|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"NAS MÃOS DE DEUS" - ESTRÉIA
Surfe com gelatina âmbar
especial para a Folha
Assistir a "Nas Mãos de Deus"
sem jamais ter praticado surfe na
vida pode ser uma experiência bastante desagradável; fazê-lo tendo
sido, sendo, ou pretendendo ser
surfista algum dia, igualmente desagradável, mas isso já é coisa para
meu companheiro Carlos Sarli comentar ao lado.
O objetivo de Zalman King, diretor também de "Orquídea Selvagem" -bela credencial, anh?-,
com o filme é mostrar uma rapaziada, surfistas de verdade, pegando ondas de 12 metros no Havaí.
Mas como não queria fazer um documentário, inventou uma trama
chinfrim para chegar nesse clímax,
quando já se vão bons 7/8 da fita.
Antes disso o que se vê é uma espécie de "Imagenes & Sonidos" de
Bali, Malgaxe e México, com direito a coreografias de pescoço, olhares nativos perplexos e tudo aquilo
que você já viu nas páginas de "National Geographic".
São três os heróis, e os três são
surfistas bem ranqueados na vida
real. Se obviamente não precisaram de dublês para entrar nos tubos imensos, talvez precisassem
para as sequências fora d'água, que
são muitas.
A caracterização não ajuda. Mickey é o veterano, bon vivant, mulherengo e irresponsável; Shane, o
introspectivo, comedido, penitente e discretamente misógino; Keoni, um fedelho que chegou à tela
apenas para contrair malária em
Bali.
Naturalmente que Shane, também vendido como maior promessa do surfe, leva a melhor sobre
Mickey, ainda que na tela sejam
parceiros, não disputem explicitamente.
O problema de um filme como
esse é que ele não é uma coisa nem
outra. Não entra fundo no surfe
-ou faz um comentário original
sobre seu universo-, tampouco
deixa explícitos seus objetivos caça-níqueis (como os filmes da Xuxa ou de lutas marciais).
Tome então close-ups, meditações supostamente cabeças sobre o
surfe e até uma fêmea sem qualquer valor dramático na trama. Vá
lá, ela aparece por ali só para reforçar que, para um surfista de verdade, não existe nada no mundo que
valha a pena sobre uma superfície
não-líquida.
E dá-lhe fotografia em tons
quentes. (Zalman King e os fotógrafos da "Playboy" americana devem participar de uma maçonaria
pelo uso incontido da gelatina âmbar como filtro de luz).
O que não dá mesmo para suportar é o que colocaram nas falas de
Shane, personagem a quem cabe
expressar uma certa sacralidade do
esporte, digo, da atividade. Ele tenta explicar a uma leiga o que é estar
diante de uma onda, as forças da
natureza etc. etc. e então pergunta
a ela se costuma sorrir, apenas sorrir, quando pensa em alguém querido.
Mas não, a interlocutora não sorri quando pensa em alguém querido. Bonito isso, Zalman, é seu?
(PAULO VIEIRA)
²
Filme: Nas Mãos de Deus
Produção: EUA, 1997
Direção: Zalman King
Com: Patrick Shane Dorian, Matt George
Quando: a partir de hoje, nos cines Metrô
Tatuapé 7, Morumbi 1, Top Cine 1 e circuito
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|