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BEST SELLER NA MIRA
Meditação atrapalha suspense de McCarthy
MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES"
O último romance de Cormac McCarthy, "No
Country for Old Men" ["Sem
Lugar para Homens Velhos",
em tradução livre] começa como um faroeste forte e new wave. Imagine Quentin Tarantino
dialogando com Sam Peckinpah
e filmando uma história ágil e
violenta sobre um assassino frio,
sobre um xerife de cidadezinha
e sobre um Zé Ninguém que tropeça numa maleta de couro
abarrotada com mais de U$ 2
milhões, dinheiro de drogas.
Intercaladas com essa trama
emocionante, contudo, estão as
meditações temerárias sobre vida e fé, sobre o declínio e a queda da civilização ocidental. Essas
passagens tristes, que lembram
as mais pretensiosas passagens
dos romances anteriores de
McCarthy -como "A Travessia"-, ganham espaço quando
se avança no livro e gradualmente ocupam na história o lugar do grande suspense.
O xerife, descobrimos, é assombrado por um episódio do
seu passado. Apesar de condecorado na Segunda Guerra, é
culpado de um ato de covardia
que contribuiu para a morte de
vários homens de sua unidade.
Desde então tenta reparar sua
vida, usando o trabalho de xerife
como uma segunda chance para
se auto-afirmar.
McCarthy sempre se dividiu
entre uma prosa limpa ao estilo
de Hemingway e uma pseudograndiloqüência ao estilo de
Faulkner. Neste romance, transforma o pobre Bell no porta-voz
da suas reflexões pesadas e sentimentais. Bell vocifera sobre como o país muda para pior. Fala
das pessoas que não têm mais
boas maneiras, do aumento nos
crimes horríveis e de como ninguém "respeita mais a lei".
Certamente o caso que Bell está investigando é particularmente terrível: perto da fronteira com o México, seis corpos foram encontrados ao lado de um
cachorro morto e de sinais de
heroína. Para piorar, ocorrem
mortes que parecem estar relacionadas com o massacre. A começar pelo estrangulamento de
um assistente do xerife praticado por um fugitivo que seqüestra e mata um motorista e foge
com seu carro, cometendo outras barbaridades sem sentido.
Esse fugitivo se chama Chigurh e, como o louco e niilista
juiz Holden de "Blood Meridian" ["Meridiano de Sangue"],
personifica a violência e o mal
que McCarthy vê no coração do
ser humano -a convicção, como o juiz coloca, de que o único
homem que realmente viveu foi
"o que se entregou por inteiro à
guerra sangrenta, que chegou ao
fundo do poço e viu o horror".
A busca pelos culpados também leva os personagens a cruzarem a fronteira mexicana -a
metafórica linha Maginot na ficção de McCarthy. O escritor
transforma o elaborado jogo de
gato e rato em um drama enérgico, que corta de uma cena violenta e assustadora para outra
com economia e precisão. De fato, a obra poderia facilmente ser
adaptada para o cinema desde
que os monólogos longos e tediosos fossem cortados. Aliás,
essa providência transformaria
o livro num romance muito
mais convincente.
No Country for Old Men
Autor: Cormac McCarthy
Editora: Knopf
Quanto: US$ 24,95 (R$ 58, 320 págs.)
Onde comprar: www.amazon.com
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