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Centro de dança no Rio exporta bailarinos
Escola, que oferece bolsas para crianças e jovens carentes, revelou dançarinos
"Definitivamente, há uma boa tradição de balé no Brasil", diz diretor artístico da segunda companhia do American Ballet Theatre
SAMIA MAZZUCCO
DA SUCURSAL DO RIO
Batendo palmas e contando
-"e um, e dois e três"- para
marcar o momento em que os
bailarinos devem saltar, a professora de dança Mariza Estrella reclama: "Muito pouca [altura]". Manda Rafaela de Oliveira, 9, e Maycon de Lima, 15,
pararem a coreografia de balé
clássico e demonstra, com a experiência de seus 65 anos, como deve ser o salto. "Repara
que tenho que trabalhar muito
para chegar a alguma coisa,
né?", diz a professora -bailarina há 50 anos.
Fundadora e diretora do
Centro de Dança Rio, escola
instalada há 37 anos no Méier,
na zona norte carioca, Estrella
revelou ao menos 40 bailarinos
que hoje atuam no exterior. Rafaela e Maycon são suas mais
novas apostas. Eles estudam de
graça no Centro, que oferece,
sem ter patrocínio, 80 bolsas
para crianças e jovens carentes.
Rafaela recebeu bolsa aos sete anos -"Só podia entrar com
oito, mas passei no teste".
Quando caminha, ela dá pulinhos com os pés, calçados com
sapatilhas número 37.
Os mais recentes talentos revelados pelo Centro são Isabela
Coracy, 18, e Irlan Silva, 19. Eles
são protagonistas do documentário "Only When I Dance", da
diretora Beadie Finzi, que mostra suas rotinas de preparação
física e psicológica e os testes
em companhias.
Hoje, Isabela é recém-contratada da São Paulo Cia. de
Dança. Irlan, que foi criado no
Complexo do Alemão, uma das
favelas mais violentas do Rio,
integra a segunda companhia
do ABT (American Ballet Theatre) de Nova York.
Produzido pela brasileira
Christina Daniels, 36, radicada
em Londres, o filme teve a parceria das empresas Tigerlily
Films e Jinga Production.
"Só via filmes do Brasil falando em violência e queria mostrar essa outra realidade das favelas", disse Daniels à Folha,
por telefone, de Londres.
Lançado em abril do ano passado no Festival de Tribeca, em
Nova York, o documentário foi
exibido no Brasil no Festival do
Rio e na Mostra de São Paulo.
Não há previsão de estreia nos
cinemas nacionais.
"Definitivamente, há uma
boa tradição de balé no Brasil",
disse à Folha, por e-mail, Wes
Chapman, diretor artístico da
segunda companhia do ABT.
A pesquisadora em dança da
Unicamp Cássia Navas, 50,
afirma que cerca de 300 bailarinos, com idades entre 18 e 20
anos, saem do país anualmente
para dançar no exterior. Os
principais destinos são Europa,
Estados Unidos e Japão.
A boa formação técnica, a
postura corporal e o estilo são
razões do sucesso dos brasileiros. "A deficiência na formação
é a falta de cultura geral", diz
Dalal Achcar, ex-diretora do
Teatro Municipal do Rio. "Há
quem pergunte por que dançar
balé clássico. É o mesmo que
perguntar por que tocar Beethoven", emenda Inês Bogéa,
44, diretora da São Paulo Cia.
de Dança.
Para Ana Botafogo, primeira
bailarina do Municipal do Rio,
o problema no país é a falta de
incentivos para o surgimento
de mais companhias e, consequentemente, empregos, para
evitar a debandada de talentos.
"Dá para viver de dança [no
Brasil], mas não é uma maravilha", diz.
Achcar aponta o empenho de
Estrella em acompanhar os
alunos em festivais e audições,
tanto no país como no exterior,
como um dos motivos de seu
reconhecimento.
"É o fator sorte. Os alunos
caíram na escola e procurei
crescer junto", diz a diretora.
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