São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2000


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"CINE MAMBEMBE"
Documentário registra fascínio das primeiras sessões de cinema

SÉRGIO RIZZO
especial para a Folha

Nada de papo cabeça, Museu da Imagem e do Som (SP) ou Centro Cultural Banco do Brasil (RJ). Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi foram exibir curtas em lugares inóspitos como o Clube Social e Esportivo Piranhense, em Piranhas, Alagoas, ou a Fazenda Macaxeira, acampamento do Movimento dos sem Terra no Pará.
"Cine Mambembe - O Cinema Descobre o Brasil" mostra o que encontraram ao viajar pelas regiões Norte e Nordeste do país carregando no porta-malas do carro um projetor 16 mm, uma tela, equipamento de som, gerador e alguns curtas nacionais.
A partir dessa iniciativa "quixotesca", cujo objetivo era "tirar os curtas brasileiros do armário e levá-los ao público nas praças e escolas", ergueu-se um documentário de média-metragem que não se resume a um simples registro do projeto e da teimosia solidária de seus autores.
Ao exibir filmes para quem não aprendeu (ou desaprendeu) a vê-los em tela grande, Bodanzky e Bolognesi flagraram instantes mágicos.
De Caraívas (BA) a Carolina (MA), rostos de adultos e crianças iluminam-se ao experimentar, em muitos casos pela primeira vez, o ritual coletivo do cinema.
O prazer e a espontaneidade que essas platéias demonstram têm pouco a ver com o aspecto intelectualizado e quase doentio da cinefilia urbana. A jornada de "Cine Mambembe" remete na verdade ao "fascínio original" das primeiras sessões de cinema.
Mas não se deve confundir essa entrega com ingenuidade. Não são bobos os espectadores a quem Bodanzky e Bolognesi exibem filmes. Ao contrário: alguns deles fazem-nos o favor de lembrar como o cinema tem ainda um poder invejável de mobilização.
"É como um pedaço da realidade. Eles (os cineastas) jogam tudo na sua cara e aí você vê o que faz com isso", explica uma jovem estudante de Lagoa dos Gatos (PE). "É bom para a gente trocar de vida", diz uma índia pataxó de Barra Velha (BA).
Ao dar voz a essas pessoas, "Cine Mambembe" alimenta um delicioso paradoxo: foi levar o cinema a elas, e acabou por fazer cinema com elas. Sob o pretexto de mostrar-lhes visões do país e de seus problemas, Bodanzky e Bolognesi capturaram também fatias da realidade nacional.
No Espaço Unibanco, qualquer espectador paga apenas meio ingresso para ver "Cine Mambembe". Pois então deixe de ser avarento e compre dois, que o filme e o projeto do qual nasceu merecem.


Avaliação:    


Filme: Cine Mambembe - O Cinema Descobre o Brasil Direção: Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi Produção: Brasil, 1999 Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco 5

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