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Parlapatões mostram criação inédita
Grupo adapta romance de Walter Campos de Carvalho, "Vaca de Nariz Sutil", que estréia neste sábado, na pça. Roosevelt
Escolada em sarcasmo, companhia envereda pelo lirismo, buscando "a química do veneno com o perfume", segundo o ator Hugo Possolo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um ano e meio de espaço
próprio na praça Roosevelt, região central de São Paulo, o grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões revolveu o repertório e
abriu a casa aos pares e afins.
Chegou a hora de mostrar
uma criação inédita. E o grupo
o faz com o desafio de adaptar
ao palco o romance "Vaca de
Nariz Sutil", do mineiro Walter
Campos de Carvalho (1916-98).
O livro esbanja nonsense e lirismo, aos quais o grupo deseja
conjugar o estilo de humor que
forjou ao longo de 17 anos de
rua, palco e picadeiro. O espetáculo estréia no sábado, na Virada Cultural, e segue temporada.
Trata-se do mesmo autor de
"O Púcaro Búlgaro" (2006), o
premiado "romance-em-cena"
que Aderbal Freire-Filho dirigiu com o Centro de Demolição
e Construção do Espetáculo.
O ator e diretor Hugo Possolo, 45, filia o novo trabalho a peças anteriores em que os Parlapatões tornaram mais complexo o matiz da comédia.
"Espetáculos como "Não Escrevi Isso", "Prego na Testa" e
"As Nuvens" eram risíveis e, ao
mesmo tempo, angustiantes",
diz Possolo. Ao conhecido veneno do sarcasmo, da provocação, a meta agora é acrescentar
um lirismo que também cabe
ao humor explorar. "A química
do veneno com o perfume", como quer o diretor que adaptou
"Vaca de Nariz Sutil" (1961).
A sutileza que o título prenuncia reveza passagens sufocantes -viés psicológico que a
adaptação procurou desbastar.
Faz do narrador o alter ego do
escritor, tratando-o por Campos, um ex-combatente aposentado por invalidez. É o herói
que retorna sem louros, deambula pelas vielas e bares.
Campos, o personagem, tem
como principal interlocutor o
surdo Aristides, com quem divide um quarto de pensão. Aos
poucos, ele é enredado por outros tipos, como o zelador do
cemitério e a sua filha menor
(com quem ele tem um caso)
-e coloca as autoridades em
polvorosa.
A falsa moral e a hipocrisia de
madames, delegados e juízes
são alvos diletos de uma história que divisa esquizofrenia e
razão no protagonista. "A aventura humana não é mais a guerra, o problema do cara que volta
louco. É muito mais a guerra
que se vive no dia-a-dia, e como
ela nos fragmenta", diz Possolo.
Para tantas camadas de ação,
tempo e espaço, o ator Henrique Stroeter, 44, escalado para
o papel do narrador-escritor,
propõe embarcar sem freios, a
saber: "Para viajar com o Campos, não podemos criar obstáculos classificando-o de esquizofrênico, pedófilo. Precisamos
entrar no trem-fantasma e seguir juntos. Se o intérprete ou o
público apenas vir a composição passar, perdemos o jogo".
"Parlapatão" há dez anos,
Stroeter contracena com outros dois integrantes, Raul Barreto e Claudinei Brandão, além
de quatro atores convidados.
VACA DE NARIZ SUTIL
Onde: Espaço Parlapatões (pça. Franklin Roosevelt, 158, tel. 0/xx/11/3258-4449)
Quando: estréia sábado, às 21h; sex. e
sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 1º/6
Quanto: R$ 20 (grátis no sábado, como parte da Virada Cultural)
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