São Paulo, sexta-feira, 23 de novembro de 2007

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Crítica/"O Assassinato de Jesse James..."

Longa falha na tentativa de modernizar o faroeste

CRÍTICO DA FOLHA

É preciso reconhecer a coragem de Andrew Dominik, jovem diretor neozelandês que, em seu segundo longa-metragem, ousou pisar em um terreno por onde já caminharam, entre outros, Samuel Fuller ("Eu Matei Jesse James", 1949) e Nicholas Ray ("Quem Foi Jesse James?", 57).
Mas o caminho escolhido por Dominik (de "Chopper", inédito no Brasil) não é o do classicismo, o que já evita determinadas comparações. Sua versão para a lenda do mitológico bandido recusa o mero tributo ao passado e prefere buscar filiações no cinema contemporâneo, menos centrado no espaço e na objetividade da ação e mais preocupado com a psicologia, a temporalidade e a própria representação da imagem.
Dominik, na verdade, tenta desenhar um "western" original, que combinaria metalinguagem e tempos extensos (ecos de Terence Malick e Michael Mann são óbvios) a outros elementos mais clássicos, como a valorização do espaço que circunda os personagens.
O filme investe pesado nas motivações psicológicas que teriam levado Robert Ford a matar Jesse James. É como se a ação não fizesse mais sentido para recontar um mito tantas vezes encenado; seria preciso, agora, buscar algo mais, investigar as causas do fato, penetrar na alma dos personagens.
Mas essa tentativa de modernizar o faroeste fracassa na medida em que Dominik não consegue substituir a ação por uma real humanização dos mitos, muito menos criar imagens suficientemente poderosas que justifiquem a "beleza" transbordante da fotografia de Roger Deakins. A motivação dos personagens, principalmente as de Ford, prende-se a uma causalidade justificada por noções elementares de psicologia (Ford sentia inveja de Jesse James; Ford sempre foi o caçula da turma etc). As imagens e a duração dos planos têm um tom forçosamente belo.
De certa maneira, o que Dominik faz é a negação daquilo que o faroeste significou para o cinema. Se John Ford, Nicholas Ray e Howard Hawks o transformaram na grande arte do cinema americano, Ray se apropria dos cacoetes do "cinema de arte" contemporâneo para nele encaixar a "nobreza" do faroeste. Criou, assim, um pequeno monstro: o "western de arte". (PEDRO BUTCHER)


O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD
Direção:
Andrew Dominik
Produção: EUA/Canadá, 2007
Com: Brad Pitt, Casey Affleck, Sam Rockwell e Sam Shepard
Quando: estréia hoje no Bristol, Metrô Santa Cruz e circuito
Avaliação: ruim


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