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Crítica/"Todos os Homens do Presidente"
Investigação sobre Watergate dá lições ao jornalismo de hoje
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Follow the money"
(siga o dinheiro),
orientava, pausadamente, a voz do misterioso informante conhecido como Garganta Profunda, ao jovem repórter do "Washington Post"
Bob Woodward (Robert Redford), numa garagem às escuras, no meio da noite.
Nos 30 anos que separam o
lançamento nos cinemas de
"Todos os Homens do Presidente" e os dias de hoje, mudou
o jornalismo, mudou a maneira
como circulam as informações
e mudou a geopolítica mundial,
mas as razões dos crimes de poder -e suas respectivas pistas- continuam as mesmas.
O filme, lançado agora em
DVD, relata como Bob Woodward e Carl Bernstein, jornalistas do "Washington Post", desvendaram a relação entre o então presidente dos EUA, Richard Nixon, e a invasão do escritório do comitê democrata
no edifício Watergate. A operação tencionava sabotar a campanha eleitoral do oponente de
Nixon, o senador George
McGovern. O escândalo levou à
renúncia do presidente.
Aos olhos de hoje, a saga dos
repórteres parece romântica e
heróica em demasia. Mas o filme, para além da importância
histórica, guarda passagens cinematográficas marcantes, como a maneira como o diretor
Alan J. Pakula retratou Wa-shington, uma cidade cinzenta
e cheia de construções de concreto, aparentemente sem vida,
na qual pessoas e carros, filmados do alto, parecem pequenos
e insignificantes diante da força invisível do poder.
Os extras do DVD trazem
bom material para discussões
atuais sobre a relação entre a
imprensa e o poder. O editor da
revista "Newsweek" faz um incômodo paralelo com o que poderia acontecer se Watergate estourasse nos dias de hoje:
Woodward e Bernstein provavelmente seriam levados ao tribunal e forçados a revelar quem era o Garganta Profunda, não
iam querer dizer, iriam para a
cadeia e a história nunca seria
revelada. "O que é meio assustador", conclui.
A história do mítico Garganta Profunda, cuja identidade só
foi revelada no ano passado, é
contada num mini-documentário. Mas as razões que teriam
lavado Mark Felt, então funcionário de alto escalão do FBI, a
vazar informações aos repórteres são apenas especuladas.
Os "verdadeiros" Bernstein
(vivido por Dustin Hoffman) e
Woodward dão longos depoimentos, assim como o então
editor-chefe do "Post", Ben
Bradlee (que, de carne e osso, é
mais simpático e menos canastrão do que na interpretação de
Jason Robards).
"Boa Noite e Boa Sorte"
Bem menos interessante é
outro lançamento em DVD de
um filme sobre jornalismo e
política, "Boa Noite e Boa Sorte". Dirigido por George Clooney, a produção relata a história do âncora Edward R. Murrow, que, nos anos 50, enfrentou o senador republicano Joseph McCarthy e sua política
de perseguição a ditos "comunistas" em seu programa na rede CBS. Fraca direção de atores
e muita falação em torno de
passagens demasiado específicas desse embate diminuem o
filme. Interessantes são as imagens de época do próprio
McCarthy e dos processos. Os
extras também são fracos, só
com depoimentos elogiosos de
todos sobre todos.
TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE
Lançamento: Warner
Direção: Alan J.Pakula
Quanto: R$ 47,90
BOA NOITE E BOA SORTE
Lançamento: Paris
Direção: George Clooney
Quanto: só para locação
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