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CINEMA/CRÍTICA
Em "O Plano Perfeito", diretor americano monta trama com diálogos bem construídos e falsas pistas
Spike Lee subverte as convenções do policial
Keith Bedford - 20.mar.2006/Reuters
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O diretor Spike Lee, com sua mulher, Tonya (ao fundo), durante première de "O Plano Perfeito" |
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Poderia ser um "thriller"
vulgar, desses que se vê a toda
hora, com um assalto a banco, tomada de reféns e um negociador
empenhado em, na base da palavra, engambelar os criminosos.
Mas essas são só aparências em
"O Plano Perfeito". Antes mesmo
de a ação começar somos introduzidos a um mundo de fácil comunicação: walkie-talkies, celulares, câmeras. Um mundo de comunicação e controle. Estamos
em um filme de Spike Lee. Cada
plano parece anunciar um filme
que fala de Nova York.
Depois existe o assalto propriamente dito. Será preciso esperar
para que o filme se desvie da convenção. Logo, estaremos às voltas
com um assalto tramado com
muita imaginação, onde não haverá a tradicional violência nem
roubo propriamente dito. O que
Clive Owen, o líder dos bandidos,
quer roubar é um segredo.
Do outro lado está Denzel Washington, o detetive. Bom de conversa, como é de esperar. Ele tem
humor. Seu rival, também. Os
diálogos são inteligentes como raramente se vê hoje no cinema.
Temos ainda Jodie Foster. Como defini-la? Lobista? Costumam
contratá-la na hora da encrenca. É
o que faz Christopher Plummer, o
dono do banco, homem famoso
por suas obras de benemerência.
O banqueiro pouco se lixa que
lhe roubem o banco e levem todo
o dinheiro guardado. Seu problema é que na agência está o fétido
segredo de seu sucesso na vida,
que remonta à Segunda Guerra
Mundial. Isso que ninguém pode
descobrir está numa gaveta.
Aos poucos, começam a aparecer os reféns e mais alguns outros
comparsas: há negros, sikhs, rabinos, armênios. São notações com
as quais Spike mostra uma cidade
multicultural, que convive asperamente com as diferenças e as recalca com um vocabulário bom-rapaz (negro é afro-americano,
chicano é latino etc.).
Nesse meio tempo ocorre o
duelo intelectual entre o bandido,
Owen, e o policial, Washington.
Ao longo dele vão se quebrando
as convenções do gênero. Os assaltantes não matam reféns, detectam a escuta dos tiras e, pior,
conseguem grampeá-los. Tudo isso cria, porém, a idéia de um filme
em que um criminoso enfrenta o
tira comum e esforçado. É outra
falsa pista que o filme nos lança.
Na verdade é Clive Owen quem
conduz o espetáculo. Ele sabe que
esse mundo da comunicação fácil
é um mundo de aparências. Que
os criminosos verdadeiros talvez
sejam esses que falam em honra.
Há muito tempo um filme policial não se mostrava digno das
tradições do cinema americano.
Da inteligência do roteiro à da
realização, "Plano Perfeito" nos
envolve não pela evasão que propicia, mas pela oportunidade de
reflexão sobre a natureza de uma
sociedade que engaiola os ladrões
de galinha e cobre de medalhas alguns grandes criminosos.
O Plano Perfeito
Inside Man
Produção: EUA, 2006
Direção: Spike Lee
Com: Denzel Washington, Clive Owen
Quando: a partir de hoje nos cines Frei
Caneca, Pátio Higienópolis e circuito
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