São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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ILUSTRADA

Avaliada em US$ 70 milhões, obra mais copiada do mundo estava em museu em Oslo (Noruega)

Ladrões levam quadro "O Grito" à luz do dia

DA REDAÇÃO

Dois ladrões armados irromperam ontem de manhã em um museu de Oslo e roubaram uma das mais conhecidas telas do acervo mundial, "O Grito", do norueguês Edvard Munch (1863-1944).
As salas do Museu Munch estavam repletas. Os ladrões os obrigaram os visitantes a deitar de bruços no chão enquanto, sem dificuldades, retiravam o quadro da parede. Levaram também uma outra tela de Munch, "Madona".
Os dois quadros não estavam fixados por dispositivos que impedissem seu deslocamento e não estavam conectados a um sistema de alarme que acionasse sirenas e bloqueasse as entradas do museu.
Os seguranças, segundo a polícia norueguesa, preocuparam-se durante os curtos momentos em que durou o roubo com as pessoas que se encontravam na pinacoteca. Não tentaram bloquear a saída dos ladrões, que escaparam dentro de um Audi escuro, no qual um terceiro homem os aguardava.
A versão de "O Grito" agora roubada já esteve em São Paulo, em 1996, durante a 23ª Bienal, numa sala montada para alguns dos principais quadros de Munch. O pintor é considerado um dos maiores nomes do expressionismo e seus quadros revelam angústia e solidão.
O quadro, pintado em 1893, possui cópias feitas pelo próprio pintor. Uma delas pertence ao acervo da Galeria Nacional de Oslo, e uma terceira a um colecionador particular. O Museu Munch é visitado anualmente por 4 milhões de pessoas.
A segunda versão de "O Grito" havia sido roubada, em 1994, nas dependências da Galeria Nacional. Permaneceu perdida por três meses. Os ladrões teriam pedido um resgate, que as autoridades se recusaram a pagar. Correram na época rumores de que eles pertenciam a um grupo de adversários do aborto e que exigiam a difusão de um documentário pela TV norueguesa. Três noruegueses foram presos em conexão com o crime, um deles ex-jogador de futebol que fora indiciado nos anos 80 por roubar outro Munch.
Segundo o jornal "The Independent", pesquisa feita em 1998 concluiu que "O Grito" era o quadro que mais vendia reproduções impressas, superando a "Mona Lisa", pintada por Da Vinci e pertencente ao Louvre, em Paris.
As câmaras do museu em que o roubo ocorreu ontem registraram a chegada e a movimentação dos dois ladrões. Mas eles estavam mascarados e não poderão ser reconhecidos.
O quadro, pertencente a uma coleção pública e por ser extremamente conhecido, não tem propriamente um valor comercial. Ele jamais poderia ser abertamente vendido. Um especialista norueguês, ouvido pela agência Reuters, disse ontem que, se pudesse ser leiloado, o quadro valeria de US$ 60 milhões a US$ 70 milhões, enquanto "Madonna" valeria US$ 14 milhões.
Uma das hipótese ontem levantadas é a de que os ladrões pedirão ao governo norueguês um resgate para devolverem o quadro. A polícia não aceita nem descarta a possibilidade.
"Madona", o outro quadro roubado, mostra uma mulher com os seios descobertos e cabelos negros esvoaçantes.
"Estamos seguindo todas as pistas, mas não temos idéia de quem tenha feito uma coisa dessas", disse o delegado Kjell Pedersen, encarregado pela polícia norueguesa do caso. Segundo ele, um dos ladrões trocou palavras em norueguês com o outro durante o roubo, o que supõe que não sejam estrangeiros.
Quando do roubo anterior, há dez anos, "O Grito" foi encontrado separado de sua moldura e dobrada numa calçada. O automóvel que os ladrões usaram na época foi abandonado a alguns quilômetros do centro de Oslo.
Especialistas no mercado de artes e historiadores perguntavam-se ontem por quais razões o Museu Munch não providenciou dispositivos que impedissem o roubo de uma tela que numa outra versão já havia parado nas mãos de ladrões.
"A imprudência das autoridades norueguesas é incrível", disse François Castang, produtor da rádio francesa France Inter, que estava na Noruega como turista e testemunhou o roubo.
"Eu vi um dos ladrões colocar um cano do revólver na cabeça de um dos seguranças", disse Richard Marcus, 63, turista norte-americano. Segundo ele, a polícia demorou bastante para chegar.
"Algumas pessoas foram obrigadas a se atirar ao chão, e ficamos todas muito assustados", disse Anna Leiherr, 22, estudante de nacionalidade alemã. A estudante tcheca Marketa Cajova disse que as pessoas chegaram a temer um ataque terrorista.
Segundo Gunnar Soerensen, diretor do Museu Munch, não é possível dizer qual das três versões existentes de "O Grito" é a melhor ou a mais valiosa.


Com agências internacionais


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