|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Soul II Soul resiste a modismos
da Reportagem Local
"Time for Change", quinto disco
do Soul II Soul (sexto, se se contar
uma coletânea de 93), que a PolyGram faz chegar ao Brasil, é manifesto de insistência de uma banda
em extinção. Considerando que a
banda tem sido veículo para os humores de um homem-show, Jazzie
B, pode-se dizer que Jazzie B é um
homem em extinção.
À sua maneira, o artista inglês
faz algo análogo ao que Bootsy
Collins vem fazendo há décadas
-mantém operante o maquinário
da alma negra, em seu caso adaptando-a à velocidade dos 90.
Jazzie B vem de Bristol, Inglaterra, torrão que viu nascer expoentes modernosos como Portishead,
Massive Attack e Tricky -suas
chances de permanência parecem
ínfimas se comparadas às deles.
Soul II Soul vive, desde mais ou
menos a explosão inicial, em 88,
com o hit "Keep on Movin'", processo contínuo de submersão.
Na ocasião, foi saudada como a
revolução do fim dos 80 -talvez
fosse, de fato. Correu, em 90, a
lançar "1990 A New Decade", comemorando aquela que poderia
ser a sua década. Os malvados 90,
entretanto, lhe foram cruéis. Cada
novo -e bom- disco foi menos
notado que o anterior, apenas
porque o sujeito se mantinha fiel a
uns poucos -e bons- princípios.
Assim, ninguém mais quer saber
deste "Time for Change". E, já prevendo tal possibilidade, Jazzie B
aproveitou o trabalho para ceder a
certas pressões de mercado.
Começa o CD por "Camdino
Soul", em morna clave drum'n'
bass. O estilo-modinha (pegou até
entre artistas brasileiros) se repete
ao final do CD, em "Limit Is the
Sky", e aí Soul II Soul deixa de parecer Soul II Soul, meio como
Bootsy fazendo "pump it up".
É cortina de fumaça. Fora faixas
puxa-moderninhos (que não convencem ninguém -moderninhos
adoram odiar tentativas modernizantes de artistas velha-guarda),
Jazzie B continua abrasador.
"Pleasure Dome" é a pedra de toque do CD, digna de integrar qualquer compilação dedicada à genialidade pop negra -é funk, é soul,
é discothèque, é excelência vocal
gospel (agora não mais por uma
diva negra, mas pelo moço Ray
Simpson). É de desmaiar.
Se aqui e ali são cometidos alguns excessos rumo ao cafona nos
arranjos ("Dare to Differ"), as
marcas que o Soul II Soul fincou
mantêm-se presentes: o vocal grave-falado de Jazzie B, os grooves, o
canto lânguido das vocalistas.
Estão ali os refrões poderosos
("Get Away", "Represent") e as referências ao pop negro (a melosa
"Love Ain't Around" não deve
pouco às suítes de "What's Going
On", de Marvin Gaye).
Ao final, o conjunto é, ainda,
imune a modismos. Talvez seja essa a esquina de Jazzie B, um homem preocupado com a moda
que não sabe fazer música da moda. De qualquer forma, homem
em extinção em mundo canibal.
(PAS)
Disco: Time for Change
Banda: Soul II Soul
Lançamento: Island/PolyGram
Quanto: R$ 18
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|