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Academia analisa por que "Pantanal" é "atração fatal"
Reprisada após 18 anos, novela volta a ter bom ibope e prova que continua atual
Livro de Arlindo Machado (USP e PUC) e de Beatriz Becker (UFRJ) avalia a revolução que a trama impôs à teledramaturgia
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Atração Fatal". Ironicamente esse é o título do filme que a
Globo exibia quando perdeu
pela primeira vez da novela
"Pantanal", da Manchete, em
31 de março de 1990.
Foi o começo de uma acirrada disputa de audiência, que
impôs mudanças a todas as
emissoras e revolucionou a linguagem da teledramaturgia.
Escrita por Benedito Ruy
Barbosa e dirigida por Jayme
Monjardim, a novela segue em
reprise no SBT até janeiro próximo e, 18 anos depois, ainda
consegue mobilizar telespectadores e embaralhar o Ibope.
Foi esse poder impressionante que seduziu dois doutores em comunicação, Arlindo
Machado, professor da USP e
PUC de São Paulo, e Beatriz
Becker, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Eles lançam amanhã, às 19h,
na livraria Argumento do Leblon, no Rio, o livro "Pantanal -
A Reinvenção da Telenovela"
(Educ, 148 págs.), no qual buscam responder de que modo
uma novela produzida por uma
jovem emissora conseguiu enfrentar a supremacia da Globo
e se tornar um dos maiores fenômenos da história da televisão brasileira.
"Pantanal" era um antigo
projeto do autor. Ele não conseguiu emplacá-lo na Globo e
decidiu se mudar para a Manchete, uma rede sem tradição
na teledramaturgia, disposta a
investir em uma programação
mais ousada. A novela foi em
grande parte gravada em uma
fazenda pantaneira, fez da região seu tema e cenário principais, o que já foi uma grande
inovação diante da hegemonia
de novelas urbanas ambientadas no Rio.
Também ex-global, Monjardim pôde experimentar em
"Pantanal" uma linguagem
mais cinematográfica, com planos abertos, imagens aéreas
das paisagens, cortes lentos e
cenas longas, com tempo para o
silêncio das personagens.
Os pesquisadores iniciam o
livro lembrando que, quando
"Pantanal" estreou, a Manchete tinha no horário 14 pontos de
audiência e, inesperadamente,
chegou a 44 no auge do sucesso.
Entrou no ar 11 dias depois
que Fernando Collor confiscou
a poupança dos brasileiros, e
justamente esse momento histórico teria colaborado para
alavancar a sua audiência.
""Pantanal" parecia prometer
a devolução dos sonhos que
Collor confiscou e as fantasias
de um dia poder viver no paraíso, num lugar mágico, bonito,
sensual, livre de toda a turbulência do mundo urbano, onde
os homens poderiam existir em
comunhão com a natureza", escrevem os pesquisadores.
Agora na reprise, sem Collor
e em tempos de TV de alta definição, a velha novela dobrou a
audiência do SBT no horário e
chegou a bater a Globo. "Por
coincidência, hoje temos também uma crise financeira e ainda precisamos reaprender a viver com outras referências que
não só o dinheiro, o consumo, a
poupança e a aposentadoria",
afirma Machado à Folha.
Becker, que trabalhava como
jornalista na Manchete em
1990 e fez várias reportagens
sobre "Pantanal", complementa dizendo que a novela hoje,
"diante da urbanização acelerada, do consumo e da fragmentação, funciona outra vez
como resgate de identidades e
valores que estão perdidos".
A discussão sobre a renovação da linguagem imposta por
"Pantanal" à teledramaturgia e
a aprovação do telespectador
às novidades se torna especialmente relevante atualmente,
quando as novelas estão com
audiência abaixo das expectativas e a sobrevivência do formato volta a ser questionada. Para
Machado, a novela só persistirá
forte no Brasil "por inércia".
"Falta um novo "Pantanal", um
estouro, fenômeno inesperado.
A telenovela se mostra um modelo datado e terá que ser reinventada, talvez com a interatividade, ou não conseguirá sobreviver. A TV brasileira está
sem propostas criativas, de renovação, talvez porque as inteligências estejam indo para outros meios, como videogames."
Chaves e Chacrinha
"Pantanal - A Reinvenção da
Telenovela" é parte de uma
pesquisa mais ampla sobre programação de qualidade, que
Machado iniciou com seu livro
anterior, "A TV Levada a Sério", e seguirá em uma obra que
deve ser lançada no próximo
ano. "Sempre que falamos de
televisão, há um pensamento
negativista, mas a TV tem produção de alta qualidade. É só
buscar o melhor, como fazemos
com o cinema", diz Machado.
Outros programas estão em
estudo, entre eles o do Chacrinha, a novela colombiana
"Betty, a Feia" e o seriado mexicano "Chaves".
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