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Crítica/cinema/"Delírios"
Comédia satiriza mundo das celebridades
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Foi com o personagem
romano Paparazzo
(Walter Santesso), de
"A Doce Vida" (1960), de Federico Fellini, que os fotógrafos
de celebridades ganharam apelido -no plural, em italiano, se
tornaram os "paparazzi"- e visibilidade para o grande público como os chatos profissionais
de que todos precisam, inclusive as próprias celebridades.
Com Les Galantine, o mambembe paparazzo nova-iorquino que Steve Buscemi interpreta em "Delírios" (2006), a atividade se torna caricatural, quase
sem nenhum resíduo de glamour. Embora se aproxime circunstancialmente de ricos e famosos, ele é um pé-rapado que
envergonha os pais e mal consegue sobreviver do próprio
trabalho.
Há algo nessa figura melancólica, entretanto, que pode
despertar simpatia, além da
eventual solidariedade com os
desajustados: ele se dedica à caça de fotografias vendáveis com
o esmero quase religioso de
quem considera o que faz uma
arte ao alcance somente de
poucos e bons, os "escolhidos".
Para que o espectador se
aproxime dessa figura e de seu
universo com um olhar de descoberta, o filme cria um personagem com o qual se identificar
mais facilmente: um jovem
(Michael Pitt, de "Os Sonhadores") que, ainda mais sem eira
nem beira do que Galantine, se
oferece para ajudá-lo em troca
de cama (na verdade, um armário) e comida.
Como em "Johnny Suede"
(1991), "Vivendo no Abandono"
(1995) -também estrelado por
Buscemi- e "Uma Loira de
Verdade" (1997), longas anteriores do diretor e roteirista independente Tom DiCillo, o filme se dedica àqueles que circulam nas bordas do show business, anônimos e sempre à espera de um bafo da sorte que
talvez jamais venha.
Em "Delírios", o humor se
alimenta, na maior parte do
tempo, de ironias lançadas contra as celebridades instantâneas do mundo contemporâneo -sintetizadas em uma jovem e solitária estrela da música (Alison Lohman)- e, por tabela, todos os que gravitam em
torno delas, público incluído.
À medida que a história caminha, no entanto, o tom de comédia cede espaço ao drama
romântico e tudo o que até então era satirizado passa a ser
visto de maneira mais integrada. Por fim, como se o olhar de
Galantine se tornasse ingênuo
e contaminasse o próprio filme,
o mundo das celebridades adquire o glamour que até então
se procurava desfazer.
DELÍRIOS
Produção: EUA, 2006
Direção: Tom DiCillo
Com: Steve Buscemi, Michael Pitt e Alison Lohman
Onde: Cine Bombril 2 e Frei Caneca Unibanco Arteplex 5
Avaliação: regular
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