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Documentários curtos revelam universos ameaçados
da Equipe de Articulistas
O Espaço Unibanco de Cinema
passa a exibir a partir de hoje,
sempre às 18h, quatro documentários de curta-metragem, dentro
do projeto Curta às Seis.
Vistos em conjunto, eles fornecem uma boa idéia da importância do gênero como instrumento
de resistência da memória contra
a destruição do patrimônio material e imaginário da humanidade.
Os quatro curtas, curiosamente,
foram realizados ao norte do eixo
Rio-São Paulo, e pelo menos três
deles tratam de universos ameaçados de extinção.
"O Capeta Caribé", de Agnaldo
Siri Azevedo, dedicado ao artista
argentino radicado na Bahia, fala
de uma Salvador mítica e mágica
em vias de destruição pelo crescimento caótico da cidade.
"Maracatu, Maracatus", do pernambucano Marcelo Gomes,
aborda uma manifestação cultural popular posta em xeque pelo
avanço da cultura urbana.
Já em "Histórias de Avá - O Povo Invisível", de Bernardo Palmeiro, é todo um povo -os índios avá- que resiste ao desaparecimento.
O quarto filme do lote, "Simião
Martiniano, o Camelô do Cinema", de Hilton Lacerda e Clara
Angélica, trata de um cineasta semi-analfabeto, que realiza longas-metragens em vídeo (antes, usava
o super-8) e trabalha como camelô num mercado de Recife.
Os quatro filmes revelam também uma notável (e saudável)
pluralidade de maneiras de registrar e problematizar o real.
Mesmo o documentário mais
convencional do lote, "Histórias
de Avá" -que se baseia largamente em depoimentos e na locução de um texto explicativo-,
atinge momentos de poesia cinematográfica ao usar o pungente
relato de uma velha índia sobreposto a uma ilustração gráfica do
fato narrado: a destruição da aldeia e a morte de seus pais.
Aprendemos, vendo o filme,
que os avá passaram por um curioso processo de evolução, tendo
que se transformar em nômades
do cerrado e violar princípios de
sua cultura para sobreviver e
manter sua identidade.
"O Capeta Caribé", por sua vez,
centra-se nas imagens da obra do
artista e dos ambientes baianos
que a inspiraram, sob os textos,
em primeira pessoa, do próprio
Caribé e de Jorge Amado.
O resultado é um desdobramento da arte de Caribé: a celebração de uma Bahia sensual e
mítica, plena de cor, movimento e
religiosidade. Os "chato boys" da
universidade talvez o tachem de
turístico e folclorizante. Mas só as
pedras ficarão imunes a tanta força, beleza e elegância.
"Simião Martiniano" fala de
uma outra cultura popular, surgida na confluência entre a miséria
urbana e a indústria cultural.
Um dos achados do filme é o de
usar o próprio Martiniano como
narrador de sua história, dramatizada em cenas tão simplórias e
pueris como os trechos que vemos de seus filmes.
Estes, com títulos como "O Vagabundo Faixa-Preta" e "A Rede
Maldita", misturam melodrama e
artes marciais. São esteticamente
paupérrimos, mas revelam mais
sobre o imaginário popular do
que uma biblioteca inteira de tratados acadêmicos.
O curta que mais problematiza
a própria natureza do documentário é "Maracatu, Maracatus",
cujas primeiras imagens mostram um mestre do maracatu recusando-se a ser filmado. A partir
daí, o filme constrói-se como uma
ficção que mimetiza o documentário, com resultado irregular,
mas inquietante.
(JGC)
Avaliação:
O quê: Curta o Documentário
Onde: Espaço Unibanco, sala 4, às 18h (r.
Augusta, 1.470, tel. 0/xx/11/288-6780,
São Paulo)
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