São Paulo, Terça-feira, 23 de Novembro de 1999
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BLUR - CRÍTICA
Estereótipos, bom-mocismo, Beatles, Orbit, chamado sexual...

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

A canção "crítica" "Stereotypes" (95) ficou de fora, mas o que a banda inglesa Blur veio trazer ao Credicard Hall... Hall... Hall... (é o eco...) na noite de domingo -hoje é a vez do Rio de Janeiro- foi não muito mais que isso: um juntado de estereótipos.
Há artistas que são assim, e os Blur representam bem a categoria. Têm dificuldade de moldar uma personalidade sólida, consistente, então adequam-se a cada momento que passa, a cada hora com uma cara nova. Zeligs?
Assim tem sido sua história. Embora se possa encontrar alguma unidade entre os parques de diversões pop de "Modern Life Is Rubbish" (93), "Parklife" (94) e "The Great Escape" (95) e entre os climas sorumbáticos de "Blur" (97) e "13" (99), Blur tem em cada momento o rosto do momento, quase nunca o seu próprio.
Deve ser por isso que "13" agora parece tão brilhante -produzido por William Orbit, foi feito no molde do tempo, parece novo em folha. Talvez fique passado num piscar de olhos, como já ficaram os prosaicos "Parklife" e "The Great Escape" -o pop nem sempre foi assim.
Os estereótipos de "13", no entanto, já prejudicam o andamento de seu show, este que esteve em São Paulo anteontem. Melancólicas na medida e espertas no uso da montanha russa tecnológica, que é ordem do dia, suas canções -maioria no show, ainda bem- padecem da crueza de palco do Blur. Viram rock burocrático, e há que ainda suportar essa ladainha cada vez mais chorosa.
Pois tirados os mimos de estúdio, "Tender" fica ainda mais cara-de-pau (e mais parecida com "Hey Jude", dos... Beatles, sim), "Bugman" fica ainda mais pesada (e desinteressante) e a "punkóide" "B.L.U.R.E.M.I." fica ainda mais macaca de "E.M.I." (77), dos Sex Pistols (que também dizem "hello" em "Advert", de 93, e mais por aí -a vozinha tola de Damon Albarn, muito longe de Johhny Rotten, entrega o jogo).
"Coffee & TV" (99) também perde em parquinho de diversões, mas ainda assim é o grande momento do show, de arrepiar a espinhela (talvez por ser tão parecida com "Across the Universe", dos... Beatles, yeah).
As várias bandas em uma vão se sucedendo -masturbatória em "Battle" (99), romântica à Rod Stewart em "No Distance Left to Run" (99), "jazzística" (o quê???) em diversas introduções, deprimida, tipo geração comprimidos na petulante (ai, que bom quando ousam a petulância) "Beetlebum" (97); nem de um momento Queen se safa, Damon "canonizado" nos braços do "povo".
A coisa vai indo, e a cortina só vai cair de vez bem lá no final, na favorita "Girls & Boys" (94), que excreta uma vez mais aquela espécie boçal de pansexualismo tão em voga nesses 90, de "girls who are boys who like boys to be girls who do boys like they're girls"...
Ora, que bela conversa para boi dormir -bonitinhos, mas muito ordinários, eles vinham o tempo todo fazendo um show de bom-mocismo em que muita pose e cigarrinhos pendentes no canto da boca (ora, vá caçar sapo) são o máximo de desabuso adotado.
Ainda sobrava incendiar o grito primal de "Song 2" (97), que nem é tanta coisa assim, mas acaba por absolver os meninos pelo chamado sexual implícito (ou explícito) no muxoxo "u-hu". Dizem que só se é jovem uma vez, não é isso?


Avaliação:   


Show: Blur Onde: Metropolitan (av. Ayrton Senna, 3.000, Barra da Tijuca, Rio, tel. 0/xx/21/ 421-1331) Quando: hoje, às 21h30 Quanto: de R$ 40 a R$ 90

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