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Filme sobre crueldade infantil é o destaque
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Foi- se o tempo em que o formato era apenas plataforma
para exercícios de cineastas estreantes. Em sua longa existência, o Festival Internacional de
Curtas-Metragens de São Paulo consolidou uma oferta e
acostumou o público a assistir a
pequenas grandes obras independentemente do número de
minutos.
Neste ano, o evento, mais
uma vez, traz um apanhado de
títulos, já consagrados em competições estrangeiras, que demonstram a ótima forma dessa
produção.
O destaque absoluto vai para
"Irmãs de Sangue", segundo
trabalho na direção da dinamarquesa Louise N. D. Friedberg. Em quase 30 minutos, a
diretora elabora uma análise
psicológica extremamente dura da crueldade infantil de um
modo que não se via desde
"Cría Cuervos", de Saura.
O filme é todo construído a
partir dos olhares da fantástica
Malou Z. Bruun, que faz uma
garota em disputa pela preferência de uma amiga depois da
chegada de uma nova menina
ao prédio onde moram.
"A TV com um Chapéu" reafirma a vitalidade do jovem cinema romeno com as dificuldades de um pai e um filho para
consertar uma velha TV para
que o garoto consiga assistir a
um filme de Bruce Lee. Como
aconteceu na emergência do cinema argentino, a ênfase social
substitui o paternalismo por
uma visão crua em que se enxerga com clareza os significados do "cada um por si" vigente.
A crônica social dá também
sabor ao delicioso curta francês
"O Mozart dos Batedores de
Carteira", em que dois punguistas decadentes são salvos
por um garoto de origem árabe,
resposta às leis antiimigração
de Nicolas Sarkozy.
O foco político reaparece em
duas ótimas ficções latinas. No
franco-chileno "Trinta Anos",
um exilado retorna a Valparaiso para identificar os restos de
uma antiga companheira, vítima da repressão sob a ditadura
de Pinochet. Já o colombiano
"Fogueira" acompanha o cotidiano banal de um empresário
bem-sucedido em crise existencial ao completar 50 anos.
Com pequenos índices dramáticos, o diretor Andrés Baiz
acerta em capturar os desacordos entre os ideais do conforto
e a irrealidade cotidiana.
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