São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Lançamento homenageia Jean Vigo e Paulo Emílio

Evento reúne o crítico Antonio Candido e Luce Vigo, filha do diretor francês

Viúva de Paulo Emílio Sales Gomes, Lygia Fagundes Telles diz que crítico e diretor francês tinham "vocação e paixão" como lemas


MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

"Paulo Emílio era do contra, sempre diferente dos outros." Assim o professor Antonio Candido, 91, -decano da crítica literária nacional, pensador cuja obra se confunde com a consolidação da USP e autor de um dos cânones dos estudos de interpretação do Brasil ("Formação da Literatura Brasileira")- se referiu anteontem a outro ensaísta proeminente que tem seu nome intimamente ligado ao desenvolvimento do cinema nacional, o escritor Paulo Emílio Sales Gomes.
O depoimento pessoal foi dado no Cinesesc, no lançamento da "Caixa Paulo Emílio", coedição Cosac Naify e Edições Sesc SP que reúne dois ensaios clássicos de Paulo Emílio sobre o cineasta Jean Vigo ("Vigo, Vulgo Almereyda" e "Jean Vigo"), além de dois DVDs com a filmografia completa do diretor francês.
Também participaram do evento Luce Vigo, filha do cineasta que veio especialmente da França, a escritora Lygia Fagundes Telles e Carlos Augusto Calil, secretário municipal da Cultura, que conviveu com Paulo Emílio e teve um papel essencial na recuperação dos originais de "Vigo, Vulgo Almereyda", um trabalho extenso e minucioso que já teve uma edição anterior no início dos anos 90 -o texto traça um perfil do pai de Vigo, o anarquista francês Almereyda (1883-1917).
Antonio Candido falou com autoridade sobre Paulo Emílio (1916-1977), com quem ajudou a criar a partir dos anos 40 a Cinemateca Brasileira (em seus primórdios era o Clube de Cinema de São Paulo). Além de amigos, os dois nesse período também foram colegas na antológica revista "Clima". Para Candido, o colega "tinha a capacidade de criar o escândalo construtivo. Foi o amigo mais fascinante que tive na vida".
Para o crítico, Paulo Emílio e Vigo tinham muito em comum, ressaltando a "conjunção espiritual" entre os dois. "Foi o encontro de um grande inconformado e heterodoxo com outro grande inconformado e heterodoxo. Uma linda conjunção de dois grandes revoltados e heterodoxos."
Viúva de Paulo Emílio, Lygia Fagundes Telles disse que os lemas do escritor e de Jean Vigo eram "a vocação e a paixão". Luce Vigo recordou que tinha três anos quando seu pai morreu e disse que ficou "muito emocionada ao descobrir seu pai pela obra de Paulo Emílio".
Calil lembrou que Vigo (1905-1934), diretor dos clássicos "Zero em Comportamento" e "O Atalante", foi um dos precursores da nouvelle vague e influenciou especialmente François Truffaut, outro cineasta rebelde que traduziu em sua obra os problemas com a orfandade.


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