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Livro reúne 60 anos de crítica de arte no país
Glória Ferreira lança "Crítica de Arte no Brasil: Temáticas Contemporâneas"
Com 91 textos de 80 autores, coletânea recupera sete questões fundamentais para o debate e análise da produção recente
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Publicados em jornais de
época ou antigos catálogos, textos essenciais da história e da
crítica de arte brasileira que
permaneciam dispersos em arquivos e bibliotecas acabam de
ser reunidos e publicados em livro. Com o propósito de consolidar um conjunto representativo da produção crítica das últimas seis décadas, Glória Ferreira, curadora e professora da
Escola de Belas Artes/UFRJ,
lança pela Funarte "Crítica de
Arte no Brasil: Temáticas Contemporâneas". É uma preciosa
coletânea de 91 textos de 80 autores que traz à tona as principais questões do universo da arte brasileira de 1946 à atualidade.
De Lorenzo Mammì a Ferreira Gullar, de Aracy Amaral a Lisette Lagnado, de Arlindo Machado a Paulo Sérgio Duarte, o
mapeamento de autores e escritos deixa entrever as diferentes correntes da crítica que se formaram nessas décadas. A
coletânea começa com "O Destino Funcional da Pintura"
(1946), de Mário Pedrosa e chega até "Corpo e Vídeo em Tempo Real", texto de autoria de Christine Mello (2006).
Glória, que também publicou
neste ano "Escritos de Artistas
anos 60/70" (ed. Jorge Zahar,
organizado juntamente com
Cecilia Cotrim), diz que preferiu deixar de lado alguns ensaios mais conhecidos.
"Fiquei pensando como dar conta deste
universo sem um compromisso
burocrático", disse em entrevista à Folha. "Evitei a escolha
de textos que fossem já muito
difundidos. Não tinha sentido,
por exemplo, publicar o manifesto neoconcreto e deixar de
fora textos menos conhecidos
sobre aquele contexto."
Embora as questões de cada
texto possam ser vinculadas a
momentos específicos da arte
brasileira -o abstracionismo,
os debates em torno do movimento concreto, a pintura gestual dos anos 80 e assim por diante-, os escritos não aparecem ordenados de maneira
cronológica, mas agrupados em
sete grandes núcleos ou problemáticas.
"Vários temas poderiam se
desdobrar em vários outros,
mas privilegiei a possibilidade
de um debate em processo..."
Assim, neste verdadeiro trabalho de "arqueologia" de textos
em arquivos, museus e bibliotecas -acompanhado por uma
equipe de pesquisadoras- Glória encontrou os quase cem escritos que na sua opinião extrapolam em certa medida a discussão pontual e apontam para
questões mais amplas em torno dos conceitos de vanguarda,
tradição ou ruptura.
A escolha de Mário Pedrosa
(1900-1981) para abrir o volume não é casual. Presente na
compilação com seis textos (está em praticamente em todos
os núcleos) Pedrosa é apontado
por Glória como aquele que
promoveu o deslocamento do
debate do terreno ideológico
para o estético-formal "em prol
de linguagem universal de arte,
não regionalista ou subordinada às tradições nacionais".
Crítica da crítica
Um dos núcleos mais interessantes vem trazer a própria
crítica de arte para a arena de
discussões. O livro deixa entrever, por exemplo, uma mudança na relação entre artistas e críticos no decorrer dos anos
60, no sentido de uma aproximação e até possível confusão
entre os dois papéis.
"A curadoria não fica mais
restrita ao curador", continua
Glória. "É um território em que
o próprio artista está cada vez
mais presente."
Outro aspecto levantado pela
pesquisadora refere-se aos espaços do debate crítico. Se os
textos das décadas de 50 e 60
foram publicados sobretudo na
imprensa, esse "eixo" se desloca para os catálogos e folders
nas décadas subseqüentes.
Atualmente difusa, a produção
recebe um pouco mais de espaço em publicações universitárias especializadas.
Atuais percursos
Revisitar a história da crítica
nos conduz à inevitável pergunta: que momento é este em
que, afinal, vivemos nós? "Tendo a achar que o debate vem se
deslocando do campo da crítica
para a própria exposição, por
meio da curadoria, mas não só.
Em certa medida a exposição já
se apresenta como um discurso
em si, enquanto a crítica se
transforma em algo mais ensaístico, mais teórico. Talvez
este "ensaio" como forma seja
justamente a constatação da
crise do sistema."
CRÍTICA DE ARTE NO BRASIL
Autor: Glória Ferreira (org.)
Editora: Funarte
Quanto: R$ 48 (580 págs.)
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