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FERRAN ADRIÁ CHEF
Não existe comida estranha, existe gente estranha
Chef fala sobre seu novo projeto, um espaço de criatividade na Espanha, que substituirá o El Bulli
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ROSES (ESPANHA)
O melhor cozinheiro da década não quer mais ser cozinheiro. Pelo menos não como foi até agora.
"Seria muito chato", diz
Ferran Adrià, 48. No ano que
vem, ele fecha o portão do
restaurante El Bulli para reabri-lo em 2014, como outra
coisa. Mas que outra coisa?
Como um centro que não
será de cozinha, segundo
definiu o chef espanhol à
Folha, e sim de criatividade.
"A cozinha é o meio."
Adrià engata uma segunda explicação: não será uma
escola, e sim um "museu"
onde "a missão é criar".
É o contrário do que ocorre
no restaurante. "As pessoas
verão o conhecimento, e não
a experiência."
Mas ele servirá comida?
"Algum dia", diz Adrià. Como? "Não sei."
Uma coisa, sim, ele sabe:
acabará uma das mais disputadas listas de reservas do
mundo gastronômico, superada por só 50 pessoas ao dia
entre junho e dezembro.
Esse funil conduz à casa
que ganhou cinco vezes o título de melhor do mundo da
revista "Restaurant" e que ficou em segundo na premiação deste ano, que deu a
Adrià a distinção da década.
Com o projeto, acha que
mais gente entrará ali -isso
depois de percorrer uma estrada sinuosa na Costa Brava
catalã até a cala Montjoi,
uma enseada paradisíaca a
duas horas de Barcelona.
Os visitantes verão não só
a equipe de Adrià como 25
bolsistas, nem todos cozinheiros. "Queremos que
existam algum filósofo e dois
jornalistas."
Jornalistas? "São os que
vão publicar na internet."
A internet é o motor do novo projeto. Motor de pressão
sobre o próprio Adrià, que
diz não conseguir criar de outra forma. As invenções serão
anunciadas diariamente. "É
a maneira de nos julgarem."
É também a maneira de girar uma rede de ideias para o
mundo da gastronomia.
"Não estamos fazendo um fórum do tipo "eu fui comer e isso". É o profissional dizendo:
"Estou fazendo este produto".
Queremos ajudar as pessoas,
na cozinha não há tempo para criar."
Ele já decidiu que vai fechar a oficina-laboratório de
Barcelona, onde são desenvolvidos os pratos do Bulli.
Porque sua função estará
incorporada no novo centro.
Adrià tem a pretensão de que
saiam dali as pessoas que ditarão o futuro da gastronomia. Para criar bem, é preciso
pensar bem, diz ele. E como
se ensina isso?
"Explicando que tudo é relativo, sobretudo na comida", responde. "Não existe
comida estranha, existe gente estranha."
Uma definição que gosta
de repetir. "Quando lhe dizem isso, você entende que
há liberdade. É normal que
exista gente que não quer
descobrir coisas novas. Que
diga: "Como sempre maçã"."
Ele, porém, acha que "o
bonito é descobrir". Nos próximos anos, quer viajar o
mundo, o que inclui uma
passada pelo Brasil -onde
ele não descarta abrir uma filial das casas de tapas que
montará com Albert Adrià,
seu irmão.
Dos negócios paralelos e
da exploração de sua imagem espera conseguir dinheiro para bancar o centro,
que será uma fundação.
Mais ou menos como hoje,
já que com os € 2,5 milhões
(R$ 5,6 mi) que fatura por ano
a casa não fecha as contas.
Um jantar ali custa, com
bebida, € 300 (R$ 670).
"Igual a um hotel normal em
Londres", diz Adrià. "Apesar
disso, há uma visão de que
um restaurante é muito mais
elitista do que um hotel. Você
pode pagar € 4 para ver um
jogo de liga regional e € 300
para o Barça x Madrid. Mas
com restaurante, não.
O dia em que dermos esse
salto, a cozinha será o novo
rock and roll."
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