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'Fim de Caso'
Divulgação
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Ralph Fiennes e Julianne Moore se beijam escondidos no novo filme de Neil Jordan, que concorre a dois Oscar e estréia hoje em SP |
Neil Jordan dirige romance de Graham Greene, em filme que chega hoje no Brasil
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CLAUDIO CASTILHO
MILLY LACOMBE
especial para a Folha, em NY
Dizem que o que separa o maluco do gênio é o sucesso. Se for esse
o caso, o diretor Neil Jordan
("Traídos pelo Desejo", "Entrevista com o Vampiro") tem de entrar para o segundo grupo.
Seu novo filme, "Fim de Caso",
que estréia hoje no Brasil, tem sido aclamado pela crítica americana e européia de modo unânime;
parece não haver dúvidas de que
esse é seu melhor trabalho até hoje. O jornal "The New York Times" não poupou elogios e classificou o filme como "intoxicante".
De quebra, ele ainda leva o mérito de ter dirigido Julianne Moore para uma atuação brilhante e
reconhecida pela Academia (ela
concorre, neste domingo, 26, ao
Oscar de melhor atriz por sua
atuação no filme).
Mas o irlandês Jordan, 50, que
faturou o Oscar de roteiro por
"Traídos pelo Desejo" (1992), é
sempre notícia à parte, considerado uma das figuras mais excêntricas de Hollywood.
Para manter a fama, apareceu
para esta entrevista, num hotel
em Nova York, com jeito de quem
perdeu a hora e algo mais: os cabelos absolutamente despenteados, a camisa amarrotada e desabotoada e com a barba por fazer.
Armou-se de um prato de frutas
frescas, de uma xícara de café e
começou a falar.
Logo fica claro que idéias são
bem menos esquisitas que sua
aparência. Ele é desses sujeitos intensos, apaixonados, cheio de
convicções e que, para contrapor,
fala em tom abaixo do normal.
Com o jeito calmo e sem parar
de comer, ele contou à Folha por
que decidiu adaptar o romance de
Graham Greene, escrito em 51.
Trata-se do complexo conflito
amoroso e existencial vivido por
um escritor inglês durante a Segunda Guerra.
Traição, obsessão, paixão e ciúme estão por todos os lados, e Jordan, que começou a carreira como novelista e já publicou um livro de contos e três romances, diz
ter se identificado com o personagem principal, vivido pelo ator
Ralph Fiennes ( "O Paciente Inglês"). "Eu sei o que sente um escritor obcecado diante de uma folha de papel em branco", disse ele.
Folha - Por que esse filme em
particular?
Neil Jordan - Primeiramente,
porque o livro é fantástico. Eu o li
pela primeira vez quando tinha 18
anos. Há questão de cinco anos,
resolvi relê-lo e foi aí que achei
que a história poderia virar um
excelente filme.
Com 18 anos, minha interpretação do livro era de que tratava-se
de uma história de ciúme e traição, ponto. Ao relê-lo, percebi
que era bem mais.
É dessas histórias que permitem
um milhão de interpretações, diferentes pontos de vista e, por isso, extremamente rica. A história
principal, de certa forma, tinha sido sombreada pela obsessão religiosa de Graham Greene no livro.
Meu objetivo era refletir esse relacionamento doentio por meio
dos personagens. Se conseguisse
fazer isso, teria um bom filme.
Folha - Como o senhor selecionou o elenco?
Jordan - Eu sempre admirei Julianne Moore e ela demonstrou
muito interesse em fazer o papel
de Sarah Miles. Minha única
preocupação era com relação ao
sotaque britânico que ela teria de
simular. Eu não sabia até que
ponto ela poderia atingir o nível
de perfeccionismo que esperava.
Fiz um teste com ela e outras
atrizes inglesas e ficou claro que
ela, apesar de americana, era a
melhor.
Para confirmar minha impressão, Julianne e Fiennes "clicaram"
instantaneamente. Já para viver
Maurice Bendrix, que é o alter ego
de Greene, eu tinha Fiennes na cabeça.
Folha - Ralph Fiennes, por ser
muito reservado, ainda é um
mistério para o público em geral. Como é trabalhar com ele?
Jordan - Ele é um ator fantástico. Sempre concentrado, muito
atento e capaz de fazer os papéis
mais complexos, como esse. Ele é
o único ator que eu conheço que
traça o perfil do personagem que
vai interpretar pelas roupas que
esse mesmo personagem usa. Ele
estuda os mínimos detalhes. Mas
sua característica mais evidente é
a timidez. Conheço poucas pessoas tão tímidas como ele.
Folha - Qual a sua característica mais marcante?
Jordan - Bem, tem uma coisa
que eu nunca faço que pode ser
classificada como característica:
nunca improviso. Na minha cartilha está escrito em letras garrafais:
improvisar, jamais. Ensaio várias
vezes, discuto com o elenco as
miudezas de cada personagem,
esgoto o tema antes de filmar.
Folha - Fale um pouco sobre a
atmosfera sombria e chuvosa
do filme. Foi idéia sua?
Jordan - Eu queria que a fita parecesse muito claustrofóbica, sinistra. É uma história sobre como
o passado das pessoas pode perturbar a vida presente e para mim
isso é bastante sombrio.
Folha - Consta que o senhor
teve a idéia de fazer este filme
e, quando foi pedir autorização
à Columbia, descobriu que o livro já tinha sido filmado anteriormente em Hollywood (em
55, com Deborah Kerr e Van
Johnson). É verdade?
Jordan - Sim. Fui correndo assistir à tal adaptação e foi uma decepção. Sei que Hollywood normalmente tem medo de extrair o
melhor dos romances, mas o que
fizeram com a obra de Greene em
1955 foi um absurdo.
Trata-se de uma tentativa de
duas horas de não retratar o erotismo do livro. É uma tortura. Naquela época, era isso o que Hollywood entendia por arte. Não tinha nada a ver com o filme que eu
queria fazer. Eu queria explorar
sexo e amor como as grandes
questões humanas.
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