UOL


São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO

"A Peça sobre o Bebê" tem Reynaldo Gianecchini e Marília Gabriela

Famosos embaralham mais a trama de Albee

DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu não sou atriz; é bom que vocês saibam logo disso; não que vocês tenham acreditado mesmo que eu fosse. Tudo bem, eu sou meio teatral... Também não pensem que eu sou da imprensa", diz, entre risinhos, a Mulher interpretada por Marília Gabriela, 54.
Numa outra passagem, a mesma se orgulha do caso que viveu com um jovem tenista de "bíceps maravilhosos". "O que mais eu poderia querer? Tênis todos os dias e tesão todas as noites", consola-se a Mulher para o Rapaz, papel defendido por Reynaldo Gianecchini, 30.
Se as fichas do real e do imaginário são intencionalmente embaralhadas no penúltimo texto do dramaturgo norte-americano Edward Albee, a produção brasileira de "A Peça sobre o Bebê" ("The Play about the Baby", 1998) amplia o desafio de apreensão do jogo teatral pelo espectador.
"Vão pensar que eu coloquei cacos", brinca Marília Gabriela, sobre a possível introdução de palavras suas nas falas escritas pelo autor. A apresentadora de TV e atriz bissexta volta ao palco depois da estréia profissional em "Esperando Beckett" (2000), dirigida por Gerald Thomas.
"A presença de Marília proporciona um plano curiosíssimo", diz o diretor Aderbal Freire-Filho, 61, entusiasmado em contar com "personalidades públicas" numa peça que questiona a realidade o tempo todo. Marília Gabriela e Reynaldo Gianecchini são casados na vida como ela é.
Albee desmonta as ilusões de um jovem casal, o Rapaz (Gianecchini) e a Moça (Simone Spoladore), persuadidos por um casal mais velho, a Mulher (Gabriela) e o Homem (Fulvio Stefanini).
A história começa com o nascimento de um bebê. Em tom realista, o Rapaz e a Moça estão eufóricos, embalam o futuro com a chegada do primeiro filho.
Logo, involuntariamente, dividem o teto com o Homem e a Mulher. Estes surgem do nada, em tom épico, não raras vezes dirigindo-se à platéia. Pregam contra fruto do amor, milagre da vida etc. Desbancam o "cheiro de juventude". Para eles, tudo ali é falso, das paredes ao bebê, um mero cobertor enrolado.
O poder de convencimento, por um lado, e a diluição das resistências, por outro, são os principais caminhos do enredo.
"É sensacional brincar com esses teatros, o realista e o épico. É como se uma peça tivesse a quarta parede, a outra não. A associação que Albee faz entre forma e conteúdo é brilhante, mistura fundamental para o drama contemporâneo", diz Freire-Filho.
O bebê em xeque remete a um clássico de Albee, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1961), que trazia o dilema da existência, ou não, de um bebê.
"No texto atual, o bebê simboliza o sonho da vida é bela para o casal mais novo, sem origem, profissão ou nome. Mas a "lavagem cerebral" feita pelo casal mais velho acaba com esse mar de rosas", diz Stefanini, 47 anos de carreira. Ele interpreta o Homem, "mestre do espetáculo que arma com a Mulher". (VS)


A PEÇA SOBRE O BEBÊ - texto: Edward Albee. Tradução: Armânio Gomes. Direção: Aderbal Freire-Filho. Quando: estréia hoje, às 21h; de qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h. Onde: Teatro das Artes -°shopping Eldorado (av. Rebouças, 3.970, SP, tel. 0/xx/11/3034-0075). Quanto: R$ 50. Patrocinadores: Embratel e Visa.


Texto Anterior: "Piratas do Tietê - O Filme": Montagem leva ao palco a fluidez dos quadrinhos
Próximo Texto: Saiba mais: Dramas familiares são constantes na obra do autor
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.