São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"FELIZ COINCIDÊNCIA"

Falta sinergia em longa com Marisa Tomei

Diretor falha ao usar fórmula de "Wonderland"

RUY GARDNIER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem viu "Próxima Parada, Wonderland" encontrou alguma graça na forma como o diretor Brad Anderson conseguia dar charme a uma história mais do que simples envolvendo abandonos e novas relações. Com Hope Davis como atriz principal, o filme conseguia extrair ternura mesmo tendo uma temática semelhante à série televisiva "Ally McBeal", em que reina a excelente Calista Flockhart como senhora dos corações solitários.
Em seu filme seguinte, Brad Anderson parece ir justamente em sentido contrário. Pois "Feliz Coincidência" já traz uma história incomum e é interpretado por atores famosos, mesmo que se mantenha no registro de seu exato anterior, a comédia romântica e o cinema indie americano.
Coincidência ou não, "Feliz Coincidência" não consegue em nenhum momento alcançar a simpatia de "Wonderland", e isso provavelmente se deve à esquisita história bolada pelo diretor a partir do clássico de Chris Marker "La Jetée": Sam Deed, um homem do século 25, volta à Terra em 1999 para salvar a vida de uma mulher que só conhece através de uma fotografia e acaba se apaixonando por ela. Ao contrário do original, o filme não chega a criar nenhuma tensão filosófica acerca das forças do destino e a possibilidade do livre-arbítrio.
Centrado no gênero romântico, o filme passa, uma a uma, por todas as etapas de um relacionamento amoroso comum: encontro, paixão inicial, dúvidas, incongruências, brigas e reconciliação. O lado "ficção científica" do filme, o único aspecto que poderia criar um diferencial, só é explorado de modo anedótico, quando o viajante do tempo se confunde com os costumes do século 20. O que faz lembrar outra série de TV: "Third Rock from the Sun".
Mas certamente o ponto mais fraco do filme é a escolha dos atores. Por mais que Marisa Tomei e Vincent D'Onofrio tentem, os dois juntos não possuem nenhuma sinergia, o casal não exala a menor empatia. Numa comédia romântica, dizem as regras do gênero, inovações narrativas ou temáticas são dispensáveis. Uma boa combinação de atores não.


Ruy Gardnier é jornalista e editor da revista eletrônica "Contracampo"



Feliz Coincidência
Happy Accidents
 
Direção: Brad Anderson
Produção: EUA, 2000
Com: Marisa Tomei, Vincent D'Onofrio
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco e Unibanco Arteplex




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