|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Líder da banda que virou fenômeno pela internet diz à Folha que tem "uma coisa" com o Brasil
Primeiro álbum dos garotos ingleses será lançado pela Trama no início de abril
Arctic Monkeys
LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (EUA)
Os 363.735 britânicos que compraram o disco deles na primeira
semana de lançamento não podem estar errados. David Bowie,
Mick Jagger e Noel Gallagher, fãs
declarados deles, não podem estar errados. O festival South by
Southwest, com 1.400 bandas e 65
bares, reservar um galpão gigante
para o show deles não podia estar
errado. A banda inglesa Arctic Monkeys, no quesito "música que
importa hoje", é mesmo a tal.
"Ei, Alex. Seu disco vai ser lançado no Brasil e eu queria falar
um pouco sobre ele. Podemos
conversar amanhã?", disse a reportagem da Folha a Alex Turner,
20, o líder do grupo que é fenômeno da internet, chacoalhou a parada de álbuns do Reino Unido, está
no meio de uma turnê nos EUA
(13 shows esgotados) e, naquele
momento, aproveitava a fama indie bebendo com companheiros
de bandas no pequeno bar Eternal, que só pode vender bebidas
para maiores de 21.
"Eu não sei o que vão me dizer
para fazer amanhã. Sei que tenho
alguns programas de rádio, uma
TV e um jornal americano para
atender. Você vai ao show amanhã. Consegue chegar mais cedo
lá?", falou Alex Turner, que acabou de sair da adolescência, mas
carrega no rosto tantas espinhas
que parece estar no auge dela.
"Você é do Brasil?", indagou
Turner. "Eu tenho uma coisa com
o Brasil. Sonho algumas vezes que
eu estou no país. Como é o rock
lá? Adoraria ir para o Brasil."
O papo continuou e Turner falou do zunzum todo que cerca o
Arctic Monkeys, os shows nos
EUA e a vida de novo rock star.
"Os shows aqui na América têm
sido intensos. O bom é que nunca
sabemos o que vamos encontrar.
Tem lugares que já nos adoram
sem nunca ter nos ouvido. Tem
lugares que já não gostam da gente de cara, por causa da falação
por causa do lançamento do nosso disco na Inglaterra e das vendagens. Eu não ligo e só me divirto.
Tudo é novo para nós", afirmou.
O primeiro CD do Arctic Monkeys, "Whatever People Say I Am,
That's What I Am Not", será lançado no Brasil pela Trama no começo de abril. Quando saiu na Inglaterra, no fim de janeiro, bateu o
recorde de "o disco de estréia que
mais vendeu na primeira semana
na história da música inglesa".
Fora do Reino Unido, segue causando estragos. Bateu no 24º lugar
nas paradas americanas: é o mais
alto posto alcançado por uma
banda indie de guitarras desde
que a "Billboard" existe.
Na Inglaterra, a "monkemania"
move a garotada. Considerado
poeta da nova geração, junto do
problemático Pete Doherty, Turner canta o dia-a-dia de um moleque inglês. Mas mistura nas letras
a azaração de uma menina bonita
numa pista de dança a citações a
Shakespeare, como em "I Bet You
Look Good on the Dancefloor". A
música é o primeiro single oficial
da banda, que também bateu no
primeiro da parada britânica.
"A música 'Dancefloor" não é
sobre nenhuma menina em particular. É sobre milhares de garotas
que já me puseram nessa situação
de olharem para mim num clube
ou bar, eu ficar interessado, mas
depois dizerem que eu imaginei
que elas estavam olhando", afirmou Turner, sobre o tal primeiro
single que, quando chegou às lojas, o Arctic Monkeys já era conhecidíssimo por freqüentadores
da internet e já abarrotava seus
shows pela Inglaterra.
Hoje em dia, por causa do Arctic Monkeys, isso com as meninas
não deve estar acontecendo muito mais, não? "Agora não muito",
disse, sorrindo, enquanto tentava
dar alguma atenção à performance da banda Dirty Little Things,
que é o Libertines de nome novo,
no Eternal. O Arctic Monkeys, de
Turner, só tocaria no dia seguinte.
"O Libertines foi a principal
banda da Inglaterra dos últimos
anos. Minha predileta, depois de
Oasis", disse o líder do Arctic
Monkeys, que confirmou ter desenvolvido sua guitarra tocando
músicas de Libertines e Strokes.
Porta-voz dos teens ingleses (como o primeiro) e fenômeno de internet (como o segundo), o Arctic
Monkeys parece ser um produto
mais bem acabado do melhor de
Libertines e Strokes. Mas com
uma performance ao vivo bem
mais empolgante.
A banda lembra inclusive o Oasis quando apareceu, num paralelo ao resgate do orgulho britânico
que os Gallagher ajudaram a causar, nos anos 90, época de domínio da estética grunge americana.
Com influência até na moda
street da periferia das cidades inglesas, o Arctic Monkeys provocou uma onda de procura por camisetas pólo britânicas, tal qual os
meninos da banda usam, indicando um esgotamento do estilo
"chav", que com calças de agasalhos Nike e camisetas folgadas,
imitava os rappers dos EUA.
O Arctic Monkeys não tem encantado só os mais novos. O jornalista pop, radialista e escritor
britânico Andrew Collins escreveu na adulta revista "Word" que
a banda de Turner mudou sua vida e é a melhor coisa que ele vê na
música desde os Smiths.
No show no South by Southwest
dava para desenhar um quadro
do que é esse Alex Turner. Ele carrega a animosidade de Liam Gallagher, o olhar perdido de Kurt
Cobain e às vezes o deboche de
Johnny Rotten.
"Quando o disco sai no Brasil?
Abril? Aparece no show amanhã,
para conversarmos mais", disse
Turner. Apareci. Antes e depois
do show, mas não havia a menor
condição de chegar perto deles.
Texto Anterior: Programação Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|