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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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MÚSICA

Críticos do "New York Times" elogiam apresentações de brasileiros em festival

Brown "rouba" shows em Nova York

BEN RATLIFF
DO "NEW YORK TIMES"

Quando artistas brasileiros chegam a Nova York, normalmente fazem apenas um show, sem banda de abertura. Os brasileiros locais imediatamente devoram todos os ingressos, e as cabeças americanas mal são tocadas pelo evento. Mas com os cinco shows de Brazil Beyond Bossa [Brasil Além da Bossa], parte do festival do Lincoln Center na semana passada, um gringo tem pelo menos uma chance razoável de chegar em tempo de acompanhá-los.
No show de abertura, quarta-feira, Selma do Coco, uma pernambucana de seus 60 e poucos anos, se postava entre quatro percussionistas e três cantores de apoio. Ela disparava letras sincopadas sobre marinheiros, pescadores e tubarões, às vezes cantando e às vezes deslizando para o proto-rap ou embolada.
O Mundo Livre S.A. veio a seguir com um show misturando sons velhos e tradicionais, incluindo o pequeno violão conhecido como cavaquinho -e uma espécie de rock boêmio e discursivo. Seu guitarrista, cantor e letrista Fred 04 exibe uma voz fatigada e lamuriosa que se estende para além das divisões dos compassos. Ele cantou poemas em prosa fantásticos como "Alice Williams", que compara uma mulher a um carro de corrida. O Mundo Livre S.A. é uma banda amistosa e um tanto desordenada e perdeu algum tempo entre suas canções.
Mas o show da quinta-feira atraiu tanto os norte quanto os sul-americanos. O espetáculo envolvia duas bandas fundadas por Carlinhos Brown, astro pop, herói local e descobridor (ou manipulador) de talentos na Bahia.
Sua banda de jovens, a Lactomia, tocou primeiro, e ainda que a música, um funk afro-brasileiro com vocais pop leves e raps sobre a política, talvez precise de mais personalidade, o aspecto teatral do espetáculo é que terminou mais importante. Quando as luzes se acenderam, os nove jovens membros da banda foram vistos vasculhando latas de lixo, fingindo que cheiravam cola e chacoalhando latas pedindo moedas.
A Timbalada, mais popular das bandas percussivas supervisionadas por Brown, fechou o espetáculo com música de Carnaval da Bahia tocada muito rápido. É uma música tão ruidosa e com base tão forte em cânticos tradicionais que simplesmente oblitera o pensamento, você se deixa envolver.
Por fim, Brown subiu ao palco em pessoa, com um cocar branco, de torso nu e usando calças de pele de leopardo. E ele roubou o show, cantando, saltando, tocando seu tambor. Tocou músicas de sua carreira solo e depois um bloco afro-cubano, com "Blen Blen Blen", de Chano Pozo, dedicando o espetáculo a Celia Cruz, morta na semana passada. Correu para o meio do teatro, fez discurso em inglês improvisado sobre o desarmamento e a prevenção da Aids e liderou um coro de "Get Up, Stand Up", de Bob Marley. Para um músico médio, isso seria de uma gula insensata. Mas Brown não é um músico médio.

"Paz e amor"
Para outro crítico do jornal, Jon Pareles, um dos mais conhecidos dos EUA, as músicas de Brown são "cosmopolitas e cheias de sentimentos de paz e amor". Pareles ainda elogiou o DJ Dolores, que teria "traçado um paralelo entre as maratonas celebratórias de maracatu no Carnaval e as intoxicações noturnas de uma rave".


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