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Crítica/DVD/"O Pão Nosso" e "No Turbilhão da Metrópole"
Filmes refletem dimensões de King Vidor
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Comecemos pelos extras. Raramente um
disco oferece atrações
tão sólidas quanto os documentários que acompanham "O Pão
Nosso", de King Vidor. Lá estão "O Arado que Destruiu as Planícies" e "O Rio", de Pare Lorentz, além de "O Poder da Terra", de Joris Ivens: a nata do documentarismo americano na era da Depressão.
A edição acrescentou dois supostos telejornais com supostas enquetes eleitorais sobre
eleições para o governo da Califórnia. Os dois preciosos filmes
da MGM têm o objetivo de, sutilmente, comprometer o candidato democrata -e lançar-lhe o estigma de socialista. Coisas não muito diferentes das que vemos nas propagandas eleitorais de hoje, aplicadas a
um contexto muito particular.
Dito isso, existe ainda o filme
principal, "O Pão Nosso". Individualista convicto, King Vidor
assinou alguns dos filmes mais
interessantes sobre a tensão
entre as exigências da sociedade e o homem. Aqui, em 1934,
coração da Depressão, nos fala
de um jovem casal urbano que
recorre à volta a terra, com a
ajuda de parente. Dando abrigo
às pessoas que aparecem, criam
uma fazenda comunitária.
Para falar com toda franqueza, "O Pão Nosso" é um filme
claramente anarquista. Confia
quase cegamente no indivíduo
e acredita que o bom senso e as
boas intenções sejam capazes
de superar tanto pressões externas como enormes adversidades e contradições entre
membros da comunidade.
A visão de Vidor (que penhorou a própria casa para financiar o filme, que a MGM julgou
arrojado demais), a soma de cada indivíduo, quando envolvido
num processo desse tipo, resulta numa força coletiva quase
insuperável. Em resumo, Vidor
em 1934 é uma espécie de Frank Capra sem pessimismo e sem ver o Estado e os políticos
como ameaça: a crença no homem é arrebatadora.
É de menor dimensão "No Turbilhão da Metrópole", filme de 1931, adaptação de peça teatral que se desenvolve praticamente toda diante de um edifício em Nova York.
Os conflitos de vizinhos são
múltiplos e envolvem desde a
mulher fofoqueira com seu filho valentão até o judeu comunista, da mulher com seu
amante até o ricaço disposto a
sustentar uma garota.
O interesse central do filme,
hoje, vincula-se à passagem do
cinema mudo ao sonoro, de que
é um exemplo: pelo som sacrificava-se tudo naquele momento, inclusive a ação. Não há,
aqui, extras fantásticos.
O PÃO NOSSO
Avaliação: ótimo
NO TURBILHÃO DA METRÓPOLE
Distribuidora: Platina (R$ 20,80, cada um; 12 anos)
Avaliação: regular
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