São Paulo, Terça-feira, 23 de Novembro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Daniel Senise desafia hierarquia das imagens

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Daniel Senise em frente a uma de suas obras na galeria Thomas Cohn


JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha

Três patinhos repousam sobre telas com formas geométricas e perspectiva rigorosas. Sobre uma pintura que cita uma paisagem de Rubens está um desses ganchos para pendurar casacos. A ironiacontrasta com a erudição e refinamento técnico de Daniel Senise.
Ou então acrescenta um novo dado à sua poética de fragmentos e silhuetas. "Você termina o quadro", afirma o artista, que expõe, a partir de hoje, pinturas recentes.
Filiado à resistência da pintura (surgiu com a "Geração 80" e nunca deixou de pintar, ao contrário da maioria de seus colegas da famosa mostra), ele coleciona em suas telas restos e vestígios de visualidade.
Da pintura de Guercino (1591-1666) elimina os anjos e santos para ficar apenas com as formas arquitetônicas coadjuvantes. Das réguas de arquitetos transplanta as formas de gabarito. Do "Tesouro da Juventude" recupera a imagem de um corvo pousando.
As referências à história da arte nas obras de Senise nunca foram óbvias nem serviram ao mero propósito conceitual comum aos "citacionistas" da "pós-modernidade", aparecendo sempre por interesse formal. Nas obras recentes, são ainda mais evanescentes: no políptico "Meu Mundo Neoclássico Caiu 1", só se sabe que a figura encoberta é o negativo de uma anunciação de Fra Angelico (1400-1455) caso o artista o revele.
Duas séries de pinturas de Senise são emblemáticas. Em "Ela Que Não Está", de 94, o artista apropriou-se de um elemento gráfico deixado sobre um afresco de Giotto (1267-1337) pela construção, no século 17, de monumentos funerários em uma capela em Florença. Em outra série, refez o "Retrato da Mãe do Artista", pintura de 1872 de James Whistler, cobrindo a mãe com um lençol, duplicando-a, evidenciando o vazio criado entre as duplicatas.
Não só aí a pintura de Senise se constrói a partir de fragmentos e ausências. No final dos anos 80, ele impregnava a tela com resíduos do piso de seu ateliê. No começo dos 90, se utilizava da ferrugem de pregos fixados à tela.
O artista, que considera as retrospectivas o melhor lugar para se ver uma obra, reclama dos acervos não possuírem um perfil de sua obra.
Tanto o MAC quanto o MAM têm apenas exemplares de suas primeiras pinturas.
Os trabalhos recentes são polípticos, que se resolvem pelo método de fazer, segundo Senise. O díptico "Cometa" foi feito jogando tinta sobre as telas. Na tela mais clara, ele utilizou voile, que confere ao trabalho outra luz.


Exposição: Daniel Senise Onde: galeria Thomas Cohn (av. Europa,641, tel. 0/xx/11/883-3355) Quando: abertura hoje, das 20h às 23h. Seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 14h. Até 18/12 Obras: de US$ 14 mil a US$ 24 mil


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