São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Todos os Homens do Presidente"

Investigação sobre Watergate dá lições ao jornalismo de hoje

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Follow the money" (siga o dinheiro), orientava, pausadamente, a voz do misterioso informante conhecido como Garganta Profunda, ao jovem repórter do "Washington Post" Bob Woodward (Robert Redford), numa garagem às escuras, no meio da noite.
Nos 30 anos que separam o lançamento nos cinemas de "Todos os Homens do Presidente" e os dias de hoje, mudou o jornalismo, mudou a maneira como circulam as informações e mudou a geopolítica mundial, mas as razões dos crimes de poder -e suas respectivas pistas- continuam as mesmas.
O filme, lançado agora em DVD, relata como Bob Woodward e Carl Bernstein, jornalistas do "Washington Post", desvendaram a relação entre o então presidente dos EUA, Richard Nixon, e a invasão do escritório do comitê democrata no edifício Watergate. A operação tencionava sabotar a campanha eleitoral do oponente de Nixon, o senador George McGovern. O escândalo levou à renúncia do presidente.
Aos olhos de hoje, a saga dos repórteres parece romântica e heróica em demasia. Mas o filme, para além da importância histórica, guarda passagens cinematográficas marcantes, como a maneira como o diretor Alan J. Pakula retratou Wa-shington, uma cidade cinzenta e cheia de construções de concreto, aparentemente sem vida, na qual pessoas e carros, filmados do alto, parecem pequenos e insignificantes diante da força invisível do poder.
Os extras do DVD trazem bom material para discussões atuais sobre a relação entre a imprensa e o poder. O editor da revista "Newsweek" faz um incômodo paralelo com o que poderia acontecer se Watergate estourasse nos dias de hoje: Woodward e Bernstein provavelmente seriam levados ao tribunal e forçados a revelar quem era o Garganta Profunda, não iam querer dizer, iriam para a cadeia e a história nunca seria revelada. "O que é meio assustador", conclui.
A história do mítico Garganta Profunda, cuja identidade só foi revelada no ano passado, é contada num mini-documentário. Mas as razões que teriam lavado Mark Felt, então funcionário de alto escalão do FBI, a vazar informações aos repórteres são apenas especuladas.
Os "verdadeiros" Bernstein (vivido por Dustin Hoffman) e Woodward dão longos depoimentos, assim como o então editor-chefe do "Post", Ben Bradlee (que, de carne e osso, é mais simpático e menos canastrão do que na interpretação de Jason Robards).

"Boa Noite e Boa Sorte"
Bem menos interessante é outro lançamento em DVD de um filme sobre jornalismo e política, "Boa Noite e Boa Sorte". Dirigido por George Clooney, a produção relata a história do âncora Edward R. Murrow, que, nos anos 50, enfrentou o senador republicano Joseph McCarthy e sua política de perseguição a ditos "comunistas" em seu programa na rede CBS. Fraca direção de atores e muita falação em torno de passagens demasiado específicas desse embate diminuem o filme. Interessantes são as imagens de época do próprio McCarthy e dos processos. Os extras também são fracos, só com depoimentos elogiosos de todos sobre todos.


TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE     
Lançamento: Warner
Direção: Alan J.Pakula
Quanto: R$ 47,90

BOA NOITE E BOA SORTE   
Lançamento:
Paris
Direção: George Clooney
Quanto: só para locação


Texto Anterior: Trajetória de Gal Costa conduz documentário sobre tropicalismo
Próximo Texto: Outros filmes a respeito de jornalistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.