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DANÇA
"Samwaad" usa estilo criado há 2.000 anos
Indiana empresta arte milenar para Bertazzo
KATIA CALSAVARA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Esqueçam as barras e os espelhos. A formação de uma bailarina clássica indiana dispensa
qualquer forma previamente
estabelecida. Para subir pela
primeira vez em um palco, elas
chegam a estudar mais de dez
anos. Aos 40, são consideradas
maduras e prontas para contar
histórias com seus delineados e
precisos gestos.
Pelo menos foi assim com a
dançarina Madhavi Mudgal,
52, conhecida mundialmente
como uma das principais bailarinas clássicas da Índia, expoente do estilo odissi -desenvolvido há, pelo menos,
2.000 anos naquele país.
Mudgal esteve no Brasil pela
terceira vez para colaborar com
a nova criação de Ivaldo Bertazzo, "Samwaad - Rua do Encontro", que estréia hoje no
Sesc Belenzinho, em São Paulo.
Aqui, a bailarina foi uma experiência viva para os 55 jovens
do elenco do espetáculo -que,
durante quase dez meses, desenvolveram com Bertazzo um
novo gestual, uma dança que
vai além das formas abstratas.
Em entrevista à Folha, Mudgal conta que ficou impressionada com a habilidade dos jovens. " Para mim, foi uma nova
experiência trabalhar com dançarinos que não são treinados
no estilo odissi. Eles foram verdadeiramente moldados por
Bertazzo nesses meses, e o trabalho se tornou muito fácil para mim", diz.
O estilo odissi é um dos seis
mais conhecidos modos de
dança da Índia. Com filosofia
própria, originou-se em templos como parte de rituais de
louvor a deuses. Atualmente, é
reconstruído e dançado em todo o mundo a partir de pesquisas em manuscritos antigos e
esculturas em templos. "O [estilo] odissi tem qualidade de escultura, e o corpo segue o conceito hindu de iconografia", explica Mudgal.
Enquanto no Ocidente os
bailarinos costumam se preocupar avidamente com seus
passos, a dança indiana requer
que eles também sejam contadores de histórias. Não que para isso precisem de voz. Normalmente, no estilo odissi,
uma história é falada ao público e em seguida "recontada"
pelo bailarino. Seja com o deslocamento dos olhos ou dos
pés, a idéia é transmitir ao público um tipo de experiência
sensorial, uma espécie de dança teatral estética.
Em "Samwaad", Mudgal colaborou na montagem da coreografia da bailarina Sawani e
de mais um casal de jovens.
Eles interpretam a música
"Santa Morena", de Jacob do
Bandolim.
A trilha do espetáculo é composta por 11 músicas, que foram gravadas em novembro do
ano passado, quando o grupo
Gandharva Mahavid yalaya esteve no Brasil. Com percussionistas brasileiros, provindos de
escolas de samba de São Paulo,
as composições foram desenvolvidas de forma que o som
dos instrumentos de ambos os
países, como cítaras e pandeiros, ficasse bem definido.
Filha de pais músicos, Mudgal nasceu em Nova Déli. A bailarina é discípula do guru Kelucharan Moha patra, um dos
pioneiros da dança odissi no
mundo. "O meu estilo é obviamente influenciado pelos ensinamentos dele", afirma.
A bailarina também acredita
que as pessoas sensíveis, independentemente de suas culturas, costumam reconhecer a
beleza da arte da dança odissi.
"Minhas coreografias emergem da minha bagagem e do
meu crescimento em uma família de músicos e também do
meu treinamento em outros
estilos indianos", diz.
Nessa dança, os movimentos
estão longe de ser expansivos,
mas são bastante detalhados.
"Os micromovimentos de
olhos, torso, pescoço e mão são
usados para representar uma
gama de sentimentos e emoções. Muitos deles contêm a
energia presente em partes do
nosso corpo."
Aclamada em festivais de
dança de todo o mundo, presença constante em filmes e
programas sobre o estilo odissi,
ela recebeu prêmios por sua
contribuição à arte, como professora, coreógrafa e intérprete.
Uma iconografia viva da tradição milenar indiana.
SAMWAAD - RUA DO ENCONTRO.
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro
Ramos, 915, São Paulo, tel. 0/xx/11/
6602-3700). Quando: estréia hoje, às
21h; de qua. a dom., às 21h; até 27 de
junho. Quanto: de R$ 7 a R$ 20.
Patrocinador: Petrobras.
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