São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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Filme sobre crueldade infantil é o destaque

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Foi- se o tempo em que o formato era apenas plataforma para exercícios de cineastas estreantes. Em sua longa existência, o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo consolidou uma oferta e acostumou o público a assistir a pequenas grandes obras independentemente do número de minutos.
Neste ano, o evento, mais uma vez, traz um apanhado de títulos, já consagrados em competições estrangeiras, que demonstram a ótima forma dessa produção.
O destaque absoluto vai para "Irmãs de Sangue", segundo trabalho na direção da dinamarquesa Louise N. D. Friedberg. Em quase 30 minutos, a diretora elabora uma análise psicológica extremamente dura da crueldade infantil de um modo que não se via desde "Cría Cuervos", de Saura.
O filme é todo construído a partir dos olhares da fantástica Malou Z. Bruun, que faz uma garota em disputa pela preferência de uma amiga depois da chegada de uma nova menina ao prédio onde moram.
"A TV com um Chapéu" reafirma a vitalidade do jovem cinema romeno com as dificuldades de um pai e um filho para consertar uma velha TV para que o garoto consiga assistir a um filme de Bruce Lee. Como aconteceu na emergência do cinema argentino, a ênfase social substitui o paternalismo por uma visão crua em que se enxerga com clareza os significados do "cada um por si" vigente.
A crônica social dá também sabor ao delicioso curta francês "O Mozart dos Batedores de Carteira", em que dois punguistas decadentes são salvos por um garoto de origem árabe, resposta às leis antiimigração de Nicolas Sarkozy.
O foco político reaparece em duas ótimas ficções latinas. No franco-chileno "Trinta Anos", um exilado retorna a Valparaiso para identificar os restos de uma antiga companheira, vítima da repressão sob a ditadura de Pinochet. Já o colombiano "Fogueira" acompanha o cotidiano banal de um empresário bem-sucedido em crise existencial ao completar 50 anos. Com pequenos índices dramáticos, o diretor Andrés Baiz acerta em capturar os desacordos entre os ideais do conforto e a irrealidade cotidiana.


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