São Paulo, quarta, 23 de dezembro de 1998

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NETVOX
Greve erra o alvo

MARIA ERCILIA

Editora de Internet

Uma proposta de greve no próximo dia 13 de janeiro agita a Internet brasileira. Os autores da idéia acham que o acesso no Brasil está muito caro e dizem que em outros países se compra acesso ilimitado a "US$ 10 por mês".
O modelo é uma greve semelhante, que aconteceu no dia 13 deste mês, na França. O alvo era a France Telecom, que cobra de US$ 1,60 a US$ 3 por hora de acesso à Internet (este é o preço da conta telefônica, não do provimento de acesso).
Nada contra a iniciativa -mas a comparação com o caso da França é furada. Enquanto os franceses miravam um monopólio, no Brasil o mercado de acesso à Internet é extremamente competitivo.
São mais de 400 provedores disputando assinantes à base de promoções e ofertas. Por que o preço não cai ainda mais?
A resposta é simples: os provedores esbarram num custo de telecomunicações muito alto.
Aqui se paga cerca de R$ 24 mil por uma porta IP (que dá o endereço na Internet), mais R$ 5.000 por um cabo de 2 megabits -num total de R$ 29 mil!
Nos Estados Unidos, a mesma conexão (porta IP incluída) pode custar até míseros US$ 4.000.
Além de pagar esse preço exorbitante pelos links, os provedores precisam comprar linhas telefônicas em grande número.
O custo das linha telefônicas no Brasil varia de região para região, mas todos sabemos que ele é bem alto. Imagine a conta de um provedor em São Paulo, que precisa comprar, por exemplo, 400 linhas.
Mesmo assim, o preço brasileiro se mantém em limites razoáveis. CRL, um provedor de acesso norte-americano, cobra um dos preços mais baixos do mercado: US$ 17,95 por mês, para acesso ilimitado (a AOL cobra US$ 21,95 nos EUA). Talvez haja algum provedor que cobre US$ 10 por mês. Eu não encontrei.
No Brasil, é possível conseguir o mesmo serviço por um preço a partir de R$ 35. Mesmo com custos de comunicação muito mais altos e os outros custos (computadores, modems etc.) também maiores.
Se considerarmos a despesa que os provedores têm no Brasil, seu preço não é nada absurdo.
Nos Estados Unidos -e somente lá- o mercado de Internet é praticamente de massa. No Brasil, ainda é uma operação de escala relativamente pequena, o que contribui para o encarecimento do serviço.
O brasileiro tem uma tendência meio automática a achar que está sempre pagando mais por um serviço pior. Isso não é necessariamente verdade. Na maior parte do mundo, as condições desse mercado são parecidas com as daqui.
Para ter uma amostra, fiz uma pesquisa em sites de provedores argentinos. O menor preço que encontrei foi US$ 35, para um serviço bem básico (um só e-mail e acesso). Assinaturas com vários e-mails, direito a página de Web e outros serviços ficam em torno de US$ 55. Praticamente o mesmo que o Brasil.
Ou seja: não adianta torcer o pescoço na direção dos Estados Unidos e ignorar o resto do mundo. Se a intenção é mesmo fazer uma greve, os alvos deveriam ser as companhias telefônicas -essas sim, têm uma das tabelas mais altas do mundo.
Pela tarifa da Telesp, por exemplo, uma hora no telefone (ligação local) custa R$ 4,60 -mais caro do que a tarifa da France Telecom, que provocou a greve dos franceses.


Brasileiro no Icann São somente 13 os membros do recém-formado Icann (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers - www. icann.org)-, e um deles é o brasileiro Tadao Takahashi, um dos pioneiros da implantação da Internet no Brasil.
Esse órgão internacional foi criado para supervisionar a infra-estrutura da Internet no mundo inteiro; substitui a antiga administração, muito "americanocêntrica".


E-mail: netvox@uol.com.br



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