São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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Centro de dança no Rio exporta bailarinos

Escola, que oferece bolsas para crianças e jovens carentes, revelou dançarinos

"Definitivamente, há uma boa tradição de balé no Brasil", diz diretor artístico da segunda companhia do American Ballet Theatre

SAMIA MAZZUCCO
DA SUCURSAL DO RIO

Batendo palmas e contando -"e um, e dois e três"- para marcar o momento em que os bailarinos devem saltar, a professora de dança Mariza Estrella reclama: "Muito pouca [altura]". Manda Rafaela de Oliveira, 9, e Maycon de Lima, 15, pararem a coreografia de balé clássico e demonstra, com a experiência de seus 65 anos, como deve ser o salto. "Repara que tenho que trabalhar muito para chegar a alguma coisa, né?", diz a professora -bailarina há 50 anos.
Fundadora e diretora do Centro de Dança Rio, escola instalada há 37 anos no Méier, na zona norte carioca, Estrella revelou ao menos 40 bailarinos que hoje atuam no exterior. Rafaela e Maycon são suas mais novas apostas. Eles estudam de graça no Centro, que oferece, sem ter patrocínio, 80 bolsas para crianças e jovens carentes.
Rafaela recebeu bolsa aos sete anos -"Só podia entrar com oito, mas passei no teste". Quando caminha, ela dá pulinhos com os pés, calçados com sapatilhas número 37.
Os mais recentes talentos revelados pelo Centro são Isabela Coracy, 18, e Irlan Silva, 19. Eles são protagonistas do documentário "Only When I Dance", da diretora Beadie Finzi, que mostra suas rotinas de preparação física e psicológica e os testes em companhias.
Hoje, Isabela é recém-contratada da São Paulo Cia. de Dança. Irlan, que foi criado no Complexo do Alemão, uma das favelas mais violentas do Rio, integra a segunda companhia do ABT (American Ballet Theatre) de Nova York.
Produzido pela brasileira Christina Daniels, 36, radicada em Londres, o filme teve a parceria das empresas Tigerlily Films e Jinga Production.
"Só via filmes do Brasil falando em violência e queria mostrar essa outra realidade das favelas", disse Daniels à Folha, por telefone, de Londres.
Lançado em abril do ano passado no Festival de Tribeca, em Nova York, o documentário foi exibido no Brasil no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo. Não há previsão de estreia nos cinemas nacionais.
"Definitivamente, há uma boa tradição de balé no Brasil", disse à Folha, por e-mail, Wes Chapman, diretor artístico da segunda companhia do ABT.
A pesquisadora em dança da Unicamp Cássia Navas, 50, afirma que cerca de 300 bailarinos, com idades entre 18 e 20 anos, saem do país anualmente para dançar no exterior. Os principais destinos são Europa, Estados Unidos e Japão.
A boa formação técnica, a postura corporal e o estilo são razões do sucesso dos brasileiros. "A deficiência na formação é a falta de cultura geral", diz Dalal Achcar, ex-diretora do Teatro Municipal do Rio. "Há quem pergunte por que dançar balé clássico. É o mesmo que perguntar por que tocar Beethoven", emenda Inês Bogéa, 44, diretora da São Paulo Cia. de Dança.
Para Ana Botafogo, primeira bailarina do Municipal do Rio, o problema no país é a falta de incentivos para o surgimento de mais companhias e, consequentemente, empregos, para evitar a debandada de talentos. "Dá para viver de dança [no Brasil], mas não é uma maravilha", diz.
Achcar aponta o empenho de Estrella em acompanhar os alunos em festivais e audições, tanto no país como no exterior, como um dos motivos de seu reconhecimento.
"É o fator sorte. Os alunos caíram na escola e procurei crescer junto", diz a diretora.


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