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NETVOX
Greve erra o alvo
MARIA ERCILIA
Editora de Internet
Uma proposta de greve no
próximo dia 13 de janeiro agita
a Internet brasileira. Os autores
da idéia acham que o acesso no
Brasil está muito caro e dizem
que em outros países se compra
acesso ilimitado a "US$ 10 por
mês".
O modelo é uma greve semelhante, que aconteceu no dia 13
deste mês, na França. O alvo era
a France Telecom, que cobra de
US$ 1,60 a US$ 3 por hora de
acesso à Internet (este é o preço
da conta telefônica, não do provimento de acesso).
Nada contra a iniciativa
-mas a comparação com o caso da França é furada. Enquanto os franceses miravam um
monopólio, no Brasil o mercado
de acesso à Internet é extremamente competitivo.
São mais de 400 provedores
disputando assinantes à base de
promoções e ofertas. Por que o
preço não cai ainda mais?
A resposta é simples: os provedores esbarram num custo de
telecomunicações muito alto.
Aqui se paga cerca de R$ 24
mil por uma porta IP (que dá o
endereço na Internet), mais R$
5.000 por um cabo de 2 megabits -num total de R$ 29 mil!
Nos Estados Unidos, a mesma
conexão (porta IP incluída) pode custar até míseros US$ 4.000.
Além de pagar esse preço exorbitante pelos links, os provedores precisam comprar linhas telefônicas em grande número.
O custo das linha telefônicas
no Brasil varia de região para
região, mas todos sabemos que
ele é bem alto. Imagine a conta
de um provedor em São Paulo,
que precisa comprar, por exemplo, 400 linhas.
Mesmo assim, o preço brasileiro se mantém em limites razoáveis. CRL, um provedor de acesso norte-americano, cobra um
dos preços mais baixos do mercado: US$ 17,95 por mês, para
acesso ilimitado (a AOL cobra
US$ 21,95 nos EUA). Talvez haja algum provedor que cobre
US$ 10 por mês. Eu não encontrei.
No Brasil, é possível conseguir
o mesmo serviço por um preço a
partir de R$ 35. Mesmo com
custos de comunicação muito
mais altos e os outros custos
(computadores, modems etc.)
também maiores.
Se considerarmos a despesa
que os provedores têm no Brasil,
seu preço não é nada absurdo.
Nos Estados Unidos -e somente lá- o mercado de Internet é praticamente de massa.
No Brasil, ainda é uma operação de escala relativamente pequena, o que contribui para o
encarecimento do serviço.
O brasileiro tem uma tendência meio automática a achar
que está sempre pagando mais
por um serviço pior. Isso não é
necessariamente verdade. Na
maior parte do mundo, as condições desse mercado são parecidas com as daqui.
Para ter uma amostra, fiz
uma pesquisa em sites de provedores argentinos. O menor preço que encontrei foi US$ 35, para um serviço bem básico (um
só e-mail e acesso). Assinaturas
com vários e-mails, direito a página de Web e outros serviços ficam em torno de US$ 55. Praticamente o mesmo que o Brasil.
Ou seja: não adianta torcer o
pescoço na direção dos Estados
Unidos e ignorar o resto do
mundo. Se a intenção é mesmo
fazer uma greve, os alvos deveriam ser as companhias telefônicas -essas sim, têm uma das
tabelas mais altas do mundo.
Pela tarifa da Telesp, por
exemplo, uma hora no telefone
(ligação local) custa R$ 4,60
-mais caro do que a tarifa da
France Telecom, que provocou
a greve dos franceses.
Brasileiro no Icann
São somente 13 os membros
do recém-formado Icann (Internet Corporation for Assigned
Names and Numbers - www.
icann.org)-, e um deles é o
brasileiro Tadao Takahashi,
um dos pioneiros da implantação da Internet no Brasil.
Esse órgão internacional foi
criado para supervisionar a infra-estrutura da Internet no
mundo inteiro; substitui a antiga administração, muito "americanocêntrica".
E-mail: netvox@uol.com.br
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