São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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Crítica/DVD/"O Pão Nosso" e "No Turbilhão da Metrópole"

Filmes refletem dimensões de King Vidor

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Comecemos pelos extras. Raramente um disco oferece atrações tão sólidas quanto os documentários que acompanham "O Pão Nosso", de King Vidor. Lá estão "O Arado que Destruiu as Planícies" e "O Rio", de Pare Lorentz, além de "O Poder da Terra", de Joris Ivens: a nata do documentarismo americano na era da Depressão.
A edição acrescentou dois supostos telejornais com supostas enquetes eleitorais sobre eleições para o governo da Califórnia. Os dois preciosos filmes da MGM têm o objetivo de, sutilmente, comprometer o candidato democrata -e lançar-lhe o estigma de socialista. Coisas não muito diferentes das que vemos nas propagandas eleitorais de hoje, aplicadas a um contexto muito particular.
Dito isso, existe ainda o filme principal, "O Pão Nosso". Individualista convicto, King Vidor assinou alguns dos filmes mais interessantes sobre a tensão entre as exigências da sociedade e o homem. Aqui, em 1934, coração da Depressão, nos fala de um jovem casal urbano que recorre à volta a terra, com a ajuda de parente. Dando abrigo às pessoas que aparecem, criam uma fazenda comunitária.
Para falar com toda franqueza, "O Pão Nosso" é um filme claramente anarquista. Confia quase cegamente no indivíduo e acredita que o bom senso e as boas intenções sejam capazes de superar tanto pressões externas como enormes adversidades e contradições entre membros da comunidade.
A visão de Vidor (que penhorou a própria casa para financiar o filme, que a MGM julgou arrojado demais), a soma de cada indivíduo, quando envolvido num processo desse tipo, resulta numa força coletiva quase insuperável. Em resumo, Vidor em 1934 é uma espécie de Frank Capra sem pessimismo e sem ver o Estado e os políticos como ameaça: a crença no homem é arrebatadora.
É de menor dimensão "No Turbilhão da Metrópole", filme de 1931, adaptação de peça teatral que se desenvolve praticamente toda diante de um edifício em Nova York.
Os conflitos de vizinhos são múltiplos e envolvem desde a mulher fofoqueira com seu filho valentão até o judeu comunista, da mulher com seu amante até o ricaço disposto a sustentar uma garota.
O interesse central do filme, hoje, vincula-se à passagem do cinema mudo ao sonoro, de que é um exemplo: pelo som sacrificava-se tudo naquele momento, inclusive a ação. Não há, aqui, extras fantásticos.


O PÃO NOSSO

Avaliação: ótimo

NO TURBILHÃO DA METRÓPOLE

Distribuidora: Platina (R$ 20,80, cada um; 12 anos)
Avaliação: regular




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