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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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Cidade SEGREGADA

Jorge Araújo/Folha Imagem
O sul-africano Henning Rasmuss em palestra na 5ª Bienal de Arquitetura



Participação de Johannesburgo na 5ª Bienal de Arquitetura traz à tona temas como Aids e educação; curador defende prerrogativa ética


JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma paisagem urbana que já foi concebida para manter segregados brancos e negros hoje está tomada por enclaves residenciais de segurança máxima e ilhas comerciais que anulam o contato com as ruas.
"Nos centros de compra e lazer, vemos uma cidade do Terceiro Mundo acontecendo no térreo enquanto outra, de primeiro mundo, ocorre nos pisos superiores, protegidos da interface com a cidade", afirma o arquiteto Henning Rasmuss, 36, curador (com Meredith Randall) do segmento de Johannesburgo na 5ª Bienal de Arquitetura e Design.
A mais jovem cidade de toda a mostra, com 117 anos, participa da Bienal como uma exceção, na opinião de Rasmuss. Livre do regime do apartheid desde 1994, a cidade apenas começa a ver mudanças no horizonte físico, e a comunidade de arquitetos principia a romper o isolamento cultural. "Os arquitetos sul-africanos estão trabalhando mais internacionalmente nos últimos cinco anos, mas nossa arquitetura ainda não integra o cenário acadêmico internacional", afirma.
Talvez por isso o segmento dedicado a Johannesburgo na exposição "Metrópoles", núcleo da 5ª Bienal, destoe dos vizinhos Berlim, NY, Tóquio, Londres, Pequim e São Paulo, que apresentam projetos de arquitetura e urbanismo em muito estetizados.
Ali, ensaios fotográficos e monitores de vídeo mostram o perfil sociocultural da cidade sul-africana: como funciona o sistema de saúde e educação, como está sendo enfrentada a epidemia de Aids etc., conteúdos pouco prováveis de se encontrar em uma exposição de arquitetura.
Para o curador, o caráter de cidade em processo de Johannesburgo faz com que as questões éticas venham antes das questões estéticas. "Há muitos prédios bonitos em Johannesburgo, mas mostrá-los não prova nada, não mostra a forma como pensamos a cidade, não permite compartilhar o conhecimento sobre ela."
A tensão entre os problemas sociais e as soluções que a arquitetura oferece, que a Bienal tem como objetivo principal mostrar, está no projeto de renovação do distrito de Alexandra, muito semelhante a uma favela paulistana, com alta densidade e problemas sociais crônicos, que até 2008 o governo pretende transformar em região modelo de moradia.
Em Soweto, que foi um símbolo de resistência ao regime, um projeto de urbanismo está construindo parques e centros comunitários nos descampados que dividiam as áreas de brancos e negros. Resultado de um concurso público, o Kliptown Renewal Project está formatando também um centro formal que o distrito nunca teve, uma vez que foi concebido como cidade-dormitório.
"A integração é a coisa mais importante em termos de transformar as cidades do apartheid em cidades do futuro, porque lugares como Soweto não vão simplesmente desaparecer. Então precisamos tornar essas cidades funcionais", afirma Rasmuss.

5ª BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA. Onde (pq. Ibirapuera -°Pavilhão da Bienal (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, SP, tel. 0/xx/11/ 5574-5922). Quando: de seg. a qui., das 9h30 às 23h; de sex. a dom., das 9h30 às 24h; até 2/11. Quanto: R$ 10. Mais informações: http://bienalsaopaulo.terra.com.br.


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