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RAP
Delegacia de Entorpecentes suspeita de apologia ao crime organizado
Polícia do RJ investiga videoclipe de MV Bill
ISRAEL DO VALE
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
O rap volta a ser tratado como
caso de polícia. A 15ª DP carioca
apresentou ofício na tarde de
quarta-feira à gravadora Natasha
requisitando cópia do novo videoclipe do rapper MV Bill, ainda
em fase de finalização, sob alegação de que ele poderia conter
imagens que fariam apologia do
crime organizado. A informação
foi confirmada ontem por Conceição Lopes, sócia na Natasha de
Paula Lavigne -mulher de Caetano Veloso.
Segundo o titular da Delegacia
de Repressão a Entorpecentes, Ricardo Dominguez Pereira, o inquérito foi encaminhado à Justiça
na segunda-feira. Até ontem não
havia decisão judicial cancelando
a primeira exibição pública do clipe, prevista para esta segunda, dia
25, na festa de Natal que MV Bill
promove na Cidade de Deus.
"Soldado do Morro" tem direção de João Wainer, Lula Maluf,
Roberto T. Oliveira e Celso
Athayde. "Não vamos mostrar à
polícia antes de ser exibido; se tiver que ter aprovação deles, o Bill
prefere que não passe", diz Athayde, também empresário do rapper carioca.
Comando Vermelho
Rodado em favelas não identificadas no filme, com participação
de supostos agentes do tráfico, o
clipe assume tom documental,
com reprodução de fotos de jovens mortos na guerra do tráfico,
cenas de tiros e armas empunhadas pelo que seriam integrantes
do Comando Vermelho. É o terceiro clipe de Bill feito a partir de
músicas extraídas do disco "Traficando Informação", lançado no
primeiro semestre e que já vendeu cerca de 30 mil cópias.
A operação da polícia foi malsucedida. A única cópia disponível
de "Soldado do Morro" se encontra em São Paulo, onde fica a empresa responsável pela produção
do videoclipe. "Não estou amedrontada com o que possa acontecer", diz Conceição. "O clipe
não faz apologia do crime ou das
drogas; denuncia um problema
social que todos sabem que existe
no Rio de Janeiro."
A Folha teve acesso à versão
inacabada de "Soldado do Morro", ainda sem o som incidental
da abertura e do encerramento
-sob responsabilidade de Theo
Werneck. Produzido 70% em 16
mm e o restante em vídeo digital,
o clipe traz cenas fortes: sangue
escorrendo por uma escada, Bill
de revólver na cintura e um desfile
de armas nas mãos do que seriam
"soldados" do tráfico ligados ao
Comando Vermelho, com direito
a tiros para o ar.
A presença maciça no clipe de
adolescentes -no dia-a-dia, os
principais agentes do tráfico de
drogas- também deve gerar polêmica, embora os diretores tenham cuidado para que eles nunca estivessem de posse de armas
reais. Nos únicos momentos em
que aparecem "armados", foram
usadas réplicas intencionalmente
toscas, de madeira. O trecho introdutório e a porção final do clipe trazem cerca de três minutos
de imagens de menores pelos
morros. Um dos garotos que participam do filme, de 16 anos, foi
morto em troca de tiros com a polícia três dias depois de gravar as
cenas em que aparece.
"Soldado do Morro" venceu este ano o prêmio Hutus -o único
no país dedicado exclusivamente
ao rap- na categoria melhor
música. O clipe tem tempo total
previsto de dez minutos, cerca do
dobro da média no padrão exibido pelas TVs. "Nossa preocupação não é exibir na televisão. Vamos passar sempre antes dos
shows do Bill", diz Athayde, que
prepara o lançamento do clipe
para esta segunda-feira, num
show oferecido à comunidade da
região em que MV Bill nasceu, a
Cidade de Deus. O evento será
realizado num clube local e também prevê apresentações de Caetano Veloso, Dudu Nobre e Cidade Negra.
Colaborou a Sucursal do Rio
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