São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

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Parlapatões mostram criação inédita

Grupo adapta romance de Walter Campos de Carvalho, "Vaca de Nariz Sutil", que estréia neste sábado, na pça. Roosevelt

Escolada em sarcasmo, companhia envereda pelo lirismo, buscando "a química do veneno com o perfume", segundo o ator Hugo Possolo

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um ano e meio de espaço próprio na praça Roosevelt, região central de São Paulo, o grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões revolveu o repertório e abriu a casa aos pares e afins.
Chegou a hora de mostrar uma criação inédita. E o grupo o faz com o desafio de adaptar ao palco o romance "Vaca de Nariz Sutil", do mineiro Walter Campos de Carvalho (1916-98).
O livro esbanja nonsense e lirismo, aos quais o grupo deseja conjugar o estilo de humor que forjou ao longo de 17 anos de rua, palco e picadeiro. O espetáculo estréia no sábado, na Virada Cultural, e segue temporada. Trata-se do mesmo autor de "O Púcaro Búlgaro" (2006), o premiado "romance-em-cena" que Aderbal Freire-Filho dirigiu com o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo.
O ator e diretor Hugo Possolo, 45, filia o novo trabalho a peças anteriores em que os Parlapatões tornaram mais complexo o matiz da comédia.
"Espetáculos como "Não Escrevi Isso", "Prego na Testa" e "As Nuvens" eram risíveis e, ao mesmo tempo, angustiantes", diz Possolo. Ao conhecido veneno do sarcasmo, da provocação, a meta agora é acrescentar um lirismo que também cabe ao humor explorar. "A química do veneno com o perfume", como quer o diretor que adaptou "Vaca de Nariz Sutil" (1961).
A sutileza que o título prenuncia reveza passagens sufocantes -viés psicológico que a adaptação procurou desbastar.
Faz do narrador o alter ego do escritor, tratando-o por Campos, um ex-combatente aposentado por invalidez. É o herói que retorna sem louros, deambula pelas vielas e bares. Campos, o personagem, tem como principal interlocutor o surdo Aristides, com quem divide um quarto de pensão. Aos poucos, ele é enredado por outros tipos, como o zelador do cemitério e a sua filha menor (com quem ele tem um caso) -e coloca as autoridades em polvorosa.
A falsa moral e a hipocrisia de madames, delegados e juízes são alvos diletos de uma história que divisa esquizofrenia e razão no protagonista. "A aventura humana não é mais a guerra, o problema do cara que volta louco. É muito mais a guerra que se vive no dia-a-dia, e como ela nos fragmenta", diz Possolo.
Para tantas camadas de ação, tempo e espaço, o ator Henrique Stroeter, 44, escalado para o papel do narrador-escritor, propõe embarcar sem freios, a saber: "Para viajar com o Campos, não podemos criar obstáculos classificando-o de esquizofrênico, pedófilo. Precisamos entrar no trem-fantasma e seguir juntos. Se o intérprete ou o público apenas vir a composição passar, perdemos o jogo".
"Parlapatão" há dez anos, Stroeter contracena com outros dois integrantes, Raul Barreto e Claudinei Brandão, além de quatro atores convidados.


VACA DE NARIZ SUTIL
Onde:
Espaço Parlapatões (pça. Franklin Roosevelt, 158, tel. 0/xx/11/3258-4449)
Quando: estréia sábado, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 1º/6
Quanto: R$ 20 (grátis no sábado, como parte da Virada Cultural)


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