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Crítica/"Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos"
Em meio ao caos, cantor encontra equilíbrio
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Fosse um inseto, como
sugere na referência a
"A Metamorfose", Otto
seria daquelas baratas que não
morrem na primeira chinelada.
Ele ressurge revigorado, ilustrando a ideia romântica de que
momentos de crise geram belas
obras de arte. "Certa Manhã
Acordei de Sonhos Intranquilos" é, de longe, o melhor e mais
vigoroso disco de Otto.
Isso porque, desta vez, ele está livre de amarras. Não é mais
um produto da bem-intencionada mas sem sal "geração Trama", gravadora que tentou emplacar novos nomes na MPB, e nem é mais representante da mistura de eletrônica com o regional brasileiro, que, em 1998,
parecia ser muito moderno.
Otto finalmente se acertou com sua real turma. O novo disco é mais um fruto da já gloriosa "safra 2009", ano excepcional para a música brasileira.
Fernando Catatau (Cidadão Instigado), por exemplo, deixa sua marca registrada nas guitarras psicodélicas e emotivas de faixas como "Filha" e "Meu Mundo Dança"; Pupillo e Dengue (Nação Zumbi) criam a tensão necessária para Otto exorcizar demônios, mais do que
apenas lamuriar; o ar afro de
Céu está em "O Leite", e a mexicana Julieta Venegas confere
"latinidade" a "Lágrimas Negras" (Jorge Mautner/Nelson Jacobina) e "Saudade".
Se em alguns momentos é
mais visceral, sem medo de falar das fraquezas, está mais
próximo da dor de Walter
Franco que do romantismo de
Roberto Carlos. Na épica "6 Minutos", canta: "Até pra morrer,
você tem que existir/.../nasceram flores num canto de um
quarto escuro". Desta vez, a
música é bem maior do que o
personagem.
CERTA MANHÃ ACORDEI DE SONHOS INTRANQUILOS
Artista: Otto
Lançamento: Arterial Music
(distribuição: Rob Digital); R$ 26,30
Avaliação: ótimo
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