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Crítica/"O Assassinato de Jesse James..."
Longa falha na tentativa de modernizar o faroeste
CRÍTICO DA FOLHA
É preciso reconhecer a
coragem de Andrew
Dominik, jovem diretor
neozelandês que, em seu segundo longa-metragem, ousou
pisar em um terreno por onde
já caminharam, entre outros,
Samuel Fuller ("Eu Matei Jesse
James", 1949) e Nicholas Ray
("Quem Foi Jesse James?", 57).
Mas o caminho escolhido por
Dominik (de "Chopper", inédito no Brasil) não é o do classicismo, o que já evita determinadas comparações. Sua versão
para a lenda do mitológico bandido recusa o mero tributo ao
passado e prefere buscar filiações no cinema contemporâneo, menos centrado no espaço
e na objetividade da ação e mais
preocupado com a psicologia, a
temporalidade e a própria representação da imagem.
Dominik, na verdade, tenta
desenhar um "western" original, que combinaria metalinguagem e tempos extensos
(ecos de Terence Malick e Michael Mann são óbvios) a outros elementos mais clássicos,
como a valorização do espaço
que circunda os personagens.
O filme investe pesado nas
motivações psicológicas que teriam levado Robert Ford a matar Jesse James. É como se a
ação não fizesse mais sentido
para recontar um mito tantas
vezes encenado; seria preciso,
agora, buscar algo mais, investigar as causas do fato, penetrar
na alma dos personagens.
Mas essa tentativa de modernizar o faroeste fracassa na medida em que Dominik não consegue substituir a ação por uma real humanização dos mitos,
muito menos criar imagens suficientemente poderosas que
justifiquem a "beleza" transbordante da fotografia de Roger Deakins. A motivação dos
personagens, principalmente
as de Ford, prende-se a uma
causalidade justificada por noções elementares de psicologia
(Ford sentia inveja de Jesse James; Ford sempre foi o caçula
da turma etc). As imagens e a
duração dos planos têm um
tom forçosamente belo.
De certa maneira, o que Dominik faz é a negação daquilo
que o faroeste significou para o
cinema. Se John Ford, Nicholas
Ray e Howard Hawks o transformaram na grande arte do cinema americano, Ray se apropria dos cacoetes do "cinema de arte" contemporâneo para nele
encaixar a "nobreza" do faroeste. Criou, assim, um pequeno
monstro: o "western de arte".
(PEDRO BUTCHER)
O ASSASSINATO DE JESSE
JAMES PELO COVARDE
ROBERT FORD
Direção: Andrew Dominik
Produção: EUA/Canadá, 2007
Com: Brad Pitt, Casey Affleck, Sam
Rockwell e Sam Shepard
Quando: estréia hoje no Bristol, Metrô Santa Cruz e circuito
Avaliação: ruim
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