São Paulo, sábado, 23 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BEST SELLER NA MIRA

Meditação atrapalha suspense de McCarthy

MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES"

O último romance de Cormac McCarthy, "No Country for Old Men" ["Sem Lugar para Homens Velhos", em tradução livre] começa como um faroeste forte e new wave. Imagine Quentin Tarantino dialogando com Sam Peckinpah e filmando uma história ágil e violenta sobre um assassino frio, sobre um xerife de cidadezinha e sobre um Zé Ninguém que tropeça numa maleta de couro abarrotada com mais de U$ 2 milhões, dinheiro de drogas.
Intercaladas com essa trama emocionante, contudo, estão as meditações temerárias sobre vida e fé, sobre o declínio e a queda da civilização ocidental. Essas passagens tristes, que lembram as mais pretensiosas passagens dos romances anteriores de McCarthy -como "A Travessia"-, ganham espaço quando se avança no livro e gradualmente ocupam na história o lugar do grande suspense.
O xerife, descobrimos, é assombrado por um episódio do seu passado. Apesar de condecorado na Segunda Guerra, é culpado de um ato de covardia que contribuiu para a morte de vários homens de sua unidade. Desde então tenta reparar sua vida, usando o trabalho de xerife como uma segunda chance para se auto-afirmar.
McCarthy sempre se dividiu entre uma prosa limpa ao estilo de Hemingway e uma pseudograndiloqüência ao estilo de Faulkner. Neste romance, transforma o pobre Bell no porta-voz da suas reflexões pesadas e sentimentais. Bell vocifera sobre como o país muda para pior. Fala das pessoas que não têm mais boas maneiras, do aumento nos crimes horríveis e de como ninguém "respeita mais a lei".
Certamente o caso que Bell está investigando é particularmente terrível: perto da fronteira com o México, seis corpos foram encontrados ao lado de um cachorro morto e de sinais de heroína. Para piorar, ocorrem mortes que parecem estar relacionadas com o massacre. A começar pelo estrangulamento de um assistente do xerife praticado por um fugitivo que seqüestra e mata um motorista e foge com seu carro, cometendo outras barbaridades sem sentido.
Esse fugitivo se chama Chigurh e, como o louco e niilista juiz Holden de "Blood Meridian" ["Meridiano de Sangue"], personifica a violência e o mal que McCarthy vê no coração do ser humano -a convicção, como o juiz coloca, de que o único homem que realmente viveu foi "o que se entregou por inteiro à guerra sangrenta, que chegou ao fundo do poço e viu o horror".
A busca pelos culpados também leva os personagens a cruzarem a fronteira mexicana -a metafórica linha Maginot na ficção de McCarthy. O escritor transforma o elaborado jogo de gato e rato em um drama enérgico, que corta de uma cena violenta e assustadora para outra com economia e precisão. De fato, a obra poderia facilmente ser adaptada para o cinema desde que os monólogos longos e tediosos fossem cortados. Aliás, essa providência transformaria o livro num romance muito mais convincente.


No Country for Old Men
Autor:
Cormac McCarthy
Editora: Knopf
Quanto: US$ 24,95 (R$ 58, 320 págs.)
Onde comprar: www.amazon.com


Texto Anterior: História/"Comandante Che": Biografia analisa o Che estrategista
Próximo Texto: Vitrine Brasileira
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.