São Paulo, quarta, 23 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA
Cerimônia aconteceu da noite de segunda-feira até a manhã de ontem
Prêmio do rap teve D2, Shabazz e Racionais

XICO SÁ
da Reportagem Local

Com uma festa que começou às 22h de segunda-feira e só chegou ao fim na manhã de ontem, o hip hop nacional mostrou que a resistência de pioneiros como Thaíde e DJ Hum não foi em vão.
Organizada por Primo Preto, a noite "Os Melhores do Rap 98", realizada no Studium, casa de shows da Bela Vista (região central de São Paulo), apresentou consagrados, como Racionais MC's, e emergentes, como o RZO, que se destacaram durante o ano.
²

Dos arredores ao centro Ao contrário das edições anteriores, com a distribuição de prêmios por categoria, a festa de ontem apresentou um desfile do que já é sucesso nos arredores de São Paulo, mas ainda não chegou aos ouvidos do centro.
É o caso, por exemplo, do Dr. MC's, um dos grupos mais badalados na noitada de prêmios.
Com uma platéia do ramo, formada por candidatos a novos rappers e gente que acompanha os repentistas do holocausto urbano, a premiação foi caprichosa.
A cantora Paula Lima foi mestre de cerimônias. Apresentou as atrações quase sem precisar falar. Ela cantava, ou melhor, "tirava uma onda", como disse, dos convidados e premiados.
Acompanhada com a levada funk da banda Zomba, a cantora soube conduzir a maratona do rap brasileiro. Nada mais nada menos do que nove horas de festa. O calor era tanto que uma cerveja ficava quente em cinco minutos.
²

Câmbio Negro Há uma eterna polêmica no rap entre grupos com banda e grupos compostos apenas por MCs (mestres de cerimônia) e DJs.
Na edição de ontem, o prêmio que se consolida como o mais importante no gênero no país resolveu ignorar essa pendenga.
Ganhou o público, que viu uma rápida, porém acertada, apresentação do Câmbio Negro, grupo de Ceilândia, cidade satélite de Brasília que já entrou para a geopolítica do hip hop nacional.
Comandado por "X", que vai na cola da engenharia do DJ Marcelinho e tem produção de Edu K, o Câmbio Negro acaba de lançar o seu terceiro disco, pela Trama.
Para não ficar apenas no sotaque paulistano, Marcelo D2, autor do recente álbum "Eu Tiro É Onda" (Sony), trouxe um pedaço do seu Andaraí, Rio de Janeiro, Brasil, para a festa do rap.
²

Show de bola Abençoado por Jovelina Pérola Negra, a quem saudou no início do show, D2 entortou, com a sua embolada, até o convidado especial da noite, o "gringo" Shabazz, do Grave Digaz.
Como o hip hop não fica apenas no rap, também inclui a dança de rua e o grafite, a legião do break, com meninos que iam dos 15 aos 40, deu um chamado "show de bola" até de manhã. Tanto no palco como na platéia. Do boteco da esquina ao banheiro do Studium.
"Estamos no rádio, na TV, nos jornais, mas precisamos de muito mais. Precisamos ficar vivos", dizia Thaíde, guru da rapaziada, antes de puxar a sua palavra de ordem: "Educação, educação".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.