|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
João Sayad se diz "feliz" por não trabalhar com secretaria da Educação
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem estava na plateia
do debate ocorrido no Sesc Belenzinho, a sensação era de que
os tradutores tinham dado algum tropeço. Mas não. O ruído
não era de linguagem. E sim de
visões culturais.
Após o discurso do diretor regional do Sesc, Danilo Santos
de Miranda, que traçou uma linha histórica do trabalho da
instituição, que busca atar esporte e cultura, o secretário de
Estado da Cultura, João Sayad,
desfez esse laço.
"Na secretaria de Cultura
nosso foco são as artes. Não estamos preocupados com educação, que é um sistema congestionado, complicado. Estamos felizes pelo fato de estarmos separados dele", afirmou,
fazendo alguns dos presentes
se remexerem nas cadeiras.
"Também não queremos fazer turismo. Somos pressionados para atrair o turismo, mas
nosso foco é a arte. Também
não estamos preocupados nem
com economia nem com emprego. Nossa preocupação é
com o que não está na moda,
com o que não chega às pessoas. Nos interessa tanto a Pinacoteca quanto o hip-hop."
Ao suceder o colega ao microfone, o secretário municipal
de Cultura, Carlos Augusto Calil, não pôde deixar de referir-se
à fala de Sayad. Ao tentar explicá-la, acabou por reforçá-la.
"A baixa institucionalização
é um grande problema na administração pública brasileira.
O João [Sayad] talvez tenha sido um pouco melancólico, mas
tem razão. É praticamente impossível fazer qualquer coisa
com a educação. Simplesmente, não conseguimos", queixou-se Calil que, como Sayad, é professor da USP.
Não sem uma ponta de ironia, o secretário municipal
também jogou um balde de
água fria sobre as ações culturais "do bem". "Não adianta
criar orquestras com jovens
que não querem tocar música",
disse, provocando risos na plateia. "A cultura não vai tratar
das mazelas sociais, do crime.
Essas ações são, muitas vezes,
uma maneira de compensar a
má consciência, mas sempre
com dinheiro público, é claro."
O papel do Estado foi outro
tema central do debate. Sayad
fez a defesa do modelo de Organizações Sociais, que entrega a
entidades privadas a administração de instituições públicas.
Calil, por sua vez, voltou a chamar as leis de incentivo de
"abano com chapéu alheio".
(APS)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|