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TEATRO
"A Peça sobre o Bebê" tem Reynaldo Gianecchini e Marília Gabriela
Famosos embaralham mais a trama de Albee
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu não sou atriz; é bom que
vocês saibam logo disso; não que
vocês tenham acreditado mesmo
que eu fosse. Tudo bem, eu sou
meio teatral... Também não pensem que eu sou da imprensa", diz,
entre risinhos, a Mulher interpretada por Marília Gabriela, 54.
Numa outra passagem, a mesma se orgulha do caso que viveu
com um jovem tenista de "bíceps
maravilhosos". "O que mais eu
poderia querer? Tênis todos os
dias e tesão todas as noites", consola-se a Mulher para o Rapaz,
papel defendido por Reynaldo Gianecchini, 30.
Se as fichas do real e do imaginário são intencionalmente embaralhadas no penúltimo texto do dramaturgo norte-americano Edward Albee, a produção brasileira de "A Peça sobre o Bebê" ("The Play about the Baby", 1998) amplia o desafio de apreensão do jogo teatral pelo espectador.
"Vão pensar que eu coloquei cacos", brinca Marília Gabriela, sobre a possível introdução de palavras suas nas falas escritas pelo
autor. A apresentadora de TV e atriz bissexta volta ao palco depois da estréia profissional em "Esperando Beckett" (2000), dirigida por Gerald Thomas.
"A presença de Marília proporciona um plano curiosíssimo",
diz o diretor Aderbal Freire-Filho,
61, entusiasmado em contar com
"personalidades públicas" numa
peça que questiona a realidade o
tempo todo. Marília Gabriela e
Reynaldo Gianecchini são casados na vida como ela é.
Albee desmonta as ilusões de um jovem casal, o Rapaz (Gianecchini) e a Moça (Simone Spoladore), persuadidos por um casal mais velho, a Mulher (Gabriela) e
o Homem (Fulvio Stefanini).
A história começa com o nascimento de um bebê. Em tom realista, o Rapaz e a Moça estão eufóricos, embalam o futuro com a
chegada do primeiro filho.
Logo, involuntariamente, dividem o teto com o Homem e a Mulher. Estes surgem do nada, em tom épico, não raras vezes dirigindo-se à platéia. Pregam contra
fruto do amor, milagre da vida
etc. Desbancam o "cheiro de juventude". Para eles, tudo ali é falso, das paredes ao bebê, um mero cobertor enrolado.
O poder de convencimento, por um lado, e a diluição das resistências, por outro, são os principais caminhos do enredo.
"É sensacional brincar com esses teatros, o realista e o épico. É
como se uma peça tivesse a quarta parede, a outra não. A associação
que Albee faz entre forma e conteúdo é brilhante, mistura fundamental para o drama contemporâneo", diz Freire-Filho.
O bebê em xeque remete a um
clássico de Albee, "Quem Tem
Medo de Virginia Woolf?" (1961),
que trazia o dilema da existência,
ou não, de um bebê.
"No texto atual, o bebê simboliza o sonho da vida é bela para o
casal mais novo, sem origem, profissão ou nome. Mas a "lavagem
cerebral" feita pelo casal mais velho acaba com esse mar de rosas",
diz Stefanini, 47 anos de carreira.
Ele interpreta o Homem, "mestre
do espetáculo que arma com a
Mulher".
(VS)
A PEÇA SOBRE O BEBÊ - texto: Edward Albee. Tradução: Armânio Gomes.
Direção: Aderbal Freire-Filho. Quando:
estréia hoje, às 21h; de qui. a sáb., às 21h;
dom., às 18h. Onde: Teatro das Artes
-°shopping Eldorado (av. Rebouças,
3.970, SP, tel. 0/xx/11/3034-0075).
Quanto: R$ 50. Patrocinadores: Embratel
e Visa.
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