São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 2000

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RAP
Delegacia de Entorpecentes suspeita de apologia ao crime organizado

Polícia do RJ investiga videoclipe de MV Bill

ISRAEL DO VALE
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

O rap volta a ser tratado como caso de polícia. A 15ª DP carioca apresentou ofício na tarde de quarta-feira à gravadora Natasha requisitando cópia do novo videoclipe do rapper MV Bill, ainda em fase de finalização, sob alegação de que ele poderia conter imagens que fariam apologia do crime organizado. A informação foi confirmada ontem por Conceição Lopes, sócia na Natasha de Paula Lavigne -mulher de Caetano Veloso.
Segundo o titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, Ricardo Dominguez Pereira, o inquérito foi encaminhado à Justiça na segunda-feira. Até ontem não havia decisão judicial cancelando a primeira exibição pública do clipe, prevista para esta segunda, dia 25, na festa de Natal que MV Bill promove na Cidade de Deus.
"Soldado do Morro" tem direção de João Wainer, Lula Maluf, Roberto T. Oliveira e Celso Athayde. "Não vamos mostrar à polícia antes de ser exibido; se tiver que ter aprovação deles, o Bill prefere que não passe", diz Athayde, também empresário do rapper carioca.

Comando Vermelho
Rodado em favelas não identificadas no filme, com participação de supostos agentes do tráfico, o clipe assume tom documental, com reprodução de fotos de jovens mortos na guerra do tráfico, cenas de tiros e armas empunhadas pelo que seriam integrantes do Comando Vermelho. É o terceiro clipe de Bill feito a partir de músicas extraídas do disco "Traficando Informação", lançado no primeiro semestre e que já vendeu cerca de 30 mil cópias.
A operação da polícia foi malsucedida. A única cópia disponível de "Soldado do Morro" se encontra em São Paulo, onde fica a empresa responsável pela produção do videoclipe. "Não estou amedrontada com o que possa acontecer", diz Conceição. "O clipe não faz apologia do crime ou das drogas; denuncia um problema social que todos sabem que existe no Rio de Janeiro."
A Folha teve acesso à versão inacabada de "Soldado do Morro", ainda sem o som incidental da abertura e do encerramento -sob responsabilidade de Theo Werneck. Produzido 70% em 16 mm e o restante em vídeo digital, o clipe traz cenas fortes: sangue escorrendo por uma escada, Bill de revólver na cintura e um desfile de armas nas mãos do que seriam "soldados" do tráfico ligados ao Comando Vermelho, com direito a tiros para o ar.
A presença maciça no clipe de adolescentes -no dia-a-dia, os principais agentes do tráfico de drogas- também deve gerar polêmica, embora os diretores tenham cuidado para que eles nunca estivessem de posse de armas reais. Nos únicos momentos em que aparecem "armados", foram usadas réplicas intencionalmente toscas, de madeira. O trecho introdutório e a porção final do clipe trazem cerca de três minutos de imagens de menores pelos morros. Um dos garotos que participam do filme, de 16 anos, foi morto em troca de tiros com a polícia três dias depois de gravar as cenas em que aparece.
"Soldado do Morro" venceu este ano o prêmio Hutus -o único no país dedicado exclusivamente ao rap- na categoria melhor música. O clipe tem tempo total previsto de dez minutos, cerca do dobro da média no padrão exibido pelas TVs. "Nossa preocupação não é exibir na televisão. Vamos passar sempre antes dos shows do Bill", diz Athayde, que prepara o lançamento do clipe para esta segunda-feira, num show oferecido à comunidade da região em que MV Bill nasceu, a Cidade de Deus. O evento será realizado num clube local e também prevê apresentações de Caetano Veloso, Dudu Nobre e Cidade Negra.


Colaborou a Sucursal do Rio


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