iluminação de Nelson Ferreira.
"O passaporte para a viagem até
Pinter está no som, na sombra, no
silêncio, na ausência. É preciso fazer aflorar níveis adormecidos de
percepção para que a emoção resulte mais do que se sinta ou intua
do que se compreenda, mais de
como as palavras soam e menos
do que elas significam", afirma
Tenório.
Os atores Charles Geraldi, Rennata Airoldi e Sergio Carrera se
desdobram nas três peças curtas.
A música foi composta por
Eduardo Agni. Os figurinos são
de Carol Badra.
"Paisagem e Silêncio" foi uma
das três peças selecionadas para a
última edição do Cultura Inglesa
Festival, em maio, ao lado de "Um
Lugar Perfeito", de Phillip Ridley,
com direção de Marco Antônio
Braz, e "Solidão", de Steven Berkoff, com a Cia. Arte Tangível.
Paisagem e Silêncio
Quando: estréia hoje, às 21h; qua. e qui.,
às 21h
Onde: auditório da Cultura Inglesa
- Higienópolis (r. Higienópolis, 449, SP,
tel. 0/xx/11/3826-4322)
Quanto: R$ 15
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